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Acordo de Glasgow diz que Portugal tem de cortar 74% das emissões poluentes até 2030

O Inventário das Emissões de Portugal identificou os principais emissores nacionais. Para manter um cenário compatível com o aumento de temperatura abaixo de 1,5ºC até 2100, Portugal terá de cortar, até 2030, três quartos das suas emissões de gases com efeito estufa.

Para manter um cenário compatível com o aumento de temperatura abaixo de 1,5ºC até 2100, Portugal terá de cortar, até 2030, três quartos (74%) das suas emissões de gases com efeito estufa. É esta a conclusão do recentemente publicado “Inventário das Emissões de Portugal”, uma iniciativa do Acordo de Glasgow, elaborada por membros do colectivo Climaximo e Greve Climática Estudantil Portugal.

De acordo com este estudo, que procede a um inventário exaustivo dos principais setores e emissores de gases com efeito de estufa no país, Portugal só pode emitir 18 Mt de CO2 eq em 2030. Uma diferença de 74% em relação às 68 Mt CO2 eq emitidas em 2018.

“Temos nove anos para fazer cortes de três quartos nas emissões. As soluções têm de ser já e têm de ser reais. É preciso um plano concreto, que tenha em conta a justiça climática e que não defenda os combustíveis fósseis. Isso é o que faremos nos próximos meses. Temos de partir da realidade, compreender quais são as emissões, onde estão e como as vamos cortar”, disse em conferência de imprensa Mariana Rodrigues, porta-voz do Acordo de Glasgow em Portugal, de acordo com o jornal Eco.

O Acordo de Glasgow é uma iniciativa subscrita por mais de 70 organizações e movimento de base na luta pela justiça climática de todo o mundo, que tem como objetivo recuperar a iniciativa dos governos e instituições internacionais através da criação de uma ferramenta alternativa de ação (inventário e agenda climática) e um espaço de estratégia e coordenação para o movimento pela justiça climática. Em Portugal assinaram este acordo o colectivo Climáximo e a Greve Climática Estudantil Portugal.

Quem são os maiores poluidores de Portugal e onde se localizam?

A tabela dos maiores poluidores do país é encabeçada pela Refinaria de Sines, de longe a maior unidade poluidora do país com uma produção de 2,36 milhões de toneladas de CO2 eq todos os anos. O segundo lugar é ocupado também por uma central produtora de energia, a que se segue, em terceiro lugar o Complexo Industrial de Setúbal, propriedade da maior empresa produtora de papel em Portugal, a “The Navigator Company”. Em quinto lugar surge uma indústria ligada ao setor alimentar, a Carnes Landeiro, situada em Barcelos, que produz perto de um milhão de toneladas de CO2 eq todos os anos. (na tabela seguinte, retirada do Inventário das Emissões de Portugal, apresentam-se os cinco maiores poluidores do país. No documento original estão descritos os vinte maiores poluidores)

Posição Unidade Local Empresa Setor Emissões (t CO2 eq)
1 Refinaria de
Sines

Setúbal

Petróleos de
Portugal
Petrogal S.A.
→ Empresa
do Grupo Galp
Energia
Energia
Refinarias
de petróleo
e gás
mineral
2 359 050,0
2 Central de Ciclo
Combinado da
Tapada do
Outeiro
Porto Turbogás
Produtora
Energética,
S.A. →
TrustEnergy
Energia
Centrais
térmicas e
outras
instalações
de
combustão
1 501 817,0
3 Complexo
Industrial de
Setúbal da
Navigator
Setúbal Navigator Pulp
Setúbal, S.A.
→ The
Navigator
Company
Papel 1 382 337,2
4 Central
Termoeléctrica
de Lares
Coimbra EDP Gestão
da Produção
de Energia,
S.A.
Energia
Centrais
térmicas e
outras
instalações
de
combustão
1 245 769,0
5 Carnes
Landeiro, S.A
Braga Carnes
Landeiro, S.A
Carnes 963 347,4

 

 

Organizando os dados por setor é possível perceber que o setor dos transportes é responsável pela maior parte das emissões em Portugal, seguido de perto pela indústria energética.  

O relatório produziu ainda um mapa onde é possível visualizar a distribuição dos maiores poluidores do país, estando o distrito de Setúbal em primeiro lugar, por causa da refinaria de Sines.

Durante três meses, membros dos movimentos ambientalistas do Acordo de Glasgow em Portugal compilaram dados de várias fontes oficiais (Agência Portuguesa do Ambiente, Registo Europeu de Comércio de Emissões da União Europeia, Registo Europeu da Emissões e Transferência de Poluentes, Autoridade Nacional da Aviação Civil, Programa Nacional de Investimentos para 2030 e Ministério do Ambiente e Ação Climática), relativos a emissões totais de gases com efeito de estufa por infraestrutura, seus proprietários, e região do território.

Além disso foi feito um “levantamento extensivo de projetos futuros, de iniciativa pública, privada ou mista, que pela sua natureza acarretem um aumento de emissões”, diz o relatório.

No final calculou-se a fatia justa de cortes de emissões de gases com efeito de estufa que corresponde a Portugal, a qual, segundo o critério de equidade “Greenhouse Development Rights”, produz um cenário de emissões em 2030 compatível com elevada probabilidade de manutenção do aumento de temperatura abaixo dos 1,5ºC até 2100.

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