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815 investigadores de 82 países pedem suspensão de cultivo e consumo de transgénicos

Numa carta aberta, publicada pelo Instituto Carbono Brasil, os investigadores alertam, nomeadamente, para os perigos que os transgénicos podem representar para a saúde humana e animal, o risco de perda da biodiversidade, o aumento do monopólio corporativo pelas empresas que dominam essa tecnologia e a ameaça à agricultura familiar.

Nós, cientistas abaixo-assinados, pedimos a suspensão imediata de todas as licenças ambientais para culturas transgénicas e produtos derivados das mesmas, tanto comercialmente como em testes em campo aberto, durante pelo menos cinco anos; as patentes dos organismos vivos, dos processos, das sementes, das linhas de células e genes devem ser revogadas e proibidas; e exige-se uma pesquisa pública exaustiva sobre o futuro da agricultura e a segurança alimentar para todos.

As patentes de formas de vida e processos vivos deveriam ser proibidas porque ameaçam a segurança alimentar, promovem a biopirataria dos conhecimentos indígenas e dos recursos genéticos, violam os direitos humanos básicos e a dignidade, o compromisso da saúde, impedem a pesquisa médica e científica e são contra o bem-estar dos animais.

As culturas transgénicas não oferecem benefícios para os agricultores ou os consumidores.

As culturas transgénicas não oferecem benefícios para os agricultores ou os consumidores. Em vez disso, trazem consigo muitos problemas que foram identificados e que incluem o aumento do uso de herbicidas, o desempenho errático e baixos rendimentos económicos para os agricultores. As culturas transgénicas também intensificam o monopólio corporativo sobre os alimentos, o que está a levar os agricultores familiares à miséria e a impedir a passagem para uma agricultura sustentável que garanta a segurança alimentar e a saúde no mundo.

Os perigos dos transgénicos para a biodiversidade e a saúde humana e animal são agora reconhecidos por várias fontes dentro dos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos. Consequências especialmente graves associam-se ao potencial de transferência horizontal de genes. Estes incluem a difusão de genes marcadores de resistência a antibióticos a ponto de tornarem doenças infecciosas incuráveis, a criação de novos vírus e bactérias que causam doenças e mutações danosas que podem provocar o cancro.

No Protocolo de Biossegurança de Cartagena negociado em Montreal em janeiro de 2000, mais de 120 governos comprometeram-se a aplicar o princípio da precaução e garantir que as legislações de biossegurança a nível nacional e internacional tenham prioridade sobre os acordos comerciais e financeiros da Organização Mundial do Comércio.

Sucessivos estudos documentaram a produtividade e os benefícios sociais e ambientais da agricultura ecológica e familiar, de baixos insumos e completamente sustentável.

Sucessivos estudos documentaram a produtividade e os benefícios sociais e ambientais da agricultura ecológica e familiar, de baixos insumos e completamente sustentável. Ela oferece a única forma para restaurar as terras agrícolas degradadas pelas práticas agronómicas convencionais e possibilita a autonomia dos pequenos agricultores familiares para combater a pobreza e a fome.

Instamos o Congresso dos Estados Unidos a proibir as culturas transgénicas, já que são perigosas e contrárias aos interesses da agricultura familiar; e a apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de métodos de agricultura sustentável que podem realmente beneficiar as famílias de agricultores em todo o mundo.

* * *

1. As patentes de formas de vida e de processos vivos deveriam ser proibidas porque ameaçam a segurança alimentar, promovem a biopirataria dos conhecimentos indígenas e os recursos genéticos, violam os direitos humanos básicos e a dignidade, o compromisso com a saúde, impedem a pesquisa médica e científica e são contrários ao bem-estar dos animaisi. As formas de vida, tais como organismos, sementes, linhas celulares e os genes, são descobertas e, portanto, não são patenteáveis. As atuais técnicas GM, que exploram os processos vivos, não são confiáveis; são incontroláveis e imprevisíveis e não podem ser consideradas como invenções. Além disso, estas técnicas são inerentemente inseguras, assim como muitos organismos e produtos transgénicos.

2. Cada vez está mais claro que as atuais culturas transgénicas não são nem necessárias nem benéficas. São uma perigosa distração que impede a mudança essencial para práticas agrícolas sustentáveis que podem proporcionar a segurança alimentar e a saúde em todo o mundo.

