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Ao contrário dos grandes devedores da banca, os cuidadores “nunca esquecem”

Na apresentação da candidatura bloquista à Câmara de Cascais, Catarina Martins contrastou as respostas dos grandes devedores aos bancos nas comissões de inquérito com a situação dos cuidadores informais que não veem reconhecidos os seus direitos.
Catarina Martins. Foto de Estela Silva/Lusa.
Catarina Martins. Foto de Estela Silva/Lusa.

Na apresentação da candidatura bloquista a Cascais, Catarina Martins falou de políticas locais, mas também de dois temas na ordem do dia a nível nacional: a exploração dos trabalhadores agrícolas em Odemira e a situação dos cuidadores informais.

Sobre o primeiro, num dia em que o primeiro-ministro visitou Odemira para anunciar o fim da cerca sanitária, a dirigente bloquista disse esperar que este também aí responda sobre “como vai resolver o problema de direitos humanos” e “as questões ambientais”. E lembrou que “foi um enorme erro o Governo ter legitimado aquele tipo de exploração quando decidiu que era normal as pessoas serem amontoadas em contentores ao lado das explorações, como se os trabalhadores fossem alfaias agrícolas”.

Sobre o segundo, a notícia do dia foi que “pouco mais de dois mil cuidadores informais tiveram acesso aos apoios a que o Estatuto dos cuidadores informais deveria dar acesso”. Catarina Martins fez-se valer de um estudo feito pela associação de cuidadores informais que aponta para que 1.4 milhões de pessoas em Portugal tenham responsabilidades de cuidar informalmente de outras e que desses “mais de 200 mil o farão isso a tempo inteiro”. Só que são “números escondidos porque não há as regras certas”.

Estas pessoas “não podem ter um emprego, não podem ter uma carreira porque têm de estar a cuidar de alguém que depende delas” e a elas “não está a ser dado nenhum direito”. A sua situação ficou, aliás, “ainda mais flagrante” porque a “pandemia que encerrou escolas, centros de dia, tantos equipamentos sociais”.

Catarina recordou ainda outra questão: “durante tanto tempo disseram-nos sempre que responder a estas pessoas era um problema financeiro para o país como se não pudéssemos em Portugal responder a quem não trabalha para cuidar de alguém que precisa de cuidados 24 horas”. E contrastou estas respostas com o que se tem ouvido nas audições dos grandes devedores da banca “que nunca se lembram, que nunca sabem o que estavam a fazer, que não têm bem ideia do que devem”. Ou seja, “ao mesmo tempo vemos o desfilar de milhões todos os dias para o sistema financeiro” e que os grandes devedores esquecem o que devem, “os cuidadores e as cuidadoras informais em Portugal nunca se esquecem. Trabalham 24 horas por dia sete dias por semana. Nunca se esquecem das suas obrigações. Estão lá sempre quando alguém que depende deles precisa”.

O tema também é um tema de política local, assegura Catarina. Se “não há programa para cuidadores informais em todo o território, vamos criá-lo também nestas autárquicas”. E o “dever de cuidar de quem cuida” também vale para o poder local. Faz-se assim a reivindicação “de que a política também cuida e de que saída para a crise é também o cuidado”.

Devido à situação do país, nestas eleições autárquicas “não se trata apenas de ter um poder local diferente que traga aquele rigor que é necessário e que tem faltado ao longo destes anos”, mas também da “forma com respondemos à crise que estamos a viver”. São precisos “mecanismos que pensem qual a economia local que queremos ter depois da crise e como é que apoiamos as pessoas neste momento”. E “como as apoiamos de uma forma que construa emancipação, direitos, e não uma dependência dos governantes locais de cada momento”. São precisas também respostas habitacionais num país “que ficou preso ao passado em que apenas 2% do parque habitacional é público” e mesmo este “está errado porque está guetizante, humilha, não faz nada para regular o mercado das rendas exorbitantes que as pessoas não conseguem pagar com os salários que aqui ganham”.

Cascais é o concelho mais desigual

Esta foi também uma questão levantada por Luís Salgado, solicitador com pós-graduação em direito fiscal e especializado em direito laboral, que é o cabeça de lista do Bloco à Câmara Municipal de Cascais. Nesta apresentação de candidatura, afirmou que falta “uma estratégia municipal de habitação, de integração, ou de bem-estar para a população”.

Apresentou o seu concelho como sendo o “mais desigual”, “fruto de opções políticas erradas”, entre as quais destacou “o exagerado crescimento da construção no concelho”, “a falta de investimento nas infraestruturas essenciais”, “falta de investimento na educação, no bem-estar, no ambiente, na cultura”, a falta de existência de creches públicas, a rede de apoio aos idosos que “é toda feita por privados e por IPSS, sem uma rede pública de centros de dia ou de cuidados continuados”. “Abandonou-se o ambiente para abraçar o betão, os interesses obscuros e os vistos gold”, criticou Luís Salgado, ainda antes de apresentar as propostas bloquistas que passam por preservar património, criar um parque habitacional público de qualidade, reformular os apoios da reabilitação, defender os direitos dos animais e o ambiente.

Na campanha às autárquicas, a candidatura bloquista a Cascais propõe-se a proteger áreas verdes, melhorar serviços públicos e de apoio às populações mais idosas e carenciadas, combater todas as formas de exclusão, reforçar o dialogo intercultural e fazer investimento cultural que não passe apenas na vila de Cascais.

O rigor contra o poder prepotente

O cabeça de lista à Assembleia Municipal é Alexandre Abreu, professor de economia e estudos de desenvolvimento no ISEG. Este destacou o trabalho “de muitos anos” do Bloco no concelho, um trabalho marcado “pela exigência, pela transparência, pela promoção da justiça social e pela defesa das pessoas e do ambiente”.

Para ele, existe uma “possibilidade real de retirar maioria absoluta à coligação PSD/CDS”, o que fará toda a diferença "face a um poder atual “arrogante”, “prepotente”, conhecido pela “sua falta de transparência, o seu predomínio dos interesses imobiliários, os seus mecanismos de subordinação das coletividades e associações ao executivo camarário e às lógicas partidárias locais”.

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