Iémen

Bombas dos EUA matam dezenas no Iémen, Houthi retaliam com ataques a porta-aviões

18 de março 2025 - 12:22

Os bombardeamentos de sábado ordenados por Trump mataram mais de 50 pessoas, incluindo civis, num país devastado pela guerra e a fome. Objetivo é parar os ataques aos navios israelitas no Mar Vermelho, promovidos pelos Houthis em protesto contra o bloqueio a Gaza.

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Manifestação em Sana na segunda-feira contra os ataques dos EUA.
Manifestação em Sana na segunda-feira contra os ataques dos EUA. Foto de Yahta Arhab/EPA

Donald Trump ordenou no fim de semana o maior ataque militar desde que chegou à Casa Branca. O alvo foram os Houthi iemenitas, o grupo rebelde que tem apoiado militarmente as ações do Hamas contra Israel, quer através do disparo de mísseis contra território israelita, quer dos ataques aos seus navios que circulam no Mar Vermelho.

Os bombardeamentos estadunidenses fizeram mais de 50 mortos e mais de uma centena de feridos em vários pontos do país, incluindo junto à capital Sanaa, mas não demoveram os Houthi de prometer prosseguirem com as suas ações armadas enquanto a Faixa de Gaza continuar sob bloqueio por parte de Israel e continue a ser negada a entrada de ajuda humanitária essencial naquele território.

Em Washington, o Secretário de Defesa Pete Hegseth afirmou que os ataques dos EUA contra os Houthi iemenitas irão continuar enquanto este grupo armado prosseguir os ataques contra navios e drones no Mar Vermelho.

Palestina

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18 de março 2025

Mas a resposta dos Houthi não tardou: “Sanaa continuará a ser o escudo e apoio de Gaza e não a irá abandonar quaisquer que sejam os obstáculos”, prometeu Nasruddin Amer, o adjunto do responsável de comunicações dos Houthi.

Desde o início da invasão de Gaza, os Houthis lançaram ataques contra vários navios ligados a Israel tendo afundado dois deles. Os ataques pararam com o início do cessar-fogo entre Israel e Hamas, mas reataram nas últimas semanas, desde que Israel se recusou a negociar a segunda fase do cessar-fogo e ordenou novo bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza. Esta terça-feira, Israel pôs fim definitivo ao cessar-fogo e recomeçou os ataques com o massacre de centenas de civis em Gaza, deitando por terra a esperança de pacificação também no Mar Vermelho.

"Enfrentaremos a escalada com a escalada”, promete o líder dos Houthi

Antes disso, o líder dos Houthi, Abdul-Malik al-Houthi, tinha apelado à realização de protestos em massa depois de os ataques norte-americanos no Iémen terem matado dezenas de pessoas no sábado. O chefe político do movimento que controla as regiões mais populosas do Iémen diz ter atacado no domingo o porta-aviões estadunidense USS Harry S Truman, “que recuou para o extremo norte do Mar Vermelho, afastando-se 1300 quilómetros”, juntamente com os navios de guerra que o acompanham. E prometeu continuar estes ataques caso os EUA continuem a bombardear o país, o que voltou a suceder esta terça-feira com o anúncio de que voltaram a atingir com sucesso o porta-aviões e um contratorpedeiro.

"Enfrentaremos a escalada com a escalada”, resumiu Al-Houthi, apelando também a uma “marcha de um milhão de pessoas” em todo o país para coincidir com o aniversário da Batalha de Badr - uma importante vitória militar liderada pelo Profeta Maomé no século VII.

No domingo, o secretário-geral da ONU apelou ao fim das atividades militares, com o porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric, a avisar que “qualquer escalada adicional pode piorar as tensões regionais, alimentar ciclos de retaliação e aprofundar a crise humanitária no Iémen”. Mas os EUA voltaram a bombardear o país esta segunda-feira, tendo por alvo a cidade portuária de Hodeidah, no Mar Vermelho, e a província de Al Jawf, a norte da capital Sanaa.

A diplomacia chinesa também reagiu na segunda-feira a esta resposta dos houthis iemenitas, apelando ao diálogo para contrariar a escalada do conflito. As razões por detrás da situação no Mar Vermelho e no Iémen são complexas e devem ser tratadas devidamente através do diálogo e da negociação”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning. Por seu lado, o governo iraniano, aliado dos rebeldes iemenitas, recusou estar envolvido nos ataques dos Houthi e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros Abbas Araghchi, instou os EUA a suspenderem os ataques aéreos.

Na semana passada, o Programa Alimentar Mundial (PAM) emitiu um aviso sobre a escalada da crise de fome neste país devastado pela guerra, onde mais de 17,6 milhões de pessoas, dos 30 milhões de habitantes do país, poderão vir a sofrer de grave insegurança alimentar em 2025. De acordo com as Nações Unidas, o Iémen continua a ser uma das crises humanitárias mais complexas do mundo, com mais de quatro milhões de pessoas deslocadas devido ao conflito prolongado e à instabilidade económica.