3. Duas características simples contam para os quase 40 milhões de hectares de culturas transgénicas plantadas em 1999ii. A maioria (71%) é tolerante a herbicidas de amplo espectro, desenvolvidos, por sua vez, para serem tolerantes à sua própria marca de herbicida, ao passo que o resto é projetado com as toxinas Bt para matar pragas de insetos. Uma estatística baseada em 8.200 testes de campo do cultivo transgénico mais popular, a soja, revelou que a soja transgénica rende 6,7% menos e requer duas a cinco vezes mais herbicidas que as variedades não modificadas geneticamenteiii. Isso foi confirmado por um estudo mais recente realizado na Universidade de Nebrascaiv. No entanto, foram identificados outros problemas, tais como: o desempenho errático, suscetibilidade a doençasv, o aborto de frutasvi e baixos rendimentos económicos para os agricultoresvii.

4. De acordo com o programa para a alimentação da ONU, há alimentos suficientes para alimentar o mundo uma vez e meia. Enquanto a população cresceu 90% nos últimos 40 anos, a quantidade de alimentos per capita aumentou em 25%, e assim mesmo mil milhões de pessoas passam fomeviii. Um novo relatório da FAO confirma que há alimentos suficientes ou mais que suficientes para satisfazer as demandas globais sem levar em conta qualquer melhoria no rendimento proporcionado pelos transgénicos até 2030ix. É por conta do crescente monopólio empresarial, que opera sob a economia globalizada, que os pobres são cada vez mais pobres e passam mais fomex. Os agricultores familiares de todo o mundo foram levados à miséria e ao suicídio e pelas mesmas razões. Entre 1993 e 1997, o número de propriedades de tamanho médio nos Estados Unidos reduziu-se em 74.440xi, e os agricultores recebem menos do custo médio da produção pelos seus produtosxii. A população agrícola em França e na Alemanha diminuiu em 50% desde 1978xiii. No Reino Unido, 20.000 empregos agrícolas sumiram no último ano, e o primeiro Ministro anunciou um pacote de ajuda de 200 milhões de librasxiv. Quatro empresas controlam 85% do comércio mundial de cereais no final de 1999xv. As fusões e aquisições continuam.

5. As novas patentes de sementes intensificam o monopólio empresarial mediante a proibição dos agricultores de guardarem e replantarem as sementes, o que a maioria dos agricultores continua a fazer no Terceiro Mundo. A fim de proteger as suas patentes, as empresas continuam a desenvolver tecnologias de terminação para que as sementes colhidas não germinem, apesar da oposição mundial dos agricultores e da sociedade civil em geralxvi.

6. A Christian Aid, uma importante organização de caridade que trabalha no Terceiro Mundo, chegou à conclusão de que as culturas transgénicas provocam desemprego, agravam a dívida do Terceiro Mundo e são uma ameaça para os sistemas agrícolas sustentáveis, além de prejudicarem o meio ambientexvii. Os governos africanos condenaram a afirmação da Monsanto de que os transgénicos são necessários para alimentar os famintos do mundo: “Nós opomo-nos firmemente... ao facto de a imagem dos pobres e famintos dos nossos países estar a ser utilizada pelas grandes empresas multinacionais para desenvolver tecnologia que não é segura nem para o meio ambiente, nem economicamente benéfica para nós... Acreditamos que vai destruir a diversidade, o conhecimento local e os sistemas agrícolas sustentáveis que os nossos agricultores desenvolveram durante milhares de anos e... minar a nossa capacidade de nos alimentarmos”xviii. Uma mensagem do Movimento Camponês das Filipinas dirigida à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) dos países industrializados, declarou: “A entrada dos organismos geneticamente modificados seguramente intensificará a falta de terras, a fome e a injustiça”xix.

