Pela primeira vez em 56 anos os dirigentes europeus decidiram fazer um corte no orçamento da União, e logo de 93 mil milhões de euros, superior à proposta da Comissão, "que já era uma miséria". E quanto aos critérios políticos para o fazer, apesar da crise quase nada foi alterada e a divisão de investimentos continua a ser de 12 euros por vaca para 1,26 euros por jovem.
No orçamento "fazem-se escolhas políticas" lembrou Marisa Matias. Nos discursos pode dizer-se o que se quer e que "se pretende ajudar toda a gente" mas quando se chega o orçamento é que se decide onde se vai investir – "é aí que se faz a política".
Comentando o "envelope" de 500 milhões de euros e o "cheque" de mil milhões que supostamente Portugal irá receber das instituições europeias, a eurodeputada da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleita pelo Bloco de Esquerda sugeriu que se façam contas. Os mil milhões destinam-se a compensar cortes permanentes da ordem dos dez por cento nos fundos de coesão, isto é, nem de perto nem de longe correspondem às perdas permanentes. E os 500 milhões pretendem compensar um corte de mil milhões, não representam um ganho mas a redução a metade de uma perda.
"Os politiqueiros podem estar contentes por trazerem resultados para as próximas eleições", mas a realidade é bem diferente, o que acontece é "que se está a hipotecar o futuro". Segundo Marisa Matias, "dizer-se que se é vitorioso quando se recebe metade ou menos de metade do que se receberia se não houvesse cortes no orçamento não se pode aceitar".
A eurodeputada sublinhou que os critérios de divisão de investimentos no atual orçamento quase replicam os do ano passado, mantendo-se os valores da PAC e aumentando-se muito ligeiramente os dos jovens e do combate ao desemprego, decisão que está de muito longe de contribuir para combater o maior flagelo da União.
Apesar de se tratar ainda de um "acordo de princípio", sujeito a negociações que prosseguem, Marisa Matias lembrou que a última palavra cabe ao Parlamento Europeu, que pode vetar o orçamento".
"O Parlamento Europeu disse que se os cortes fossem acima dos 80 mil milhões de euros haveria um veto, pelo que agora tem a faca e o queijo na mão; mas o Parlamento Europeu já ameaçou muita coisa e acabou por aceitar acordos" a que dizia opor-se, declarou a eurodeputada do Bloco de Esquerda.
Artigo publicado no site do Grupo Parlamentar Europeu do Bloco de Esquerda.