Angola: Plataforma 27 de Maio denuncia "embuste e propaganda" da CIVICOP

29 de março 2024 - 10:06

Associações que reúnem familiares e amigos das vítimas da repressão de 1977 alertam que Angola não dispõe da tecnologia que permita identificar através do ADN os restos mortais encontrados em valas comuns.

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Em comunicado, a plataforma que reúne associações que exigem o apuramento da verdade e o reconhecimento das vítimas da repressão do 27 de Maio de 1977 reage á divulgação pela televisão pública angolana de uma reportagem sobre três valas comuns encontradas no Huambo que promove a atividade da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos (CIVICOP) na busca das ossadas das vítimas. Segundo as organizações, não estão a ser seguidos "os procedimentos internacionalmente aceites para a identificação dos restos mortais".

"De facto, Angola não dispõe da tecnologia de “ADN em ossos” que permita efectuar a correspondência com o ADN recolhido em sangue, saliva ou cabelos, fornecidos pelos familiares", aponta a Plataforma. E recorda que quando a CIVICOP aceitou a colaboração de especialistas portugueses, estes concluíram "que as ossadas atribuídas a José Van Dunem, Sita Valles, Rui Coelho e outros dirigentes não tinham qualquer ligação aos mesmos".

A Plataforma acusa a CIVICOP de manter "a opção pelo faz de conta, embuste e propaganda, sendo lamentável a participação de governadores, autoridades tradicionais e outros, bem como o desrespeito pelos sentimentos das famílias das vítimas do Huambo, a quem não foi prestada informação prévia".

O afastamento dos familiares das vítimas neste processo, além de contrariar as normas em casos semelhantes, agrava "ainda mais a dor da ferida aberta que não sara - a angústia, o sofrimento e o desespero intoleráveis face à incerteza do destino dos seus entes queridos", aponta a Plataforma, classificando a operação no Huambo como mas uma "campanha de propaganda da CIVICOP".

Edgar Valles
Edgar Valles

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A Plataforma 27 de Maio apela à implementação de procedimentos aceites internacionalmente, bem como à criação "de uma genuína Comissão da Verdade, que contribua para uma efetiva Reconciliação Nacional", além da apresentação pública dos certificados dos testes de “ADN em ossos”. E solicita igualmente a colaboração de especialistas independentes e internacionais, "uma vez que Angola não dispõe da tecnologia de extração de “ADN em ossos” que permita identificar os corpos".