28 de fevereiro é o Dia da Andaluzia. Este ano foi também o dia em que no Boletim Oficial do Estado espanhol, o correspondente ao Diário da República português, publicou um projeto de combustíveis fósseis que os ambientalistas consideram ameaçar um dos espaços naturais mais importantes e sensíveis da região, o Parque de Doñana.
O jornal espanhol Público noticia que o governo do seu país avançou naquele dia com um anúncio de informação sobre um “pedido de autorização administrativa e aprovação do projeto de execução do [...] denominado sondagem Marismas-3NE associado ao depósito subterrâneo de gás natural denominado Marismas, no município de Almonte, na província de Huelva”.
Trata-se de “um poço de armazenamento de gás” destinado a substituir um outro velho na mesma zona. No relatório de implementação, datado de fevereiro de 2022, explica-se que o “agora abandonado Marismas 3” era o único poço de armazenamento dentro desta estrutura geológica e que o Marismas-3NE “é necessário para o armazenamento e extração do gás de reserva da estrutura”. Sendo que o anterior teve de ser abandonado por “problemas de integridade no revestimento de produção principalmente devido a corrosão externa e interna”.
Este é um projeto da Trinity Energy Storage, uma empresa participada pela Teset Capital, uma gestora de fundos, e o orçamento previsto naquela altura era de quatro milhões de euros.
Ao diário espanhol, Juan Romero, porta-voz dos Ecologistas en Acción explica as razões que levam os ambientalistas a opor-se ao projeto. Para ele, este vai abrir “as portas à consolidação de uma infraestrutura industrial numa zona muito sensível para o espaço protegido” que “implicaria um sondar até 1.000 metros abaixo do aquífero Doñana.
A posição é, assim, taxativa: “opomo-nos rotundamente”, lembrando-se ainda que “a União Europeia solicitou a sua suspensão e avaliação de acordo com a diretiva habitat há cerca de dez anos”.
O ecologista refere-se ao avanço de projetos de armazenamento de gás em Doñana em 2016. Este projeto, que contava com as autorizações, é o remanescente de um pacote que ficou de lado por ausência de autorizações ambientais, tendo a empresa recorrido mas perdido em tribunal.
O mesmo jornal sublinha que o tema já chegou ao Congresso dos Deputados pelas mãos do Podemos. A deputada Martina Velarde apresentou aí várias questões para o Governo responder: "Considera que um projeto desta natureza é consistente com as políticas verdes e de proteção da biodiversidade de que necessitamos num contexto de crise ecológica?" "Doñana pode ser defendida perfurando e armazenando gás no subsolo?"
O Andalucía Información acrescenta que esta deputada defende que o projeto é “totalmente contrário” às políticas de defesa do meio ambiente e conservação de Doñana que “demonstra que uma vez mais que o PSOE se põe de lado de quem quer continuar a perfurar e a armazenar gás no subsolo da nossa terra”.
Cita ainda Juantxo López de Uralde, coordenador da Alianza Verde, que pensa ser “intolerável que se tenha tomado esta decisão” e anuncia ter questionado o Ministério da Transição Ecológica para saber se o partido do governo está “do lado da defesa da biodiversidade ou do negócio”. Defende-se ainda que “não se pode permitir que, enquanto se fala de proteger o parque, se continuem a autorizar projetos que atentam contra a sua conservação”.