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Alzheimer: “é essencial a criação de planos nacionais em toda a UE”

Marisa Matias defende em Conferência a importância de desenvolver mecanismos de diagnóstico precoce, o apoio às famílias e a igualdade de acesso ao tratamento de todos os doentes. Artigo de Nelson Peralta.

Decorreu esta quinta-feira no Parlamento Europeu uma Conferência sobre a doença de Alzheimer e outras demências na Europa. Esta audição surge no âmbito do relatório de iniciativa, da responsabilidade da eurodeputada Marisa Matias, relativo à Comunicação da Comissão Europeia sobre a doença de Alzheimer e outras demências.

A conferência permitiu ouvir actores que habitualmente não participam no Parlamento Europeu, contando com a participação de especialistas e associações de pacientes, de um representante da Comissão Europeia, assim como dos eurodeputados de todos os grupos políticos que seguem o relatório. A sessão foi moderada pela vice-Presidente do Parlamento Roth-Behrendt, do grupo Socialistas e Democratas, que partilhou a sua experiência familiar de lidar com a doença.

Marisa Matias realçou as questões que considera fundamentais para o seu relatório e que são “essenciais para garantir a dignidade dos pacientes”: “a existência de planos nacionais de acção como a forma de fomentar a cooperação entre Estados-Membros” nesta matéria, defendeu. “A importância de desenvolver métodos e mecanismos de diagnóstico precoce”, “o apoio às famílias e à formação dos cuidadores dos doentes” e “a igualdade de acesso ao tratamento de todos os doentes de Alzheimer” são outras das prioridades da deputada do Bloco de Esquerda.

Nova estratégia de investigação

A pesquisa sobre a doença de Alzheimer é um programa de referência para uma nova estratégia de investigação, é necessário este esforço colectivo e coordenado para uma abordagem abrangente, com recursos da União Europeia e Estados-Membros” referiu Nick Fathy da Unidade de Informação de Saúde da Comissão Europeia. “O tratamento é caro, pelo que os doentes e as famílias enfrentam dois problemas: a doença e ainda o problema financeiro”, considerou. Fathi referiu ainda a importância da comunicação da Comissão para a acção na doença de Alzheimer e noutras demências e a sua importância na busca de saída para novos problemas em tempo de crise, nomeadamente “como garantir o financiamento dos cuidados” e, “com o envelhecimento da população, como assegurar a sustentabilidade dos sistemas de saúde a longo prazo”.

“Muitas vezes não compreendemos e o doente não sabe explicar” alertou Sabine Henry. Para a representante da Liga Alzheimer Bélgica é essencial “não castigar os idosos por estarem doentes, a solidariedade e o apoio são pedras basilares”. Jean Georges, director executivo da Alzheimer Europe, declarou o apoio da sua organização à iniciativa europeia que “vai trazer resultados novos e concretos, quer a nível dos cuidadores quer dos doentes” e fez um diagnóstico da situação da doença no espaço da União, onde o custo da demência em 2008 está estimado em 160 mil milhões de euros.

Investigação está a ajudar a dar qualidade de vida

Para Giovanni Frisoni, cientista do Centro Nacional de Pesquisa e Tratamento da Doença de Alzheimer de Brescia, Itália, “a investigação está a ajudar a dar qualidade de vida aos doentes”. “A doença ocorre porque se desenvolvem proteínas tóxicas no cérebro que se acumulam por dez, vinte ou trinta anos. Após este processo começam os primeiros sintomas como esquecimentos simples e mais tarde desenvolve-se a demência e outros sintomas incapacitantes”. O desenvolvimento da doença é muito anterior aos sintomas, pelo que Frisoni tem confiança na ciência para desenvolver métodos de desenvolvimento precoce. Anna Caputo, da Associação Internacional de Psicanálise, pediu que as “clínicas e hospitais neurológicos sejam equipados de espaços para apoio em grupo” e constituam “equipas médicas mistas”.

Lars-Olof Wahlund, do Instituto Kaolinska, considera que “o tratamento não-famacológico deve ser a primeira opção, recorrendo aos fármacos caso os tratamentos alternativos não resultem”. Como factor de prevenção destacou a alimentação, “quem come muito peixe tem um risco mais reduzido de Alzheimer”. O professor de medicina geriátrica referiu-se ainda aos problemas de saúde desenvolvidos por quem cuida de doentes demenciais, como “o aumento da tensão arterial, problemas nos níveis insulina, debilidade do sistema imunitário, depressão e desordens emocionais”.

Testemunho de José Mourinho

A Conferência foi encerrada com um testemunho vídeo de José Mourinho, que não pôde estar presente devido à sua agenda. A sua participação enquanto testimonial teve como finalidade o apoio à causa da doença de Alzheirmer e outras demências, dirigindo-se em especial aos doentes, seus familiares e associações de doentes. O actual treinador do Real Madrid juntou a sua voz a esta causa e deixou o repto para a colaboração no combate à doença e na melhoria da vida dos pacientes “sei por experiência própria que quando trabalhamos em equipa obtemos sempre melhores resultados”. Mourinho lembrou a prática desportiva como factor de prevenção e terminou a sua declaração deixando a sua “solidariedade e apoio a todos os que sofrem e são afectados por estas doenças: os doentes, os familiares e todos aqueles que lhes são queridos”.

Nelson Peralta

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