Alexandre Soares dos Santos, dono do grupo Jerónimo Martins que detém a cadeia de supermercados Pingo Doce, Recheio e Biedronka (na Polónia), segundo a revista Exame, sobe ao segundo lugar da lista das dez maiores fortunas de Portugal em 2011. O valor da sua fortuna está calculada em 1.917,4 milhões de euros.
Imune à crise nacional e internacional, o grupo Jerónimo Martins vai acumulando fortuna e é empregador de alguns milhares de trabalhadores/as no sector da distribuição alimentar.
A sua presença regular em alguns programas televisivos passam a imagem de um capitalista de rosto humano, sensível aos problemas sociais e defensor que uma economia não cresce com baixos salários.
O jornal “I”, na sua edição do dia 4 de Agosto de 2011, deu grande destaque a uma Carta Aberta do Grupo Jerónimo Martins, enviada aos seus trabalhadores, onde se propunha dar alimentação e apoio na saúde a 1500 trabalhadores em situação de necessidade extrema. O referido jornal pontuou com nota 20 a atitude de Alexandre Soares dos Santos.
O mesmo jornal, em 2009, denunciava os atropelos contra os direitos dos trabalhadores das lojas Biedronka (na Polónia).
Recentemente, foram publicados os resultados líquidos do Grupo Jerónimo Martins do 1º. semestre de 2011 que se traduziram num lucro de 41,4%, correspondendo a vendas consolidadas de 4.751,5 milhões de euros, mais 17,5% do que nos primeiros seis meses do ano anterior.
Com a subida a número dois dos mais ricos de Portugal e com os lucros anunciados, o Grupo Jerónimo Martins e em particular o seu maior accionista, Alexandre Soares dos Santos, decidiram através de Carta Aberta, assumindo o papel de benfeitor, reconhecer que os salários que pagam aos seus trabalhadores/as são miseráveis e de forma “solidária” decidem ajudar os trabalhadores em situações de necessidade extrema.
Os Trabalhadores Não Querem Esmolas, Exigem Salários Dignos.
A fortuna do Grupo Jerónimo Martins cresce fundamentalmente da rentabilidade que obtém no desempenho das lojas Biedronka na Polónia. Com regularidade os jornais polacos fazem notícias sobre os atropelos e condenações que este Grupo exerce sobre os direitos dos trabalhadores.
O Tribunal de Primeira Instância polaco, apoiado em depoimentos de testemunhas e em relatórios da Inspecção-Geral de Trabalho (IGT), confirmou que “existem infracções massivas ao direitos dos trabalhadores/as/ com salário e contrato de part-time que eram obrigados a trabalho completo. Deu como provado que raramente eram pagas horas extraordinárias, eram proibidas idas à casa de banho nas horas laborais, as regras de higiene e segurança são recorrentemente infringidas e quem contestasse era ameaçado de despedimento. As leis laborais nunca foram reconhecidas pelo Grupo Jerónimo Martins. A matriz de desenvolvimento nas lojas da Polónia é desenvolvida com repressão e baixos salários.
É esta matriz que o Jerónimo Martins aplica também aos seus trabalhadores em Portugal. Os milhares de trabalhadores das lojas Pingo Doce, com regularidade concentram-se às portas das lojas, a reclamar salários dignos, contra a descriminação e respeito pelos direitos contratuais.
Os baixos salários dos trabalhadores do Pingo Doce estão congelados. A média mensal que um trabalhador recebe é de 540 euros, e só terão um aumento miserável se permitirem a desregulação dos seus horários de trabalho que se traduzia em terem que trabalhar 12h diárias.
Mas o ataque aos direitos dos trabalhadores assumiu proporções nunca vistas após o 25 de Abril. Numa atitude Salazarenta, os trabalhadores foram confrontados com a decisão de Soares dos Santos de abrir as lojas no 1º. de Maio. A resistência e determinação dos trabalhadores frustraram em parte esta pretensão. O ódio à democracia, à dignificação do trabalho, a violação dos mais elementares direitos dos trabalhadores está presente permanentemente no comportamento do Grupo Jerónimo Martins e as medidas panfletárias, demagógicas que anunciam actos de caridade, servem para branquear comportamentos repugnantes impróprios numa sociedade democrática e num estado de direito.