“É em nome da massa enorme de desempregados e trabalhadores precários que se faz a moção de censura ao Governo” realçou Francisco Louçã numa sessão realizada na Biblioteca Municipal de Setúbal, que juntou cerca de uma centena de pessoas, segundo a agência Lusa. No início, Ana Sequeira da concelhia de Setúbal do Bloco abriu a sessão e lembrou as palavras de José Mário Branco: “Não há graça que não faça o FMI! Não há truque que não lucre ao FMI!”
Francisco Louçã começou por destacar a atitude da direita face à moção de censura ao Governo apresentada pelo Bloco de Esquerda: “um espectáculo notável nunca ocorrido até agora com nenhuma moção de censura: uma unanimidade rapidíssima da direita a apoiar o Governo”.
Para o coordenador da comissão política do Bloco, o PSD recusou a moção de censura sem a ter lido e uniu-se em defesa do Governo, porque “estão à espera do tempo em que é de 'ir ao pote', a expressão de Passos Coelho para dizer tomar conta do Governo”.
Francisco Louçã considerou que o discurso do medo e da inevitabilidade é a base do acordo político entre o PS e o PSD. Acordo que vem do PEC, existia na aprovação do Orçamento para 2011, se prolongou nas medidas dobre o trabalho, se desenvolveu nas medidas financeiras e se projecta na economia, que “está a ser atingida agora por nova vaga especulativa”.
A política com que PS e PSD estão de acordo é, lembrou Louçã: “Baixa de salários, aumento dos impostos, corte do abono de família, redução do subsídio de desemprego, corte no SNS, aumento dos preços de electricidade, aumentos dos preços dos alimentos, aumento do preço dos transportes, privatização dos CTT, da REN e de monopólios do poder do Estado na energia, nos transportes e em outros sectores”.
Depois de lembrar que o primeiro-ministro dizia “há pouco tempo com alguma graça que o PSD só conhece a palavra privatizar, e é inteiramente verdade”, Louçã afirmou: “O problema é que nunca houve nenhum Governo que privatizasse tanto como este. Nunca nenhum Governo foi tão longe na privatização de bens públicos considerados essenciais, como os CTT, como a energia, a rede de distribuição de alta tensão ou como os transportes”.
Considerando que “há um pântano na sociedade portuguesa”, Francisco Louçã disse que a moção de censura pretende dizer que “a pior das soluções é a continuação do ataque aos salários e ao emprego”, é a “degradação da política e a incapacidade de dar resposta” e que, por isso, “ninguém tem que ter medo da democracia: A democracia é sempre uma solução e não é um problema”.
O coordenador da comissão política do Bloco sublinhou ainda que a moção de censura visa enfrentar o rotativismo entre o PS e o PSD, considerando que o Bloco não é um instrumento desse rotativismo, nem o ajuda, “porque é esse rotativismo que tem destruído as opções políticas em Portugal”. “Destruir o bloco central em nome de uma esquerda que possa ter a força para disputar a maioria é a chave de uma estratégia socialista e de uma estratégia emancipatória”, concluiu Francisco Louçã.
Em declarações à agência Lusa e questionado sobre a possibilidade do Governo recorrer em breve à União Europeia e ao FMI, Francisco Louçã disse: “Na verdade o FMI já está a agir, quando o governo procura reduzir a indemnização pelo despedimento, ou facilitar os despedimentos”. Salientando que a pressão financeira está a aumentar, o dirigente do Bloco declarou:
“Portugal está a pagar juros que não pode pagar: 15.000 euros por minuto pelos juros da dívida, mais do que gastamos na educação. Não pode ser. Isto significa que a União Europeia está a favorecer a especulação, juntamente com o FMI”.
Para Francisco Louçã, num país onde há cerca de 700.000 desempregados e cerca de um milhão de trabalhadores com emprego precário, é necessário avançar com medidas alternativas às políticas ditadas pela União Europeia e pelo FMI: “Para combater os falsos recibos verdes é preciso criar contratos que respondam ao direito dos jovens licenciados, cientistas e outros e, para responder ao desemprego, precisamos de uma economia mais equilibrada, onde não pode haver bancos que não pagam impostos”.