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Catarina Martins lembra Comissão Europeia que “Portugal não é uma colónia”

Sublinhando que “não há dia nenhum em que não venha uma qualquer instituição europeia, que nenhum de nós elegeu, dizer que caminho devemos seguir”, a porta voz do Bloco defendeu que é preciso “recusar a chantagem”.

"Pedro Passos Coelho resolveu fazer hoje uma intervenção pública sobre os seis meses de governo [apoiado pela maioria de esquerda PS/Bloco/PCP]. Que bom que Pedro Passos Coelho tenha vindo lembrar toda a gente porque foi tão importante que o Bloco desses passos para uma maioria parlamentar que tirasse PSD e CDS do governo", afirmou Catarina Martins durante um jantar/comício que teve lugar esta quarta-feira em Setúbal.

"Passos Coelho resolveu dizer que Portugal tinha um problema, porque tem um governo que capitula, mas eu diria que há hoje uma maioria no país para sustentar uma política que possa recuperar, o que é o absoluto contrário de capitular", acrescentou.

A porta voz do Bloco lembrou o muito que já se fez, nomeadamente no que respeita à recuperação de rendimentos, à eliminação dos cortes da Função Pública, à reposição dos feriados e à defesa da Escola Pública e do Serviço Nacional de Saúde, sublinhando, contudo, que ainda há muito por fazer.

Fazendo referência às baixas pensões e à elevada taxa de desemprego, a deputada bloquista destacou que “não podemos deixar ninguém para trás” e que o Bloco mantém a “exigência de dizer que é preciso mais”.

“O Bloco não dará nenhuma oportunidade à direita para destruir tudo o que já conseguimos mas nunca deixará a exigência necessária para que a recuperação de rendimentos chegue efetivamente a todas as pessoas”, garantiu.

Segundo Catarina Martins, “a direita que decidiu que este país é inviável é a direita que serve aquela burguesia que espatifou todos os recursos e que, para isso, vendeu o país ao estrangeiro”.

Lembrando que “não há dia nenhum em que não venha uma qualquer instituição europeia, que nenhum de nós elegeu, dizer que caminho devemos seguir”, a porta voz do Bloco defendeu que é preciso “recusar a chantagem”.

“Portugal não é uma colónia, é um Estado de direito democrático, é um país com dignidade”, vincou.

A Comissão Europeia, que durante as eleições vinha dizendo que a direita [portuguesa] era tão boa aluna, que estava a fazer tudo tão bem, agora vem dizer que Portugal tem de ser sancionado pelos resultados, porque o governo é outro"

"Chegámos agora ao maior absurdo que é ter um debate nas instituições europeias sobre se Portugal deve ter sanções. A Comissão Europeia, que durante as eleições vinha dizendo que a direita [portuguesa] era tão boa aluna, que estava a fazer tudo tão bem, agora vem dizer que Portugal tem de ser sancionado pelos resultados, porque o governo é outro", afirmou Catarina Martins.

"Para lá de ser uma chantagem intolerável, é o descrédito total das instituições europeias", acrescentou a deputada, salientando que “o que a Comissão Europeia quer sancionar agora são os resultados do ano passado, ou seja, é a política do anterior governo”.

A dirigente bloquista destacou que esta atitude pode não ter sentido “mas tem um propósito: evitar que surjam caminhos diferentes”, e que as instituições europeias estão preocupadas com a mudança em Portugal e com a aproximação das eleições espanholas.

Catarina Martins referiu-se ainda às declarações do ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble, que mostrou-se indignado mediante o adiamento da aplicação de sanções a Portugal.

A deputada lembrou que a Alemanha não cumpre critérios dos tratados europeus e que Schäuble visa “atiçar os mercados” para desestabilizar Portugal e pôr em causa recuperação de rendimentos.

“Não aceitamos um capataz imponha aos governos o que foi recusado pelos povos”

Segundo Joana Mortágua, a direita portuguesa está entusiasmada “com os ventos que sopram do Brasil e está à espera que a Europa venha impor em Portugal as políticas que os portugueses e as portuguesas chumbaram nas urnas” (ler artigo: “Direita aplaude vigorosamente o golpe no Brasil”).

“É essa direita que aplaude quando a Moody's, que representa os mercados financeiros, vem dizer que não está preocupada com potenciais desvios à política única da austeridade porque há aqui um capataz da nossa economia que se chama Bruxelas, e que está pronto a castigar quem corresponder aos direitos de quem aqui vive e trabalha e de quem quer aqui viver”, afirmou a deputada.

“Não aceitamos que exista um capataz que queira impor aos governos o que foi recusado pelos seus povos” e que “o Banco Central Europeu venha dizer que as 35 horas na Função Pública não é uma boa ideia”, avançou Joana Mortágua.

Lembrando que “os custos anunciados do investimento no Serviço Nacional de Saúde para a reposição das 35 horas não são maiores do que o desperdício que nós andámos a pagar aos colégios privados em rendas onde havia oferta pública”, a dirigente do Bloco sublinhou que “o BCE e a troika nunca se indignaram com este desperdício”.

“Tanto o BCE como a direita portuguesa não querem as 35 horas na Função Pública não por causa dos seus custos, mas porque sabem que a redução do horário é a forma mais justa de repartir o trabalho, e que quando o horário é menor há mais trabalho e, se há mais trabalho, há mais emprego e, se há mais emprego, é mais difícil chantagear os trabalhadores e cortar direitos e impor salários mais baixos”, acrescentou.

A deputada afirmou ainda que a direita também se opõe à reposição das 35 horas na Função Pública porque sabe que “o Bloco de Esquerda não vai descansar até todos os trabalhadores serem abrangidos pelas 35 horas de trabalho”.

A iniciativa contou ainda com a intervenção de Álvaro Arranja, professor e historiador, e dirigente local do Bloco.

Arranja referiu-se à importância da construção de uma “ponte à esquerda” e lembrou que a direita não está nada satisfeita, como seria de esperar, com as mudanças que o novo governo, apoiado pela maioria PS/Bloco/PCP, veio introduzir.

Segundo o professor e historiador, acabar com “os negócios construídos à custa do dinheiro dos contribuintes”, como é o caso dos colégios privados que têm vindo a ser beneficiados com o financiamento do Estado mesmo quando existe oferta pública, merece a oposição da direita porque para o PSD e o CDS este é “um mau exemplo que pode vir ser aplicado a outros setores, como o da Saúde”.

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