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O fim político da Primavera Política

Aqui há uns anos, a Nova Democracia escolhia o novo líder que iria suceder a Kostas Karamanlís. Os candidatos eram a filha de Mitsotákis (o fundador do Partido Liberal) e Antónis Samarás vindo do partido Primavera Política. O resultado é conhecido. Artigo de Rias Kalfakákou.
Os aliados de Samarás foram abandonando o primeiro-ministro ao longo dos dois anos e meio do governo da troika. Foto PM grego/Flickr

O Sr. Samarás, depois de ter conduzido a ND à sua mais baixa percentagem eleitoral em Maio de 2012, com apenas 19%, conseguiu escapar-se nas eleições de Junho de 2012 com a escassa margem de 2% relativamente ao SYRIZA, socorrendo-se da campanha do medo. Em seguida, uma vez que incorporou na sua equipa membros do partido de extrema-direita LAOS, constituiu um governo que aparentemente dispunha de um espectro político fenomenal, incluindo um PASOK mutante social-liberal e a DIM.AR. (Esquerda Democrática), uma cisão da área do Syriza que, apesar dos ensinamentos do passado recente, deu o passo fatal. Quando finalmente a DIM.AR. deixou de ser útil para dar um verniz democrático à coligação, foi com alívio que a deixaram sair, após o golpe de Estado na televisão pública ERT.

Depois de um breve período de namoro com a Aurora Dourada, o Sr. Samarás viu como a área da extrema-direita o considerava e de repente descobriu que se trata de uma organização criminosa. Felizmente para a democracia.

Depois de um breve período de namoro com a Aurora Dourada, o Sr. Samarás viu como a área da extrema-direita o considerava e de repente descobriu que se trata de uma organização criminosa. Felizmente para a democracia. Enterrando-se cada vez mais no Memorando e na retórica da guerra civil, o Sr. Samarás cometia erro atrás de erro. Os cenários dos dois extremos não resultavam, a success story só dava vontade de rir, os seus aliados na Europa não o deixavam respirar pedindo novas medidas de austeridade cada vez mais duras. Vendo que não tinha nada a prometer a uma sociedade mergulhada na miséria, voltou a recorrer à carta do medo e da instabilidade, jogando aos dados a vida de uma criança.

Indiferente às eventuais consequências para a democracia, que não pode aguentar uma morte cuja responsabilidade é do Estado, assustava um auditório nacional mal informado com gritos alarmistas, invocando o caos e a destruição para atacar o SYRIZA. Felizmente, o presidente ouviu o apelo angustiado de Aléxis Tsipras. O Sr. Venizelos, incompetente na grande política, mas arguto na política de pequena escala, obrigou-o a desistir.

Não dispondo de mais outras armas que se encaixassem no seu perfil de extrema-direita, abandonou a meio as negociações com a troika e convocou eleições para a presidência. Os seus aliados começaram a abandoná-lo. Mas o fim político do Sr. Samarás não irá prejudicar o mínimo nem o povo nem o país.


Rias Kalfakákou é professora na Universidade Aristóteles em Salónica. Artigo publicado no diário Avgi a 1 de janeiro de 2015. Tradução de Manuel Resende para o esquerda.net.

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Neste dossier:

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A três semanas das eleições gregas, o esquerda.net publica as linhas gerais do programa eleitoral e as opiniões de economistas e dirigentes do Syriza sobre os caminhos da mudança política no país e na Europa. Com a dívida e o memorando da troika no centro do debate, apresentamos também alguns relatos dos efeitos da austeridade na vida da população e como a solidariedade tem servido de antídoto à pulverização da resistência. Dossier organizado por Luís Branco.

Tsipras: Em 26 de janeiro, o governo da maioria das pessoas!

A direção do Syriza aprovou por larga maioria as bases do programa de Governo para discussão a Conferência Permanente da coligação. Leia aqui os principais pontos. Artigo do diário Avgi.

“A ameaça a um governo Syriza não virá dos mercados, mas de Berlim e Bruxelas”

O economista Yanis Varoufakis, conselheiro económico do Syriza, defende nesta entrevista que a recuperação grega nunca aconteceu para além da propaganda e que a saída do euro não fará parte da estratégia negocial de um governo liderado por Alexis Tsipras. Publicado em L'Antidiplomatico.

“A economia grega encontra-se numa armadilha da dívida”

Yorgos Stathakis é apontado como possível ministro das Finanças de um governo Syriza. Defensor de uma viragem keynesiana e de um New Deal europeu, quer renegociar a dívida e sair do memorando para dar resposta à crise humanitária na Grécia. Publicado no jornal La Vanguardia.

33 razões por que Atenas (e a Grécia) ainda está em depressão profunda

Neste artigo publicado no blogue Histologion, Mihalis Panagiotakis apresenta os dados concretos dos efeitos da austeridade na vida do povo grego, que se refletiram na capital do país.

Depois dos Merkozy... os Tsiglesias?

Káki Balí, editora de economia do diário Avgi, analisa as reações da imprensa económica internacional ante o cenário de uma vitória da esquerda na Grécia.

Política, mentiras e vídeo

Um homem ligado aos negócios e à política tentou subornar um deputado na recente eleição para presidente. Nada lhe aconteceu, o que mostra bem o estado da corrosão da austeridade nas instituições gregas. Artigo de Nikos Smyrnaios.

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A esperança vencerá o medo

O governo e o primeiro-ministro tanto exploram a arma do medo, que acabam por conseguir o efeito contrário. Ninguém pode aceitar a lógica absolutamente egoísta do "ou eu ou o caos" ou considerar o direito de voto como uma insignificância. Artigo de Kalyvis Alékos.

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O professor de filosofia política e membro do Comité Central do Syriza Stathis Kouvélakis, que afirma acreditar que o partido liderado por Alexis Tsipras vencerá as eleições de forma contundente, defendeu que o velho sistema político bipartidário "entrou em colapso”.

“O Syriza precisa de um mandato claro e forte nas eleições”

Argiris Panagopoulos, jornalista e membro do Syriza, falou ao esquerda.net sobre a situação política grega no momento em que o governo de Samarás ainda tentava eleger o seu candidato presidencial.

Manifesto alemão contra a “campanha do medo” na Grécia

Declaração subscrita por personalidades do meio sindical, cultural e político da Alemanha contra a ingerência de Berlim e Bruxelas nas eleições gregas.

Austeridade arrasou sistema público de saúde na Grécia

Num país onde faltam profissionais, medicamentos e material médico e hospitalar, 3 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados médicos. Para encher os cofres dos seus credores - aos quais pagou 63 mil milhões de euros em 2013 - o governo grego promoveu um verdadeiro saque fiscal e cortou drasticamente nas áreas sociais, como a Saúde e a Educação.

Solidariedade contra a austeridade: o exemplo da saúde na Grécia

A Clínica Comunitária Metropolitana de Helliniko é um exemplo de resposta cidadã e mobilização social pelo direito à saúde. Relato de uma visita efetuada no verão de 2014.

Documentário: "Que ninguém fique só no meio da crise"

Filmado em julho de 2013 na região de Atenas, este mini-documentário dá a conhecer algumas das redes de solidariedade e ajuda mútua erguidas pelas vítimas da austeridade e pela esquerda grega. Realizado por Jorge Costa e Bruno Cabral.