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Depois dos Merkozy... os Tsiglesias?
A imprensa internacional continuava ontem [31 de Dezembro de 2014], a analisar e a elaborar cenários para o dia seguinte na Grécia. A magna pergunta era o que aconteceria se o Syriza governar, se daí resultaria um conflito com os outros Estados-Membros e que consequências tal teria nas políticas e na economia da Eurozona. O cenário da saída do euro da Grécia (Grexit) pesa pouco — devido principalmente a que muitos analistas acham que o conflito não seria grande (Financial Times, Barclays) —, como também se considera ser pequeno o risco de propagação da crise a outros países da periferia, por força do compromisso do Banco Central Europeu de fazer “o que for necessário” para defender a moeda comum.
O tom é dado pelas declarações do presidente da International Capital Strategies, David Gordon, à CNBC: “Continuo a acreditar que é improvável que a Grécia saia do euro, mas não é impossível.”
O cenário da saída do euro da Grécia (Grexit) pesa pouco — devido principalmente a que muitos analistas acham que o conflito não seria grande (Financial Times, Barclay’s) —, como também se considera ser pequeno o risco de propagação da crise a outros países da periferia, por força do compromisso do Banco Central Europeu de fazer “o que for necessário” para defender a moeda comum.
Em contrapartida, poucos são os políticos europeus que comentam em público os acontecimentos na Grécia, uma vez que a posição principal neste momento é de que “não interferimos nos processos democráticos doutro país.” De qualquer modo, os poucos alemães que não conseguem manter-se de boca fechada não escondem que sofrem com a possibilidade de ver alterada a política da austeridade. Por exemplo, o vice-presidente do grupo parlamentar do partido de Merkel, Michael Fuchs, avisa: “Se o Alexis Tsipras do Syriza julga que pode abrandar os esforços no domínio dos cortes e das reformas, então também a troika deve abrandar o ritmo das prestações do empréstimo à Grécia”.
No polo oposto, o economista Thomas Piketty, autor do best-seller mundial “O Capital no séc. XXI” dá um conselho original à elite política europeia nas páginas do Libération. Piketty considera que para a Europa em 2015 as perspectivas que existem são três: uma nova crise financeira, um sismo político vindo da esquerda e um sismo político vindo da direita. “Os líderes europeus devem reconhecer que a segunda hipótese é de longe a melhor. A Europa, em vez de rejeitar partidos como o Podemos e o Syriza, deve colaborar com eles com vista à refundação democrática da UE. Ou então, o sismo político virá da direita e será poderoso. Em França, o Front National pode obter grandes ganhos nas eleições locais de Dezembro próximo. Certamente, pode também acontecer o menos provável nos dias de hoje: que François Hollande reconheça os seus erros e estenda a mão à Europa do Sul”.
A ideia de Piketty perpassou pela cabeça dos analistas da Bloomberg, o que não quer dizer que necessariamente lhes agrade. Assim sendo, escrevem que tal como os Merkozy (de Merkel e Sarkozy, até este perder as eleições francesas) assumiram informalmente o comando da UE para gerir a crise, “talvez tenhamos agora perante nós uma nova aliança”. Querem com isso dizer uma aliança entre o grego Syriza e o espanhol Podemos, a que presidem Alexis Tsipras e Pablo Iglesias, respectivamente. “Tsiglesias”, então, pode ser a “nova moda” na Eurozona em 2015, uma vez que também a Espanha tem eleições já no Outono e o Podemos “já se bate nas sondagens com os grandes partidos”. Além disso, “tal como o Syriza, também o Podemos se opõe vigorosamente ao rumo traçado pela Eurozona”.
Publicado no diário Avgi de 1 de janeiro de 2015. Tradução de Carlos Leite para o esquerda.net.
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