“O país não tem de se afundar sob a tutela dos juros da dívida e das políticas de austeridade”

10 de março 2011 - 5:32

No comício que, nesta quarta feira, encheu a Casa do Alentejo em Lisboa, Rita Silva, Ana Drago, Luís Fazenda e Francisco Louçã afirmaram que perante um “país desesperado, trabalhadores ameaçados, jovens sem alternativa, empobrecimento geral da população, cinismo político, apodrecimento do regime”, o Bloco fez o que “tinha de fazer”: “reagiu com a frontalidade da luta”.

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Comício de Lisboa - Foto de Ana Feijão

“Estamos em todos os combates contra a direita e contra as políticas de austeridade. Nós sabemos que este Governo se desfaz porque é ele que as lançou em primeiro lugar”, afirmou Francisco Louçã sublinhando que “o país não tem de se afundar sob a tutela dos juros da dívida pública e de todas as políticas de austeridade”.

Na primeira intervenção, Rita Silva salientou que os responsáveis da crise financeira usam a “pressão da chantagem” das dívidas soberanas na Europa para fazerem o que “sonhavam há muito: liberalizar os despedimentos, consolidar a precariedade e destruir os serviços públicos, tão apetecíveis ao negócio”.

Ana Drago defendeu a censura ao Governo, “pela insustentabilidade da democracia conviver com “centenas de milhares de histórias de empobrecimento repentino, de perda de um posto de trabalho e de um nível de vida que foi atingido com tanta dificuldade, histórias de ilegalidade e humilhação nas relações de trabalho”. A deputada argumentou também que o Bloco censura o Governo, porque a “direcção do PS, o Governo do PS mentiu ao país, mentiu e enganou os seus eleitores”, decidiu com quem ia “dançar o tango” e “comprou por inteiro todo o programa do PSD”.

Luís Fazenda afirmou que o Bloco censura o Governo “para dar voz a um país assustado”, “ao fio e ao compasso das lutas sociais daqueles que se projectam na rua, daqueles que querem uma vida diferente, daqueles que dizem: Já chega de encruzilhadas queremos alternativas.”

Sublinhando que “o Bloco de Esquerda não é o CDS do PS”, o vice-presidente da Assembleia da República repudiou que a moção de censura proporcionaria o regresso da direita ao Governo, como alguns comentadores opinaram, e realçou: “Não somos andaime para as obras do PS, que está verdadeiramente em estado de sítio, mas também não somos escadote para o PSD”.

Luís Fazenda considerou que, no discurso de posse do segundo mandato, o Presidente da República pretendeu apenas dizer que “quem tem as chaves da residência oficial de São Bento é o inquilino de Belém” e criticando a afirmação de Cavaco Silva de que se candidatou pela juventude deste país, salientou: “A hipocrisia anda a solta, porque a insatisfação dos mais jovens é uma insatisfação que vem do fundo da sociedade portuguesa”. E a terminar, Fazenda sublinhou: “Querem-nos impingir a ideia falsa que a direita há-de capitalizar o destroço do Partido Socialista, pois não há-de ser assim, a esquerda há-de ganhar esse espaço”.

Francisco Louçã começou por analisar o discurso de posse do Presidente da República, considerando que Cavaco Silva se assumiu como “o líder da direita”, e referiu:

“Há dois 'Cavacos Silva': o que fez a campanha para conseguir, à justa, passar a barreira dos 50%, com um discurso de consenso e de passividade, e aquele que hoje, terminada essa campanha e feito o rabisco no livro de actas da tomada de posse dos presidentes, já fala como o líder político da direita e com as propostas políticas da direita que não sufragou, que não submeteu ao debate e que não trouxe à opinião pública”.

O coordenador da comissão política do Bloco ironizou afirmando que Cavaco Silva teve momentos de autocrítica:

“O Presidente Cavaco Silva de 2011 vem agora dizer ao primeiro-ministro Cavaco Silva de 1985 a 1995 que não convém nada à República que haja conúbio entre os interesses económicos e os interesses políticos. Se se tivesse lembrado disso na nomeação do Conselho de Estado, não teríamos tido o escândalo do BPN numa das mais altas instituições do país”, disse Louçã, numa alusão a Dias Loureiro.

Retirando lições da apresentação da moção de censura do Bloco, Francisco Louçã afirmou que “a sociedade renasce se há um movimento popular que recupera o contrato social entre as gerações, se volta a trazer o trabalho para o centro do debate político” e sublinhou:“Nós nunca desistimos dessas propostas de mobilização, para que nasça um movimento popular capaz de enfrentar esta austeridade e que possa disputá-la politicamente, com uma esquerda politicamente forte, socialista, capaz de juntar todas as energias da intervenção de esquerda”.

Francisco Louçã vincou ainda o combate ao rotativismo, desde que o Bloco nasceu, e destacou:

“Quem na esquerda possa pensar que se pode inclinar o rotativismo, desiste do combate mais importante e que nunca foi vencido na esquerda: o combate para juntar forças e que dê às esquerdas a capacidade de romper o rotativismo e tornar claro que não podemos ficar presos para todo o sempre nesta política que vai marcando a diminuição do espaço social”.

Considerando que o país ganha “clareza total”, com a moção de censura Louçã declarou: “Está aqui uma esquerda que quer enfrentar a crise política e social com toda a vontade e com toda a determinação para que se vá construindo a raiz popular, a força política de uma maioria que lute por uma economia decente, de emprego e contra a precariedade”.

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