Aprender com a derrota para sermos mais fortes e coesos!

27 de junho 2011 - 13:16

Contributo de Peter Vieira

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Considero que três decisões se destacaram no seio do Bloco de Esquerda no ano de 2011. A primeira foi o apoio a Manuel Alegre para Presidente da República. A segunda foi a apresentação da Moção de Censura. A terceira foi a não comparência na reunião com a Troika.

Na primeira e ainda sem eleições à vista penso que se cometeu um erro em apoiar Manuel Alegre. Admito que muitos militantes e simpatizantes do Bloco de Esquerda se tenham sentido confusos e teriam aceite mais sensatamente não apoiar nenhum candidato.

Na segunda medida e quando já se adivinhavam eleições antecipadas penso que se tomou uma medida acertada apresentando uma Moção de Censura. O Bloco de Esquerda anteviu primeiro que todos aquilo que se adivinhava.

Na terceira medida e já com eleições marcadas o Bloco de Esquerda fez o que tinha de ser feito ao não comparecer à reunião da Troika. Todos os partidos políticos e a Troika sabiam de antemão quem estava a favor e quem estava contra as políticas que iriam ser tomadas.

O Bloco de Esquerda desde o seu início que cresceu em percentagem e em deputados até 2011, tendo nestas últimas eleições sofrido uma pesada e evidente derrota. Importante sublinhar que a nível legislativo foi a primeira derrota que teve.

Causas para a derrota foram várias. Umas por culpa própria e outras onde nada era possível fazer para as evitar.

Começando pelas últimas saliento a postura do Presidente da República, o tratamento dado pela Comunicação Social aos diversos candidatos, as declarações dos comentadores políticos, a desgraça que foi a governação Sócrates e, como resultado disto tudo, a viragem dada à Direita que era tida como garantida.

Importante é referir as causas próprias e julgo que o não esclarecermos os portugueses de como se arranjava dinheiro para “tapar o buraco” foi a fundamental para o resultado que o Bloco de Esquerda obteve.

Julgo que a derrota nas legislativas não é só culpa de erros próprios mas também não se deve unicamente a erros alheios. E é aqui que importa debater internamente, no seio do Bloco de Esquerda, que caminho devemos trilhar e aquilo que devemos evitar.

O que devemos evitar a todo custo é lavar roupa suja fora de portas. Devemos evitar mandar postas de pescada na praça pública. Devemos diferenciar-nos dos outros e discutir sem ferir sensibilidades. Todos aqueles e aquelas que são do Bloco de Esquerda mas estão actualmente fora da sua direcção e que tem optado por lavar roupa suja e por mandar postas de pescada devem-se assumir como alternativa ou não querendo ser alternativa devem expor os seus pontos de vista dentro do Bloco de Esquerda.

O caminho que devemos seguir é consciencializarmo-nos que Francisco Louçã faz parte da solução e não do problema. Tem todo o direito de liderar o partido até às próximas eleições legislativas e, aí sim, fazer-se o balanço. Devemos aberta e frontalmente ser a voz dos movimentos que recentemente têm nascido, dos precários e dos desempregados. Temos obrigação de ser uma oposição séria, justa e credível. Devemos estar na luta, no protesto, na rua. Temos obrigação de desmascarar, expor e revelar as injustiças que em Portugal proliferam. Devemos e temos obrigação de continuar a exigir a renegociação da dívida, de exigir uma auditoria às contas públicas e privadas, de combater a corrupção, a evasão fiscal e de obrigar a Banca a pagar o que tem de pagar. Temos que continuar a falar e a defender a Cultura, a Saúde e o Ensino. Essencialmente temos que fazer ver aos portugueses que se os sacrifícios forem repartidos por todos, aqueles que mais sacrificados foram o serão menos. Temos que fazer ver aos portugueses que existem culpados pelo caos instalado e que existem responsáveis por isso. Temos que fazer ver aos portugueses que existe uma classe minoritária em Portugal a quem nunca são pedidos sacrifícios, que essa mesma classe é a responsável pela quase bancarrota e que sempre passaram impunes porque temos uma Justiça forte para os fracos mas fraca para essa dita classe.

Para finalizar é fundamental ao Bloco de Esquerda sedimentar as suas raízes a nível local e concelhio. Só com um trabalho de base sustentado e com um amplo crescimento local e concelhio é que o Bloco de Esquerda conseguirá fortalecer-se e regenerar-se. Além de todo o trabalho que o Bloco de Esquerda irá desenvolver no Parlamento é imprescindível que o Bloco de Esquerda na aldeia, na vila e na pequena cidade de cada um de nós desempenhe um papel activo no desenvolvimento desse meio. Só assim o Bloco de Esquerda poderá crescer e agarrar o seu eleitorado.