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Banqueiro dos “créditos problemáticos” da Caixa vai liderar Banco de Fomento

Vítor Fernandes é o banqueiro escolhido pelo Governo para “chairman” do Banco de Fomento. Mas há apenas dois anos, o PS quis incluir Fernandes na lista de banqueiros com intervenção direta nos créditos que afundaram as contas da CGD.
Vítor Fernandes.
Vítor Fernandes na comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos em maio de 2019. Foto António Cotrim/Lusa

O ministro Siza Vieira confirmou esta quarta-feira aos deputados que o Governo convidou Vítor Fernandes para presidir ao Conselho de Administração do Banco de Fomento, criado em novembro passado a partir da fusão na Sociedade Portuguesa de Garantia Mútua (SPGM), da Instituição Financeira de Desenvolvimento e da PME Investimentos. A intenção do Governo é orientar esta instituição para o apoio às empresas portuguesas.

O banqueiro tem uma longa experiência no ramo da banca e dos seguros, com passagens pela Caixa Geral de Depósitos, Banco Comercial Português e Novo Banco e a presidência da administração da Mundial Confiança e da Fidelidade Mundial, após a fusão da primeira com a Fidelidade Seguros. 

A recente comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos abarcou o período dos créditos ruinosos para a instituição, aprovados pela administração onde se sentava Vítor Fernandes. O relatório final sublinha por exemplo o papel dessa administração, onde pontificavam Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, no processo conhecido por “assalto ao BCP”. Os deputados concluíram que “apesar das coincidências e acasos referidos pelos envolvidos, não é possível afastar a relação potencial entre o financiamento na CGD da aquisição de participações sociais por decisão de quem veio a transitar diretamente para a administração do BCP”. Além de Santos Ferreira e Vara, também Vítor Fernandes deu o salto para o banco privado ao fim de quase oito anos na administração da Caixa. E após a sua administração ter concedido créditos para alguns acionistas do BCP reforçarem a sua participação no capital do banco e assumirem o seu controlo.

"Intervenção direta nos créditos mais problemáticos”, diz PS

Em relação aos restantes “créditos problemáticos” da Caixa, como os de Vale do Lobo, Joe Berardo, Grupo Lena, La Seda e as operações em Espanha, foi o próprio PS que propôs à comissão incluir o nome de Vítor Fernandes, a par de Maldonado Gonelha, Armando Vara, Celeste Cardona, Francisco Bandeira e Norberto Rosa entre os administradores com “intervenção direta nos créditos mais problemáticos”. No relatório final essa responsabilidade ficou um pouco mais dissipada, com o texto aprovado a referir que a presença de Vítor Fernandes e outros administradores nas reuniões “era  uma  formalidade. Em todos os casos, os créditos mais problemáticos foram aprovados por consenso e em total sintonia com as propostas dos administradores dos pelouros, sem evidência de debate ou confronto de posições, o que frustrou os resultados de alterações introduzidas na governance da CGD”.

Mesmo com esta suavização das conclusões finais no que a si diz respeito, Vítor Fernandes escreveu ao presidente da Comissão a protestar contra essa alusão. O ex-administrador da Caixa, BCP e Novo Banco alega que “não participava habitualmente nos Conselhos Alargados de Crédito, uma vez que as minhas áreas de responsabilidade eram Seguros, Informática e Marketing, que nada tinham a ver com concessão de crédito”. E por ter estado ausente das reuniões que decidiram os créditos considerados problemáticos, o futuro presidente do Banco de Fomento entende que a sua inclusão nesse lote de administradores “está ferida de falta de qualquer sentido”.

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