7. Uma coligação de grupos de agricultores familiares dos Estados Unidos divulgou uma lista completa das suas exigências, entre as quais estão a proibição da propriedade de todas as formas de vida; a suspensão das vendas, licenças ambientais e outras aprovações de culturas transgénicas e dos produtos derivados, pendentes de uma avaliação independente e exaustiva dos impactos ambientais, da saúde e económico-sociais; e que se obrigue as empresas a se responsabilizarem por todos os danos e prejuízos derivados das suas culturas geneticamente modificados e produtos para o gado, sobre os seres humanos e o meio ambientexx. Também exigem uma moratória de todas as fusões e aquisições de empresas, e do encerramento de quintas, e o fim das políticas que servem aos grandes interesses agro industriais à custa dos agricultores familiares, dos contribuintes e do meio ambientexxi. Eles moveram uma ação judicial contra a Monsanto e outras nove empresas por práticas de monopólio e por impingir as culturas transgénicas sobre os agricultores sem avaliações de segurança e de impacto ambiental adequadasxxii.

8. Alguns dos perigos das culturas transgénicas são reconhecidos abertamente pelos Governos do Reino Unido e dos Estados Unidos. O Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação do Reino Unido admitiu que a transferência das culturas transgénicas e o pólen para além dos campos plantados é inevitávelxxiii, e isso já deu lugar a ervas daninhas resistentes aos herbicidasxxiv. Um relatório provisório sobre os testes de campo patrocinados pelo governo do Reino Unido confirmou a hibridação entre propriedades adjacentes de diferentes variedades de couve-nabiça tolerante aos herbicidas modificados geneticamente, o que deu lugar a híbridos tolerantes a múltiplos herbicidas. Além disso, a couve-nabiça transgénica e os seus híbridos foram encontrados como praga nas culturas de trigo e cevada posteriores, que estavam a ser controladas com herbicidas convencionaisxxv. Pragas de insetos resistentes ao Bt evoluíram em resposta à contínua presença das toxinas nas plantas transgénicas durante todo o ciclo de cultivo e a Agência de Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos está a recomendar aos agricultores para que plantem até 40% de culturas não geneticamente modificadas a fim de criar refúgios para as pragas de insectos não-resistentesxxvi.

9. As ameaças à diversidade biológica das principais culturas transgénicas já comercializadas são cada vez mais claras. Os herbicidas de amplo espectro utilizados com as culturas transgénicas tolerantes a herbicidas não apenas dizimam espécies de plantas silvestres de forma indiscriminada, mas também são tóxicos para os animais. O glufosinato provoca defeitos congénitos em mamíferosxxvii e o glifosato está ligado ao linfoma de Hodgkinxxviii. As culturas transgénicas com toxinas Bt matam insetos benéficos como as abelhasxxix e os crisopídeosxxx e o pólen do milho Bt é letal para as borboletas monarcaxxxi, assim como para os papilionídeosxxxii. A Toxina Bt é exalada das raízes do milho Bt na rizosfera, onde se une rapidamente às partículas do solo e se converte em parte do mesmo. À medida que a toxina está presente de forma ativada, não seletiva, espécies objetivas e não objetivas no solo ver-se-ão afetadasxxxiii, causando um enorme impacto sobre todas as espécies acima do solo.

10. Os produtos resultantes dos organismos geneticamente modificados também podem ser perigosos. Por exemplo, um lote de triptofano produzido por microrganismos geneticamente modificados está associado a pelo menos 37 mortes e 1.500 doenças gravesxxxiv. (34) Uma hormana geneticamente modificada de crescimento bovino, que é injetada em vacas com a finalidade de aumentar a produção de leite, não provoca apenas o sofrimento excessivo e doenças nas vacas, mas também aumenta o IGF-1 no leite, que está vinculado ao cancro de mama e da próstata em seres humanosxxxv. É vital para o público ser protegido de todos os produtos transgénicos e não apenas os que contêm DNA transgénico ou proteína. Isso porque o próprio processo de modificação genética, pelo menos na forma praticada atualmente, é inerentemente perigoso.

11. Memorandos secretos da Administração dos Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos revelaram que foram ignoradas as advertências dos seus próprios cientistas de que a engenharia genética é um novo ponto de partida e introduz novos riscos. Além disso, a primeira cultura transgénico liberada para a sua comercialização – o tomate Flavr Savr – não passou nos testes toxicológicos requeridosxxxvi. Desde então, nenhum teste de segurança científica abrangente tinha sido feito até que o Dr. Arpad Pusztai e os seus colaboradores no Reino Unido levantaram sérias preocupações sobre a segurança das batatas GM que eles estavam a testar. Eles chegaram à conclusão de que uma parte significativa do efeito tóxico pode ser devido à transformação genética ou ao processo utilizado no fabrico das plantas geneticamente modificadas ou ambosxxxvii.

