Está aqui

"A vitória do Syriza servirá como locomotiva para a esquerda radical na Europa"

O professor de filosofia política e membro do Comité Central do Syriza Stathis Kouvélakis, que afirma acreditar que o partido liderado por Alexis Tsipras vencerá as eleições de forma contundente, defendeu que o velho sistema político bipartidário "entrou em colapso”.
Stathis Kouvélakis acredita que o Syriza pode ganhar com larga vantagem e assim evitar fazer demasiadas concessões no seu programa de ação.

Numa entrevista conduzida por Mathieu Dejean, para o Les Inrocks, Stathis Kouvélakis frisou que, “para muitas pessoas, as eleições de 25 de janeiro terão uma dimensão continental”.

Segundo o professor de filosofia política, se as formações da esquerda radical europeia forem conquistando vitórias nacionais, poderá ter lugar uma mudança gradual na Europa.

“Esta é a aposta do Syriza!”, frisou Kouvélakis, sublinhando que o seu partido é “profundamente internacionalista, desenvolvendo laços estreitos com as forças políticas da esquerda radical, mas também com os movimentos sociais”.

“Estamos conscientes de que a vitória do Syriza servirá como locomotiva para a esquerda radical e os movimentos sociais na Europa, essa é a nossa razão de ser”, avançou.

O velho sistema político bipartidário entrou em colapso

Durante a entrevista, Kouvélakis defendeu que o crescimento do Syriza se deve a três fatores.

Por um lado, a violência da crise económica e social na Grécia e a sua evolução perante as políticas austeritárias impostas a partir de 2010, através do famoso memorando de entendimento firmado com a troika.

Como segundo fator, o professor de filosofia política apontou o facto de a crise económica e social, à semelhança do que acontece em Espanha, se ter transformado em mais uma crise política, sendo que o velho sistema político bipartidário "entrou em colapso”.

Para Kouvélakis, a ascensão do Syriza deve-se ainda à “mobilização popular”. “Não é por acaso que os dois países na Europa onde a esquerda radical está a registar um impulso são a Grécia e Espanha, ou seja, os países que registaram as maiores mobilizações populares durante os períodos recentes: em Espanha, o movimento Occupy, e, na Grécia, um movimento mais profundo e prolongado”, avançou o filósofo e dirigente político grego.

“O Syriza tem uma cultura unitária, uma abertura aos movimentos sociais, está em sintonia com as mudanças sociais e as novas experiências que surgem, o que não é o caso do Partido Comunista, que permaneceu fora dessa dinâmica”, acrescentou.

Kouvélakis acredita numa vitória contundente do Syriza

Stathis Kouvélakis afirmou acreditar numa vitória contundente do Syriza, lembrando que as sondagens lhe conferem 35% dos votos e que o sistema eleitoral grego atribui cinquenta lugares extra ao partido mais votado.

Por outro lado, o professor de filosofia referiu que o eleitorado grego poderá aperceber-se das inúmeras pressões a que o Syriza está sujeito, dando-lhe uma maioria clara por forma a garantir que o partido liderado por Alexis Tsipras possa cumprir o seu programa sem fazer qualquer tipo de concessões para formar uma maioria.

Acusando a Nova Democracia de não ter outro argumento que não a retórica do medo, Kouvélakis sublinhou que, caso o Syriza não ganhe as eleições, “a perspetiva iminente para o país será muito reacionária e autoritária”. O perigo do peso do Aurora Dourada neste contexto também foi mencionado pelo filósofo.

As prioridades do Syriza

Sobre as prioridades do Syriza, Kouvélakis salientou a necessidade de renegociar a dívida e reverter as medidas de austeridade.

A resposta imediata à emergência social que se vive no país, o que implica a implementação de medidas como garantir o fornecimento de eletricidade a todas as famílias e refeições para todos os alunos nas cantinas, e assegurar o acesso ao sistema de Saúde, que exclui atualmente cerca de três milhões de gregos, faz parte dos planos do Syriza.

Também o aumento do salário mínimo, e a recuperação dos acordos coletivos e da legislação social existentes até 2010, são apontados por Kouvélakis como cruciais.

Para relançar é economia e lidar com o desemprego massivo é necessário investimento público, segundo defendeu o filósofo grego, que aposta uma recuperação “orientada para as necessidades sociais e ambientais”.


A entrevista pode ser consultada em http://www.lesinrocks.com/2014/12/31/actualite/un-succes-de-syriza-en-gr...

(...)

Neste dossier:

O que fará um Governo Syriza?

