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Eleições no Uruguai: direita em vantagem
Com o atual presidente, Tabaré Vázquez, constitucionalmente impedido de se recandidatar, a aliança de centro-esquerda Frente Ampla (FA), corre o risco de ser afastada do poder, que detém desde há 15 anos.
Assim, apesar de ter sido o mais votado na 1ª volta das eleições presidenciais, o seu candidato, Daniel Martinez, está em dificuldades para ser eleito no 2º turno.
Com a quase totalidade dos boletins escrutinados, o candidato da FA obteve 39,2% dos votos.
Por seu turno, o seu principal opositor, Luis Alberto Lacalle Pou, do conservador Partido Nacional (PN), conseguiu 28,6% dos sufrágios e qualificou-se para disputar a 2ª volta frente a Martinez.
Entretanto, o candidato do centrista Partido Colorado (PC), Ernesto Talvi, não foi além dos 12,3% dos boletins.
A revelação deste ato eleitoral, já prevista nas sondagens, foi o novo partido do Cabido Aberto (PCA), da direita populista, liderado pelo ex-general Guido Martini Rios. Com uma agenda próxima da extrema-direita (por exemplo, contra a “ideologia de género” e com ênfase em medidas repressivas para combater a criminalidade, chegou aos 10,9% dos votos.
Os restantes candidatos não foram além de 1,5% dos votos. Entre estes conta-se Gonzalo Abella, da Unidade Popular (UP), coligação que junta várias formações da esquerda radical e da extrema-esquerda, que não foi além de 0,8% dos boletins.
Por sua vez, os votos brancos e nulos somam 3,6% dos votantes.
Com estes resultados, Luis Lacalle Pou, filho do antigo presidente Luis Alberto Lacalle, parte em vantagem para a ronda decisiva das presidenciais, pois já recebeu o apoio expresso dos dois principais candidatos derrotados e, ainda, do pequeno Partido da Gente (PG), da direita, cujo candidato obteve 1,1% dos sufrágios.
No Uruguai, para além de as eleições parlamentares se realizarem no mesmo dia das presidenciais, o eleitor tem apenas um voto único, para a escolha do Presidente e Vice-Presidente (na mesma lista do primeiro) e das duas câmaras da Assembleia Geral: a Câmara dos Representantes e a Câmara dos Senadores.
A primeira é constituída por 99 membros, eleitos pelo método do quociente eleitoral simples, com os remanescentes a serem atribuídos aos maiores restos, em cada um dos 19 departamentos do país, mas tendo em conta os votos recolhidos por cada lista em todo o país. Já a segunda, composta por 30 senadores (aos quais se junta o vice-presidente, que preside e com direito a voto de desempate), é eleita pelo mesmo método, mas a nível nacional.
Os partidos são, em geral, grandes frentes eleitorais, divididos internamente em várias correntes. Daí a obrigatoriedade de realização de eleições internas em todas as formações para a escolha, quer dos candidatos presidenciais, quer dos que concorrem a deputados e senadores.
A direita, no seu conjunto, conseguiu a maioria em ambas as câmaras, o que facilitará a governação de Lacalle Pou, no caso provável de ser ele o eleito. Um facto preocupante é que nenhuma legislação poderá ser aprovada sem o apoio (ou, pelo menos, a abstenção do PCA). No caso improvável de Martinez conseguir uma inesperada vitória, teria de negociar um acordo com os “colorados” para governar.
Uma curiosidade: o popular ex-presidente “Pepe” Mujica foi eleito para o Senado na lista da Frente Ampla.
Eis os resultados das três eleições, comparados com os de 2015. Entre parêntesis, o número de mandatos na Câmara dos Representantes e no Senado, respetivamente:
Partido | Res. 2019 | CR 2019 | S 2019 | Res. 2015 | CR 2015 | S 2015 |
---|---|---|---|---|---|---|
FA (centro-esquerda) | 38,6% | 42 | 13 | 47,8% | 50 | 15 |
PN (direita conservadora) | 28,2% | 30 | 10 | 30,8% | 32 | 10 |
PC (direita liberal) | 12,2% | 13 | 4 | 13,3% | 13 | 4 |
PCA (direita populista) | 10,7% | 11 | 3 | ----- | ---- | ---- |
PERI (verde liberal) | 1,4% | 1 | ---- | 0,7% | 0 | 0 |
PG (direita) | 1,1% | 1 | ---- | ---- | ---- | ---- |
PI (centro) | 1,0% | 1 | ---- | 3,2% | 3 | 1 |
UP (esquerda) | 0,8% | ---- | ---- | 1,1% | 1 | ---- |
Outros | 1,1% | ---- | ---- | 0,1% | ---- | ---- |
Brancos e nulos | 3,6% | ---- | ---- | 3,7% | ---- | ---- |
Plebiscito chumba medidas securitárias e constitucionalização da prisão perpétua
A participação eleitoral ultrapassou os 90%, mas o voto, no Uruguai, é obrigatório.
Em contrapartida, a esquerda conseguiu uma vitória, com o “chumbo” de uma proposta de emenda constitucional de cariz securitário, apresentada pelo senador Jorge Larrañaga, do PN. Esta pretendia a criação de uma Guarda Nacional, que fossem autorizadas buscas policiais noturnas, o fim da libertação dos presos antes do cumprimento total da pena e o aumento das penas de prisão, com a constitucionalização da prisão perpétua.
Apesar de não ter tido o apoio expresso de nenhum dos candidatos presidenciais (embora alguns tenham proposto medidas similares), recebeu 46,1% dos votos por parte de um eleitorado preocupado com o crescente aumento da criminalidade no país.
De acordo com o jornal uruguaio “El País”, quase 80% dos eleitores do PN e do PCA, acerca de 60% do PC e, ainda, 12% da FA votaram a favor da proposta. O que mostra o perigo de referendar questões de direitos, liberdades e garantias, sempre sujeitas à demagogia populista que sempre gera este tipo de consulta.
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