12. A segurança dos alimentos transgénicos foi abertamente contestada pelo professor Bevan Moseley, geneticista molecular e atual presidente do Grupo de Trabalho sobre Novos Alimentos no Comité Científico da União Europeia sobre a Alimentaçãoxxxviii. Ele chamou a atenção sobre os efeitos imprevistos inerentes à tecnologia, enfatizando que a próxima geração dos alimentos geneticamente modificados – os chamados ‘nutracêuticos’ ou ‘alimentos funcionais’, como a vitamina A ‘enriquecida’ do arroz – ira representar riscos ainda maiores para a saúde devido ao aumento da complexidade das construções de genes.

13. A engenharia genética introduz novos genes e novas combinações de material genético construído em laboratório nas culturas, no gado e nos microrganismosxxxix. As construções artificiais são derivadas do material genético de vírus patógenos e outros parasitas genéticos, assim como bactérias e outros organismos e incluem códigos genéticos para resistir aos antibióticos. As construções estão projetadas para quebrar as barreiras das espécies e para superar os mecanismos que impedem de inseri-lo em genomas de material genético estranho. A maioria deles nunca existiu na natureza ao longo de bilhões de anos de evolução.

14. Estes constructos são introduzidos nas células por métodos invasivos que levam a inserção aleatória dos genes estranhos aos genomas (a totalidade de todo o material genético de uma célula ou organismo). Isto dá lugar a efeitos aleatórios imprevisíveis, incluindo anormalidades em animais e em toxinas e alérgenos inesperados em culturas alimentares.

15. Uma construção comum a praticamente todas as culturas transgénicas já comercializadas ou submetidas a testes de campo envolve um interruptor de gene (promotor) do vírus mosaico da couve-flor (CaMV) emendado ao gene estranho (transgene) para torná-lo sobre-expresso de forma contínuaxl. Este promotor CaMV está ativo em todas as plantas, em leveduras, algas e no E.coli. Recentemente descobrimos que ainda está ativo no ovo de anfíbioxli e no extrato de células humanasxlii. Ele tem uma estrutura modular e pode ser intercambiado, em parte ou na sua totalidade, com os promotores de outros vírus para dar aos vírus infecciosos. Ele também tem um “ponto quente de recombinação”, assim que é propenso a romper-se e unir-se a outro material genéticoxliii.

16. Por estas e outras razões, o DNA transgénico – a totalidade das construções artificiais transferidas para o OGM – pode ser mais instável e propenso a transferir-se novamente para espécies não relacionadas; potencialmente, para todas as espécies que interagem com o OGMxliv.

17. A instabilidade do DNA transgénico em plantas geneticamente modificadas é bem conhecidaxlv. Genes transgénicos são, muitas vezes, silenciados, mas a perda de parte ou da totalidade do DNA transgénico também ocorre, inclusive nas gerações posteriores de propagaçãoxlvi. Não estamos cientes de qualquer evidência publicada para a estabilidade a longo prazo de inserções transgénicas em termos de estrutura ou localização no genoma da planta em qualquer das linhas de transgénicos já comercializados ou testados em campo.

18. Os perigos potenciais da transferência horizontal de genes de GM incluem a propagação de genes resistentes a antibióticos aos patógenos, a geração de novos vírus e bactérias que causam a doença e as mutações devido à inserção aleatória de DNA estranho, alguns dos quais podem provocar o cancro em células de mamíferosxlvii. A capacidade do promotor CaMV para funcionar em todas as espécies, incluindo os seres humanos, é particularmente relevante para os perigos potenciais da transferência horizontal de genes.

19. A possibilidade de o DNA nu ou livre ser absorvido por células de mamíferos é explicitamente mencionado pela Administração dos Alimentos e Medicamentos (FDA), dos Estados Unidos, num projeto de orientação à indústria sobre os genes marcadores de resistência a antibióticosxlviii. Nos seus comentários sobre o documento da FDA, o Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação do Reino Unido assinalou que o DNA transgénico pode ser transferido não apenas por ingestão, mas pelo contacto com a poeira e o pólen de plantas transmitidas pelo ar durante o trabalho agrícola e o processamento de alimentosxlix. Esta advertência é ainda mais significativa com o recente relatório da Universidade de Jena, na Alemanha, segundo o qual os testes de campo indicaram que genes transgénicos podem ser transferidos via pólen transgénico para as bactérias e leveduras no intestino das larvas das abelhasl.