A três semanas das eleições gregas, o esquerda.net publica as linhas gerais do programa eleitoral e as opiniões de economistas e dirigentes do Syriza sobre os caminhos da mudança política no país e na Europa. Com a dívida e o memorando da troika no centro do debate, apresentamos também alguns relatos dos efeitos da austeridade na vida da população e como a solidariedade tem servido de antídoto à pulverização da resistência. Dossier organizado por Luís Branco.

Tsipras: Em 26 de janeiro, o governo da maioria das pessoas!

A direção do Syriza aprovou por larga maioria as bases do programa de Governo para discussão a Conferência Permanente da coligação. Leia aqui os principais pontos. Artigo do diário Avgi.

“A ameaça a um governo Syriza não virá dos mercados, mas de Berlim e Bruxelas”

O economista Yanis Varoufakis, conselheiro económico do Syriza, defende nesta entrevista que a recuperação grega nunca aconteceu para além da propaganda e que a saída do euro não fará parte da estratégia negocial de um governo liderado por Alexis Tsipras. Publicado em L'Antidiplomatico.

“A economia grega encontra-se numa armadilha da dívida”

Yorgos Stathakis é apontado como possível ministro das Finanças de um governo Syriza. Defensor de uma viragem keynesiana e de um New Deal europeu, quer renegociar a dívida e sair do memorando para dar resposta à crise humanitária na Grécia. Publicado no jornal La Vanguardia.

33 razões por que Atenas (e a Grécia) ainda está em depressão profunda

Neste artigo publicado no blogue Histologion, Mihalis Panagiotakis apresenta os dados concretos dos efeitos da austeridade na vida do povo grego, que se refletiram na capital do país.

Depois dos Merkozy... os Tsiglesias?

Káki Balí, editora de economia do diário Avgi, analisa as reações da imprensa económica internacional ante o cenário de uma vitória da esquerda na Grécia.

Política, mentiras e vídeo

Um homem ligado aos negócios e à política tentou subornar um deputado na recente eleição para presidente. Nada lhe aconteceu, o que mostra bem o estado da corrosão da austeridade nas instituições gregas. Artigo de Nikos Smyrnaios.

O fim político da Primavera Política

Aqui há uns anos, a Nova Democracia escolhia o novo líder que iria suceder a Kostas Karamanlís. Os candidatos eram a filha de Mitsotákis (o fundador do Partido Liberal) e Antónis Samarás vindo do partido Primavera Política. O resultado é conhecido. Artigo de Rias Kalfakákou.

A esperança vencerá o medo

O governo e o primeiro-ministro tanto exploram a arma do medo, que acabam por conseguir o efeito contrário. Ninguém pode aceitar a lógica absolutamente egoísta do "ou eu ou o caos" ou considerar o direito de voto como uma insignificância. Artigo de Kalyvis Alékos.

"A vitória do Syriza servirá como locomotiva para a esquerda radical na Europa"

O professor de filosofia política e membro do Comité Central do Syriza Stathis Kouvélakis, que afirma acreditar que o partido liderado por Alexis Tsipras vencerá as eleições de forma contundente, defendeu que o velho sistema político bipartidário "entrou em colapso”.

“O Syriza precisa de um mandato claro e forte nas eleições”

Argiris Panagopoulos, jornalista e membro do Syriza, falou ao esquerda.net sobre a situação política grega no momento em que o governo de Samarás ainda tentava eleger o seu candidato presidencial.

Manifesto alemão contra a “campanha do medo” na Grécia

Declaração subscrita por personalidades do meio sindical, cultural e político da Alemanha contra a ingerência de Berlim e Bruxelas nas eleições gregas.

Austeridade arrasou sistema público de saúde na Grécia

Num país onde faltam profissionais, medicamentos e material médico e hospitalar, 3 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados médicos. Para encher os cofres dos seus credores - aos quais pagou 63 mil milhões de euros em 2013 - o governo grego promoveu um verdadeiro saque fiscal e cortou drasticamente nas áreas sociais, como a Saúde e a Educação.

Solidariedade contra a austeridade: o exemplo da saúde na Grécia

A Clínica Comunitária Metropolitana de Helliniko é um exemplo de resposta cidadã e mobilização social pelo direito à saúde. Relato de uma visita efetuada no verão de 2014.

Documentário: "Que ninguém fique só no meio da crise"

Filmado em julho de 2013 na região de Atenas, este mini-documentário dá a conhecer algumas das redes de solidariedade e ajuda mútua erguidas pelas vítimas da austeridade e pela esquerda grega. Realizado por Jorge Costa e Bruno Cabral.