O relatório World Economic Outlook divulgado na semana passada pelo Fundo Monetário Internacional analisa o impacto da subida das taxas de juro no pós-pandemia no mercado do crédito hipotecário. E coloca Portugal na primeira posição da zona euro quanto ao peso do aumento dos custos do serviço da dívida hipotecária no PIB nacional desde 2022, com 1,2%. No extremo oposto está Malta com praticamente zero.
Em 2022 e 2023, as taxas de juro do Banco Central Europeu aumentaram de quase 0% para os 4,5%. Segundo o relatório do FMI citado pelo Diário de Notícias, a banca portuguesa conseguiu passar para as famílias com crédito à habitação cerca de 80% desse aumento acumulado, colocando o nosso país com um dos rácios mais elevados entre os 26 países selecionados.
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Mas a situação agrava-se porque ao contrário de outros países, em Portugal a banca vende sobretudo crédito à habitação com taxa variável, que coloca as famílias em situação de maior vulnerabilidade face à subida das taxas de juro, um cenário que se veio a verificar nos últimos anos. Os contratos de crédito à habitação com taxa fixa representam apenas cerca de 20% do total em Portugal, bem longe dos 56% que são a média dos 26 países analisados.
Por outro lado, o maior recurso ao crédito à habitação em Portugal leva a que o impacto social da subida dos juros também seja maior. O FMI calcula que um terço das famílias portuguesas tenha um crédito hipotecário ativo, o que contrasta com países com um rácio de transmissão dos custos às famílias superior ao português. Letónia (81%) e Lituânia (91%) são dois exemplos de países onde os bancos transferiram mais custos com o aumento dos juros para os clientes, mas onde apenas 10% das famílias têm contratos ativos de crédito à habitação, limitando assim o impacto social das famílias em dificuldades.