No artigo “As vidas dos outros”, publicado no passado sábado 26 de outubro no jornal “Diário de Notícias” e republicado no domingo no esquerda.net, a eurodeputada bloquista Marisa Matias denunciava que “a proposta de salvar vidas foi chumbada por dois votos, 290 contra 288” e afirmava: “poucas votações me ficaram tão presas na pele como esta que hoje, quinta-feira, decorreu no plenário em Estrasburgo”.
No mesmo artigo, Marisa Matias dava conta do entusiasmo da extrema-direita com esta votação e sublinhava que “duas deputadas e um deputado do PSD, Cláudia Monteiro de Aguiar, Lídia Pereira e Paulo Rangel” não tinham seguido “o sentido de voto do seu partido ou da sua família política, onde se inclui o CDS/PP”.
Esta situação foi comentada e criticada nas redes sociais nos últimos dias, como se pode verificar pelo tweet abaixo:
MEPs Portugueses que votaram contra a Moção para a Busca e Salvamento de Vidas Humanas no Mediterrâneo. Não passou por 2 votos. A desumanidade destes MEPs não representa este país.
Vergonha@NunoMeloCDS (CDS),
Álvaro Amaro (PSD*)@mgracacarvalho (PSD)
Abst. @JMFernandesEU (PSD) pic.twitter.com/4gqUnGAKas— Joana Morais (@JoanaAMorais) 28 de outubro de 2019
Depois desta denúncia, a eurodeputada Maria Graça Carvalho, eleita pelo PSD, veio esclarecer no twitter que “é falso que tenha tomado posição contra o auxílio aos refugiados. O meu voto, na resolução em causa, foi favorável”:
Esclarecimento: é falso que tenha tomado posição contra o auxílio aos refugiados. O meu voto, na resolução em causa, foi favorável. Houve um erro técnico na votação que corrigi de imediato, ainda na sessão plenária, como poderão confirmar pela imagem. #refugiados #fakenews pic.twitter.com/IQ8FV9BTkq
— Maria Graça Carvalho (@mgracacarvalho) 29 de outubro de 2019
Em esclarecimento à Lusa, o eurodeputado Nuno Melo, eleito pelo CDS, assim como os outros dois eurodeputados, diz que não votou a favor da resolução porque a proposta do PPE foi chumbada. E afirma: “As razões do voto contra à proposta socialista foram: a recusa da distinção entre refugiados e migrantes, sabendo-se que a uns e outros se aplicam leis diferentes, e recursos sempre escassos”. E acrescenta argumentos muito propagandeados pela extrema-direita: a suposta “tentativa de instrumentalização” das ONG, a conjetura de que existe uma “recusa da necessidade da cooperação com países terceiros” ou ainda o negócio de traficantes e grupos criminosos que, afinal, têm sido ajudados pelas políticas da extrema-direita.
Note-se que Nuno Melo, na campanha das eleições europeias declarou que o partido espanhol xenófobo e racista Vox, não é de extrema-direita. (ver artigo no esquerda.net: Candidato do CDS branqueia partido espanhol de extrema-direita).
Álvaro Amaro escreveu na sua declaração de voto que “infelizmente, a presente resolução não teve em conta a posição do meu grupo político. Entendi, assim, seguir a linha de voto indicada pelo PPE e votar contra”. O eurodeputado acrescentou ainda que a UE deve “reforçar urgentemente as missões de busca e salvamento”, apesar desta afirmação ser manifestamente contraditória com o seu voto.