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29 torturadores argentinos condenados a prisão perpétua

Ao fim de cinco anos, chegou ao fim o julgamento dos crimes contra a humanidade cometidos no centro de tortura da Escola Mecânica da Armada, onde se contam mais de cinco mil desaparecidos,
Foto Cristian Maio/Agência Sin Cerco

O processo ESMA III, relativo a crimes cometidos no centro clandestino de torturas instalado na Escola Mecânica da Armada (ESMA), acusou 68 pessoas, 14 das quais já falecidas entretanto. Dos 54 acusados de crimes cometidos ao serviço da ditadura militar que vigorou entre 1986 e 1983, 29 foram condenados a prisão perpétua.

Entre eles estão Alfredo Astiz, conhecido por “Anjo da Morte” e Jorge “Tigre” Acosta, chefe dos serviços de inteligência militar na ditadura, ambos já condenados a prisão perpétua noutro julgamento aos crimes da ditadura. Alfredo Astiz era um agente infiltrado em grupos de defesa dos direitos humanos em Buenos Aires, que identificava os seus membros mais ativos e depois organizava os seus raptos para serem submetidos a interrogatórios sob tortura na ESMA e mortos em seguida.

Este julgamento juntou membros da ESMA já condenados noutros processos, mas trouxe pela primeira vez a tribunal os pilotos envolvidos nos “voos da morte”, que transportavam os ativistas raptados e sedados pelos torturadores, lançando-os em seguida sobre o Rio de La Plata. Entre eles está Mario Danile Arru, acusado de pilotar o avião que lançou ao rio os sequestrados da Igreja de Santa Cruz, entre eles a primeira líder das Mães da Praça de Mario, Azucena Villaflor, e duas monjas francesas, Alice Dumont y Leonis Duquet.

Para além dos 29 condenados a prisão perpétua, outros 19 acusados tiveram condenações entre 8 e 25 anos de prisão. Seis dos acusados foram absolvidos, como o antigo secretário das Finanças Juan Alemann, um dos poucos civis no banco dos réus. Maior indignação causou a absolvição de Julio Poch, outro piloto acusado de participação nos “voos da morte” e que seguiu carreira na aviação comercial na Holanda, onde adquiriu nacionalidade, como piloto na companhia Transavia. Em 2007, contou num jantar com colegas em Bali que tinha pilotado aviões em que pessoas vivas e sedadas eram lançadas ao mar, e estes denunciaram-no às autoridades holandesas. Aos tribunais, Poch sempre declarou estar inocente e que os colegas teriam percebido mal o que disse.

A leitura da sentença durou mais de três horas e foi recebida à porta do tribunal de Buenos Aires com gritos e aplausos das centenas de familiares e amigos dos desaparecidos, à medida que as condenações eram proclamadas.

 

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