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Censos 2021: menos população e litoralização do país cada vez mais acentuada

A especialista em geografia humana Fernanda Cravidão disse que os dados preliminares dos Censos 2021 revelam que “o interior vem cada vez mais até ao litoral” e considerou que o despovoamento não será resolvido apenas com a imigração. Artigo do Interior do Avesso
Censos 2021 - infografia do INE
Censos 2021 - infografia do INE

Conforme divulgou o Instituto Nacional de Estatística (INE), a população portuguesa diminuiu 2% nos últimos dez anos, um saldo negativo que, segundo notícia da Lusa, já não se verificava desde os censos de 1970.

Dados que não surpreendem quem “lida com alguma frequência com a demografia”, admitiu esta quarta-feira à Lusa Fernanda Cravidão, geógrafa e professora catedrática jubilada da Universidade de Coimbra, que destacou ainda que nesta última década também as regiões autónomas perderam população.

Por outro lado, analisa Fernanda Cravidão, o mapa da população residente em Portugal divulgado pelo INE com base nos Censos 2021 “mostra que o interior vem cada vez mais até ao litoral”.

Explicou que mesmo havendo uma predominância de saldos demográficos positivos nos concelhos do litoral, “essa variação” é em grande parte “mais ténue” do que nos censos de 2011. As exceções resultam de fenómenos localizados e não de crescimentos homogéneos.

Exemplifica com o caso de Odemira, o concelho do país que mais aumentou a população nestes dez anos (+13,3%), onde o crescimento parece resultar do aumento de residentes na freguesia de São Teotónio (+35%), onde se localizam explorações agrícolas que empregam imigrantes.

Pobreza, primeira causa da diminuição da população

A geógrafa apontou como primeira causa para a diminuição da população, bem como para a sua distribuição no país, a “questão estrutural” da “pobreza numa parte significativa do território”.

“É uma questão estrutural há muitos anos, se não, não se emigrava desde sempre”, afirmou a especialista à Lusa, para quem esta pobreza também afeta a população por limitar a capacidade de atrair imigrantes, situação de resto agravada pela pandemia.

Fernanda Cravidão enumerou ainda outras razões à Lusa, como a “forte emigração de gente nova”, aquando da crise de 2013 e 2014, o que tem também consequências na taxa de fecundidade.

Apesar de esta situação também se verificar noutros países da Europa, a especialista alerta para que nos países e nas regiões onde as economias são “mais frágeis”, a questão é “mais difícil de resolver”.

Para Fernanda Cravidão, “a ausência de um modelo de desenvolvimento concorreu muito” para este resultado e “a agenda política tem de olhar para isto de outro modo”.

Acrescentou que “não bastam as políticas de natalidade” e alertou que “mesmo depois de ultrapassada a questão sanitária” da covid-19, “só a imigração não irá resolver esta questão”.

Neste sentido aponta como motivo para a evolução demográfica “a progressiva desmontagem do caminho de ferro” que antes atravessava o país.

Artigo publicado em Interior do Avesso

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