Arrentela: jovem detido e agredido violentamente pela polícia acabou hospitalizado

22 de fevereiro 2011 - 18:46

Testemunhas acusam a PSP de utilizar violência excessiva para proceder à detenção de um jovem na Arrentela, no sábado passado. Dutchi, de 17 anos, esteve detido durante 3h e acabou no hospital, na unidade de cuidados intensivos. Pais já apresentaram queixa contra a PSP.

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Em 2010 registaram-se vários casos de violência policial que assumiram um carácter mediático e levaram à realização de uma manifestação em Lisboa, em Maio, pelo fim da impunidade dos agentes policiais.

Alguns moradores no bairro da Boa Hora, na Arrentela, concelho do Seixal, afirmaram esta segunda-feira à Lusa que os incidentes que se seguiram à detenção do jovem no passado sábado, não são mais do que um grito de revolta pelo que consideram ser a violência excessiva utilizada pela PSP.

Após a detenção muito violenta do jovem por agentes da PSP, alguns moradores incendiaram uma viatura ligeira no sábado à noite, e um autocarro dos TST (Transportes Sul do Tejo) no dia seguinte. Os passageiros e o motorista do autocarro terão sido obrigados a sair da viatura antes desta ter sido incendiada por alguns indivíduos.

Os incidentes começaram no sábado, dia do jogo entre as equipas juniores do Atlético Clube Arrentela e do Pinhalnovense, e terminaram com uma noite de desacatos que levaram à hospitalização nos cuidados intensivos de um jovem jogador, que teve de ser submetido a uma operação ao maxilar, após ter sido detido e agredido pela polícia.

Segundo duas pessoas que se intitularam testemunhas dos acontecimentos, o jovem avançado do Arrentela, Dutxi Pedro Sá, de 17 anos, terá sido abordado por uma patrulha da PSP à paisana quando abandonava o complexo desportivo, tendo sido violentamente agredido, aparentemente sem justificação.

“Conseguiram pô-lo no chão, começaram a dar-lhe socos na cabeça”, disse à Lusa Jorge Santos, um jovem que diz ter assistido a tudo a poucos metros de distância. “Como ele não queria entrar no carro, começaram a apertar-lhe o pescoço, estavam a prender-lhe a cabeça contra a porta, depois lá conseguiram pô-lo dentro do carro, mas um (polícia) que estava atrás continuava a bater-lhe” acrescentou Jorge Santos.

Maria Celeste, que também disse que estava no local quando ocorreu a detenção, também considerou que houve excesso de violência por parte da polícia, embora reconheça que o jovem ofereceu resistência quando recebeu ordem de detenção. “Eu estava ao pé do muro, ao pé dos futebolistas - eles estavam todos com pedras na mão e eu estava à espera do meu sobrinho, para o trazer para casa. Nisto olho, vejo um carro a parar - o moço que foi agredido ia a atravessar -, a polícia à paisana saiu, atirou logo a mala do miúdo para o chão”, disse. “Eles [os polícias] desataram logo à porrada ao miúdo, à chapada, ao pontapé, com o cassetete, e mandaram o miúdo para o chão para o algemarem”, acrescentou.

A PSP, que deteve o jovem entre as 17h30 e as 20h, nega ter havido qualquer agressão. Contudo os pais de Dutchi, de origem guineense, terão já apresentado uma queixa formal contra a PSP, adianta o Público.

Agente da PSP acusado da morte do rapper MC Snake começa a ser julgado

O agente da PSP acusado da morte do rapper MC Snake começa a ser julgado esta terça-feira, por homicídio qualificado. O julgamento começa três dias depois de se conhecer mais um caso de alegada extrema violência policial.

O caso remonta a 15 de Março de 2010 quando o jovem rapper Nuno Manaças Rodrigues não terá parado numa operação stop, junto à Doca de Santo Amaro, tendo invertido a marcha e seguido em contra-mão. Da perseguição feita pelo arguido e mais quatro agentes e dos disparos efectuados resultou a morte do rapper.

A acusação do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa salienta que o polícia, ao actuar como actuou, "admitiu como possível que o ofendido pudesse vir a ser atingido por um dos dois projécteis que disparou na direcção da viatura" conduzida por Nuno Manaças Rodrigues e "morrer, como de facto sucedeu".

"Mesmo assim, prosseguiu na sua actuação, conformando-se com tal resultado", concluiu o Ministério Público (MP), considerando que o arguido - agente da PSP desde 28 de Julho de 2006 - cometeu um crime de homicídio qualificado, com uma pistola semi-automática de calibre 9mm Parabellum, da marca Walther.

O despacho de acusação aponta, também, que o agente "agiu ciente" de que naquele caso concreto não se verificava "nenhuma das situações legitimadoras do recurso a arma de fogo", o que se revelou "desnecessário, desproporcional e desadequado".