Educação

Agrava-se falta de professores: 100.000 alunos sem professor

19 de setembro 2025 - 16:26

A situação é pior este ano, destaca Fenprof, numa altura em que um estudo mostra que metade dos jovens professores ponderaram mudar de profissão. Análise a contratações mostra que no norte há colocações e professores profissionalizados, no sul falta de professores e colocação de professores sem formação ou experiência.

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Sala de aula vazia.
Sala de aula vazia. Foto de Paulete Matos.

Há 100.000 alunos sem pelo menos um professor no arranque deste ano letivo. Isto corresponde a 4.500 turmas e 1.307 horários por atribuir. Só no 1º ciclo do Ensino Básico são mais de 5.000 em mais 250 turmas.

Estes números foram apresentados pela Fenprof cujo secretariado, em comunicado, sublinha que isto “confirma um dado preocupante” que a falta de professores “voltou a aumentar”, um “agravamento” com que muitas escolas estão confrontadas.

Para a federação sindical, isto quer dizer que “as soluções temporárias estão a falhar e nenhuma manobra de distração consegue esconder esta realidade”. Para resolver a questão, indica-se, a prioridade é a revisão do Estatuto da Carreira Docente, valorizando os professores, fazendo com que os professores profissionalizados que abandonaram a profissão regressem, com que os docente se fixem nas escolas e para atrair jovens para a profissão.

Em declarações à Lusa, o secretário-geral da organização, José Feliciano Costa, apresentou a comparação com o mesmo período do ano passado em que havia entre 92 a 93 mil alunos afetados. O dirigente sindical explica também que as bolsas de recrutamento estão já esgotadas em muitas disciplinas. Áreas disciplinares como as Línguas, a Matemática e a Informática serão as mais afetadas.

Uma divisão norte-sul acentuada

A Fenprof indica ainda que os distritos de Lisboa, Setúbal, Faro, Porto, Santarém, Leiria e Beja serão os mais afetados.

Por seu turno, o grupo chamado “Missão Escola Pública” analisou quer a falta de professores e quer as contrações feitas, concluindo que “a escola pública está a dividir-se em duas realidades”. Indica-se que “a Norte, os alunos têm aulas asseguradas por professores profissionalizados e experientes, colocados pelo concurso nacional. A Sul, a maioria dos horários não encontra resposta e acaba entregue através de contratação de escola a recursos humanos sem formação em ensino e sem qualquer experiência”.

Tal situação faz com que a qualidade do ensino comece “inevitavelmente a ser colocada em causa”, afirmam, e transforma “o local onde se nasce e estuda num fator determinante da qualidade do ensino a que se tem direito”.

A Missão Escola Pública apela ao governo para que divulgue quantos contratados não profissionalizados foram contratados e onde porque “só assim será possível avaliar a verdadeira dimensão da desigualdade e agir”.

Metade dos jovens professores ponderam abandonar profissão

A falta de atratividade da profissão e a falta de condições de trabalho de que falam os sindicatos fica também ilustrada pelo estudo A voz dos professores que incluiu um inquérito a 3.767 professores e 351 diretores de escolas. Neste, um em cada cinco professores declarou que pondera abandonar a carreira nos próximos cinco anos. Entre os professores abaixo dos 30 anos, metade estão a considerar mudar de trabalho. E entre mais velhos, sete em cada dez pensam reformar-se logo que possível.

Luís Catela Nunes, o investigador da Nova SBE que coordenou o estudo, diz que o seu trabalho não explorou as razões da vontade dos jovens de abandonarem a carreira. Refere-se aí que há falta de mecanismos para acolher os jovens professores nas escolas (oito em cada dez professores dizem não conhecer nenhum programa nesse sentido).

Outro dado do estudo aponta para que 24% dos professores do privado pensam mudar para a escola pública nos próximos cinco anos. 18% deles mostram-se indecisos quanto a isto.

Para além disto, metade dos professores disseram ter alunos que faltam sucessivamente às aulas, um terço declara conhecer casos de violência entre alunos e um em dez casos de má nutrição.

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