Aquecimento dos oceanos pode ter passado “ponto sem retorno” há sete anos

03 de fevereiro 2022 - 9:53

Este estudo aponta que o “ponto sem retorno” foi ultrapassado em 2014. Em janeiro, uma investigação indicou que o aquecimento dos oceanos bateu recordes em 2021. Estas conclusões vão no mesmo sentido das que os cientistas do IPCC têm apontado e alertam que “estamos literalmente à beira do abismo”.

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Oceano Atlântico, publicado em flickr por milan.boers licenciado por CC BY 2.0
Oceano Atlântico, publicado em flickr por milan.boers licenciado por CC BY 2.0

Segundo noticia o Expresso, um estudo publicado na revista “Plos Climate” conclui que o aquecimento dos oceanos ultrapassou um “ponto sem retorno” em 2014. “As alterações climáticas não são algo incerto que podem acontecer num futuro distante. São um facto histórico que já ocorreu”, afirma Kyle Van Houten, investigador e um dos autores do estudo. Estes investigadores analisaram a temperatura das águas dos mares registadas nos últimos 150 anos e chegaram à conclusão que o aumento extremo se deve ao aquecimento global.

Kyle Van Houten avisa que “as mudanças climáticas extremas estão aqui, estão nos oceanos, e os oceanos sustentam toda a vida na Terra”. Os dados recolhidos pelos investigadores revelam que elevadas temperaturas eram verificadas há um século em apenas 2% do tempo, mas desde 2014 verificam-se em pelo menos 50% do tempo. E nas regiões mais quentes, tal verifica-se em 90% do tempo.

À beira do abismo

 

Segundo assinalou Daniel Tanuro, no seu artigo “À beira do abismo, o cenário que o IPPC não modeliza”, o resumo para decisores políticos da contribuição do grupo de trabalho 1 do IPCC (sobre as bases físicas) para o Sexto Relatório de Avaliação do Clima tinha alertado que “o aquecimento dos oceanos durante o resto do século XXI será provavelmente duas a quatro vezes mais importante do que entre 1971 e 2018”, que “a estratificação, a acidificação e a desoxigenação dos oceanos continuará a aumentar”, que “estes três fenómenos têm consequências negativas na vida marinha” e que “serão precisos milénios para as reverter”.

A conclusão do estudo divulgado agora dá novos dados no sentido das conclusões dos cientistas do IPCC e apontam que, de facto, “estamos literalmente à beira do abismo”.

Aquecimento dos oceanos continua a bater recordes

No início deste ano, uma investigação avançou que o calor acumulado nos oceanos bateu recordes em 2021, pelo sexto ano consecutivo. Esta investigação extrai conclusões que vão no mesmo sentido da investigação agora divulgada.

Segundo a Lusa, esse estudo recente, publicado na revista científica “Advances in Atmosferic Sciences”, resume dois conjuntos de dados internacionais, do Instituto de Física Atmosférica (IAP, na sigla original), da Academia Chinesa de Ciências e dos Centros Nacionais de Informação Ambiental, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla original), dos Estados Unidos, que analisam observações sobre o calor nos oceanos e o seu impacto desde a década de 1950.

Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Investigação Atmosférica do Colorado, Estados Unidos, e um dos autores do estudo, disse que o aquecimento dos oceanos “está a aumentar incessantemente, a nível global, e este é um indicador primário da mudança climática”.

Os investigadores calcularam que, em 2021, os primeiros 2.000 metros de profundidade em todos os oceanos absorveram mais 14 zettajoules de energia sob a forma de calor do que no ano anterior, o equivalente a 145 vezes a produção mundial de eletricidade em 2020.

Lijing Cheng, investigador do IAP e também um dos autores do documento, disse que além de calor, os oceanos absorvem atualmente entre 20% e 30% das emissões de dióxido de carbono produzidas pela humanidade, levando à acidificação dos oceanos. “O aquecimento dos oceanos reduz a eficiência da absorção de carbono e deixa mais dióxido de carbono no ar", acrescentou.

O mesmo investigador assinalou que as análises regionais mostram que o forte e significativo aquecimento dos oceanos desde o final dos anos 1950 ocorre em todo o lado e que as ondas de calor marinhas regionais têm enormes impactos na vida marinha.

Apontando que o estudo mostra também que o padrão de aquecimento dos oceanos é o resultado de mudanças na composição atmosférica relacionadas com a atividade humana, Lijing Cheng alertou:

"À medida que os oceanos aquecem, a água expande-se e o nível do mar sobe. Os oceanos mais quentes também sobrecarregam os sistemas climáticos, criando tempestades e furacões mais poderosos, bem como aumentando a precipitação e o risco de inundações".

Como disse Greta Thunberg, citada por Tanuro; “a crise climática e ecológica não pode simplesmente mais ser resolvida no quadro dos sistemas políticos e económicos atuais. Isto não é uma opinião, apenas uma questão de matemática”.