A 29 de agosto, os EUA anunciavam ter realizado um ataque com um drone em Cabul, no Afeganistão, contra o que classificaram como ameaça iminente. Desse ataque resultaram dez vítimas civis, entre as quais sete crianças. A semana passada, o New York Times apresentava provas que refutavam a história oficial. Agora, são as próprias autoridades militares norte-americanas a classificar como “erro trágico” o sucedido.
O “erro trágico”, que foi uma das derradeiras ações antes de retirar os últimos militares no terreno, poderia ser apresentado como um símbolo da presença norte-americana no Afeganistão. Um drone lançou um míssil Hellfire contra o carro de Zemari Ahmadi, um trabalhador no setor do auxílio humanitário com 43 anos, enquanto este estava estacionado no pátio da sua casa matando-o. Apesar das outras “vítimas colaterais”, ele era o alvo principal e o Pentágono explicou que seria um “facilitador” do Estado Islâmico” cujo automóvel estaria carregado com explosivos que viriam a ser utilizados contra as tropas norte-americanas que estavam de saída do país ou contra os civis que se acumulavam perto do aeroporto de Cabul.
A história veio provar-se errada porque Ahmadi era um trabalhador de uma organização de auxílio humanitário, a californiana Nutrition and Education International que tem fábricas de processamento de soja no Afeganistão de forma a combater a mal-nutrição e cujos movimentos considerados suspeitos se enquadravam todos na sua atividade rotineira de distribuição de alimentos e de transportar colegas de casa para o trabalho. Os alegados explosivos seriam afinal recipientes de água que ele levara para casa para distribuir no seu bairro.
O jornal norte-americano obteve imagens de câmaras de segurança, ouviu colegas e familiares e todos confirmaram a história. E os três peritos em armamento que contactou desmentem a versão oficial de que havia provas de “explosões secundárias significativas” devido “à presença substancial de material explosivo”.
Esta sexta-feira, o general Kenneth F. McKenzie Jr., chefe do Comando Central dos EUA, e o secretário de Defesa, Lloyd J. Austin III, finalmente reconheceram que tudo foi “um erro trágico”. Admitiram a morte de dez civis, quando antes as autoridades militares apenas referiam três, incluindo as crianças, que as informações que através das quais justificara a ação não correspondiam à verdade, nomeadamente que não existia nenhuma ligação entre o alvo e o ISIS-Khorasan e que as suas atividades eram “completamente inofensivas”
Na ocasião apresentaram “condolências sinceras e profundas à família e amigos daqueles que morreram” e colocou a possibilidade de pagar indemnizações. Segundo o comando militar, a operação foi levada a cabo “com a crença profunda” que o ISIS estaria a preparar mais um ataque.