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Católicos portugueses exigem investigação independente sobre os abusos sexuais na Igreja

Mais de duas centenas de católicos enviaram uma carta à Conferência Episcopal Portuguesa defendendo “uma investigação nacional rigorosa, abrangente e verdadeiramente independente”. Alice Vieira, José Manuel Pureza e Jorge Wemans estão entre os subscritores.
José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa - Foto de NH DR | Facebook "Na Hora"

Numa carta enviada à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), citada pela Lusa, mais de duas centenas de signatários defendem “uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja”.

O documento, assinado por personalidades como a escritora Alice Vieira, o deputado José Manuel Pureza, o jornalista Jorge Wemans ou o ex-presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, refere que “se queremos manter um diálogo com a sociedade a que pertencemos e que servimos, não existe alternativa!”.

A carta, que também foi enviada ao Núncio Apostólico em Portugal, afirma que “tem sido como enorme angústia e embaraço que assistimos nas últimas semanas a um surto de artigos de opinião publicados na imprensa de referência sobre os crimes de abuso sexual pelo clero católico e a incapacidade de a Igreja os prevenir. Sem exceção, esses artigos veiculam posições muito críticas sobre as origens do fenómeno e uma apreciação severa à quietude ou ambiguidade a que a hierarquia portuguesa se remeteu a este respeito”.

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Os mais de 240 subscritores antecipam “a resposta ao pressuposto antecipado da existência da vítimas no contexto da realidade portuguesa: quase não há casos participados”, mas defendem que “tal não pode seriamente ser considerado como argumento porque está hoje consolidada e consensualizada a consciência de que este tipo de atuação, observado na Igreja Católica em todas as latitudes a ambientes culturais, é sistémico e diretamente relacionado com o exercício do poder no seu interior e, noutro plano, com as manobras de encobrimento passivo ou ativo”.

“Só a verdade nos permite um relacionamento livre e transparente com aqueles a quem a nossa fé nos convida a servir. Por isso, acreditamos que só uma investigação profunda e independente pode confirmar essa eventual excecionalidade da Igreja em Portugal. Se essa iniciativa não for tomada, receamos que a inação da CEP seja vista pela sociedade portuguesa como encobrimento”, salientam.

Assim, os subscritores apelam de forma “veemente à CEP que se alinhe com as orientações do Papa Francisco e tome, com caráter de urgência, a decisão de lançar uma investigação nacional rigorosa, abrangente e verdadeiramente independente, com o arco temporal de 50 anos, a cargo de uma comissão de peritos constituída exclusivamente por leigos católicos, por não crentes, por profissionais das ciências sociais e da justiça, cuja autonomia e independência, sejam absolutamente inquestionáveis, ainda que possa, eventualmente, ser assessorada por algum elemento do clero”.

O secretário da CEP, padre Manuel Barbosa, já tinha admitido a 12 de outubro, que a Igreja Católica portuguesa iria avançar a constituição de uma comissão nacional de coordenação das comissões diocesanas de proteção de menores e adultos vulneráveis. O objetivo desta comissão será definir critérios e procedimentos comuns às 21 comissões diocesanas, bem como prestar-lhes apoio, nomeadamente na gestão de informação.

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