20. O DNA da planta não se degrada facilmente durante a maior parte do processamento comercial de alimentosli. Procedimentos como a moagem e a trituração de grãos deixaram o DNA em grande parte intacto, assim como o tratamento térmico em 90deg.C. O processo da silagem mostrou pouca degradação do DNA e um relatório especial do Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação do Reino Unido desaconselha o uso de plantas geneticamente modificadas ou de resíduos vegetais na alimentação animal.

21. A boca humana contém bactérias que se mostraram capazes de assumir e expressar DNA nu que contém genes de resistência a antibióticos e bactérias transformáveis similares estão presentes nas vias respiratóriaslii.

22. Verificou-se a transferência horizontal de genes marcadores de resistência aos antibióticos de plantas GM bactérias e fungos do solo no laboratórioliii. A monitorização de campo revelou que o DNA da beterraba GM persistiu no solo por até dois anos após a sua colheita. E há evidências sugerindo que as partes do ADN transgénico podem ser transferidas horizontalmente para as bactérias do sololiv.

23. Pesquisas recentes na terapia de genes e vacinas de ácidos nucleicos (DNA e RNA) deixam poucas dúvidas de que os ácidos nucleicos livres/nus podem ser tomados, e, em alguns casos, incorporados ao genoma de todas as células de mamíferos, incluindo os dos seres humanos. Os efeitos adversos já observados incluem choque tóxico agudo, reações imunológicas tardias e reações auto-imuneslv.

24. A Associação Médica Britânica, no seu relatório provisório (publicado em maio de 1999), pediu uma moratória por tempo indeterminado nas libertações de OGM à espera de novas pesquisas sobre novas alergias, sobre a disseminação de genes resistentes a antibióticos e os efeitos do DNA transgénico.

25. No Protocolo de Biossegurança de Cartagena negociado com sucesso em Montreal, em janeiro de 2000, mais de 130 governos concordaram em aplicar o princípio da precaução, e em garantir que as legislações de biossegurança nos níveis nacionais e internacionais têm precedência sobre acordos comerciais e financeiros na OMC. Da mesma forma, os delegados da Conferência da Comissão do Codex Alimentarius, em Chiba, no Japão, em março de 2000, concordaram em preparar procedimentos regulamentares rigorosas para os alimentos geneticamente modificados que incluem avaliação prévia à comercialização, monitorização de longo prazo dos impactos sanitários, testes de estabilidade genética, toxinas, alérgenos e outros efeitos indesejadoslvi. O Protocolo de Biossegurança de Cartagena foi assinado por 68 governos em Nairóbi, em maio de 2000.

26. Pedimos a todos os governos para tomarem na devida conta as evidências científicas já substanciais dos riscos reais ou supostos decorrentes da tecnologia GM e muitos dos seus produtos, e impor uma moratória imediata sobre novas licenças ambientais, incluindo testes em campo aberto, de acordo com o princípio da precaução, assim como dados científicos sólidos.

27. Estudos sucessivos documentaram a produtividade e a sustentabilidade da agricultura familiar no Terceiro Mundo, bem como no Nortelvii. Evidências do Norte e do Sul indicam que pequenas propriedades são mais produtivas, mais eficientes e contribuem mais para o desenvolvimento económico do que as grandes fazendas. Os pequenos agricultores também tendem a cuidar melhor dos recursos naturais, da conservação da biodiversidade e salvaguardar a sustentabilidade da produção agrícolalviii. Cuba respondeu à crise económica provocada pela ruptura do bloco soviético em 1989 pela conversão de convencional para grande escala, da alta monocultura de entrada para a pequena agricultura orgânica e semi-orgânica, dobrando assim a produção de alimentos com a metade da entrada anteriorlix.

