BCE confirma: aumento dos lucros está na origem de inflação galopante

07 de março 2023 - 10:10

Na última reunião do Banco Central Europeu, em que se analisaram os números da economia da Zona Euro, concluiu-se que as empresas estão a lucrar com o aumento da inflação, enquanto trabalhadores e consumidores pagam a fatura.

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Inflação. Foto: Broadleak News/Flickr.

De acordo com a narrativa macroeconómica predominante nos últimos nove meses, os aumentos generalizados, e acentuados, dos preços estavam a traduzir-se numa subida dos custos para as empresas nos 20 países que compõem a Zona Euro. Perante este pressuposto, o Banco Central Europeu (BCE) elevou as taxas de juros ao máximo registado em quatro décadas para diminuir a procura, argumentando que enfrentava o risco de que preços mais altos ao consumidor viessem a elevar os salários e criar uma espiral inflacionária.

No entanto, os dados trazidos para cima da mesa na última reunião do BCE mostram que as margens de lucro das empresas aumentaram em vez de diminuírem.

"Está claro que a expansão do lucro desempenhou um papel primordial na história da inflação europeia nos últimos seis meses", afirmou Paul Donovan, economista-chefe do UBS Global Wealth Management, citado pela Reuters. "O BCE falhou em justificar o que está a fazer no contexto de uma história de inflação mais focada no lucro", continuou.

As empresas de bens de consumo da zona Euro, por exemplo, aumentaram as margens operacionais para uma média de 10,7% no ano passado, um aumento de 25% face a 2019, antes da pandemia e da guerra na Ucrânia, mostram dados da Refinitiv. Já os salários têm crescido muito mais lentamente do que a inflação, implicando uma queda de 5% no padrão de vida do trabalhador médio da Zona Euro em relação a 2021, segundo cálculos do BCE.

Os economistas reconhecem que este cenário é praticamente o oposto ao verificado na década de 1970, com a inflação a ser alimentada pelos salários. Durante a última crise inflacionária na década de 1970, quase 70% da produção económica foi para os trabalhadores, e pouco mais de 20% para os lucros, segundo dados do Eurostat. Agora, a participação do trabalho é de 56%, com um terço a ser afeta aos lucros.

Não obstante todas as evidências, o BCE, na figura de Cristine Lagarde e do seu vice Luis de Guindos, continua a alertar para o perigo das exigências salariais por parte dos trabalhadores e seus representantes, e a demonstrar uma total relutância em discutir lucros.

Este debate deve ser retomado na próxima reunião de política do BCE de 16 de março, quando o banco prometeu elevar as taxas ao nível mais alto desde o auge da crise financeira em 2008. Certo é que alguns países como a Grécia, França e Espanha estão a avançar para medidas com vista à contenção da inflação em bens essenciais.

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