28. As abordagens agro ecológicas são uma grande promessa para a agricultura sustentável nos países em desenvolvimento, combinando o conhecimento agrícola local e técnicas ajustadas às condições locais com o conhecimento científico ocidental contemporâneolx. Os rendimentos duplicaram e triplicaram e continuam a aumentar. Estima-se que 12,5 milhões de hectares em todo o mundo já são cultivados com sucesso desta maneiralxi. É ambientalmente saudável e acessível para os pequenos agricultores. Ela recupera terras agrícolas marginalizadas pela agricultura intensiva convencional. Ela oferece a única forma prática de recuperar as terras agrícolas degradadas pelas práticas agrícolas convencionais. Acima de tudo, ela capacita os pequenos agricultores familiares para combater a pobreza e a fome.

29. Pedimos a todos os governos para rejeitarem os transgénicos pela razão de que são perigosos e contrários a um uso ecologicamente sustentável dos recursos. Em vez disso, eles devem apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de métodos agrícolas sustentáveis que podem realmente beneficiar os agricultores familiares em todo o mundo.

Aceda à lista de subscritores.

Tradução de André Langer
Carta publicada pelo Instituto Carbono Brasil
URL do artigo: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/agricultura1/noticia=737400


i Ver a Declaração dos Cientistas Mundiais no site www.i-sis.org.uk

ii Ver Ho, M.W. and Traavik, T. (1999). Why Patents on Life Forms and Living Processes Should be Rejected from TRIPS – Scientific Briefing on TRIPS Article 27.3(b). TWN Report, Penang. Ver também ISIS News #3 e #4 <www.i-sis.org.uk>

iii James, C. (1998,1999). Global Status of Transgenic Crops, ISAAA Briefs, New York.

iv Benbrook, C. (1999). Evidence of the Magnitude and Consequences of the Roundup Ready Soybean Yield Drag from University-Based Varietal Trials in 1998, Ag BioTech InfoNet Technical Paper No. 1, Idaho.

v “Splitting Headache” Andy Coghlan. NewScientist, News, November 20, 1999.

vi “Metabolic Disturbances in GM cotton leading to fruit abortion and other problems”<[email protected]>

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viii Ver Watkins, K. (1999). Free trade and farm fallacies. Third World Resurgence 100/101, 33-37; ver também El Feki, S. (2000). Growing pains, The Economist, 25 de março, 2000.

ix Agriculture: towards 2015/30, FAO Global Perspectives Studies Unit http://www.fao.org/es/esd/at2015/toc-e.htm

xIsto é agora admitido numa impressionante série de artigos de Shereen El Feki no The Economist (25 de março, 2000), até então geralmente considerada como uma revista de direita pró-negócios.

xi Farm and Land in Farms, Final Estimates 1993-1997, USDA Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas.

xiiVer Griffin, D. (1999). Agricultural globalization. A threat to food security? Third World Resurgence 100/101, 38-40.

xiii El Feki, S. (2000). Trust or bust, The Economist, 25 de março, 2000.

xiv Meikle, J. (2000). Farmers welcome £200m deal. The Guardian, 31 de março, 2000.

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xvi O Departamento de Agricultura dos EUA passou a deter duas novas patentes sobre a tecnologia de terminação, em conjunto com a Delta and Pine. Essas patentes foram emitidas em 1999. AstraZeneca está a patentear técnicas similares. Rafi comunicado, de março de 2000

xvii Simms, A. (1999). Selling Suicide, farming, false promises and genetic engineering in developing countries, Christian Aid, Londres.

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xxxv Epstein, E. (1998). Bovine growth hormone and prostate cancer; Bovine growth hormone and breast cancer. The Ecologist 28(5), 268, 269.

xxxvi O relatório secreto foi divulgado em rsultado da ação civil The secret memoranda came to light as the result of a civil lawsuit encabeçada pelo advogado Steven Druker contra a FDA, Maio 1998. Para detalhes ver Biointegrity website: <www.biointegrity.com>

xxxvii Ewen, S.W.B. and Pusztai, A. (1999). Effects of diets containing genetially modified potatoes expressing Galanthus nivalis lectin on rat small intestine. The Lancet 354, 1353-1354; ver também <http://plab.ku.dk/tcbh/PusztaiPusztai.htm>

xxxviii Pat Phibbs, P. (2000). Genetically modified food sales 'dead' In EU Until safety certain, says consultant , The Bureau of National Affairs, Inc., Washington D.C. 23 de março, 2000.

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