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Depois dos Merkozy... os Tsiglesias?

Káki Balí, editora de economia do diário Avgi, analisa as reações da imprensa económica internacional ante o cenário de uma vitória da esquerda na Grécia.
Pablo Iglesias e Alexis Tsipras são agora as principais vozes da desobediência dos povos do Sul da Europa às imposições de Berlim e Bruxelas.

A imprensa internacional continuava ontem [31 de Dezembro de 2014], a analisar e a elaborar cenários para o dia seguinte na Grécia. A magna pergunta era o que aconteceria se o Syriza governar, se daí resultaria um conflito com os outros Estados-Membros e que consequências tal teria nas políticas e na economia da Eurozona. O cenário da saída do euro da Grécia (Grexit) pesa pouco — devido principalmente a que muitos analistas acham que o conflito não seria grande (Financial Times, Barclays) —, como também se considera ser pequeno o risco de propagação da crise a outros países da periferia, por força do compromisso do Banco Central Europeu de fazer “o que for necessário” para defender a moeda comum.
O tom é dado pelas declarações do presidente da International Capital Strategies, David Gordon, à CNBC: “Continuo a acreditar que é improvável que a Grécia saia do euro, mas não é impossível.”

O cenário da saída do euro da Grécia (Grexit) pesa pouco — devido principalmente a que muitos analistas acham que o conflito não seria grande (Financial Times, Barclay’s) —, como também se considera ser pequeno o risco de propagação da crise a outros países da periferia, por força do compromisso do Banco Central Europeu de fazer “o que for necessário” para defender a moeda comum.

Em contrapartida, poucos são os políticos europeus que comentam em público os acontecimentos na Grécia, uma vez que a posição principal neste momento é de que “não interferimos nos processos democráticos doutro país.” De qualquer modo, os poucos alemães que não conseguem manter-se de boca fechada não escondem que sofrem com a possibilidade de ver alterada a política da austeridade. Por exemplo, o vice-presidente do grupo parlamentar do partido de Merkel, Michael Fuchs, avisa: “Se o Alexis Tsipras do Syriza julga que pode abrandar os esforços no domínio dos cortes e das reformas, então também a troika deve abrandar o ritmo das prestações do empréstimo à Grécia”.

No polo oposto, o economista Thomas Piketty, autor do best-seller mundial “O Capital no séc. XXI” dá um conselho original à elite política europeia nas páginas do Libération. Piketty considera que para a Europa em 2015 as perspectivas que existem são três: uma nova crise financeira, um sismo político vindo da esquerda e um sismo político vindo da direita. “Os líderes europeus devem reconhecer que a segunda hipótese é de longe a melhor. A Europa, em vez de rejeitar partidos como o Podemos e o Syriza, deve colaborar com eles com vista à refundação democrática da UE. Ou então, o sismo político virá da direita e será poderoso. Em França, o Front National pode obter grandes ganhos nas eleições locais de Dezembro próximo. Certamente, pode também acontecer o menos provável nos dias de hoje: que François Hollande reconheça os seus erros e estenda a mão à Europa do Sul”.

A ideia de Piketty perpassou pela cabeça dos analistas da Bloomberg, o que não quer dizer que necessariamente lhes agrade. Assim sendo, escrevem que tal como os Merkozy (de Merkel e Sarkozy, até este perder as eleições francesas) assumiram informalmente o comando da UE para gerir a crise, “talvez tenhamos agora perante nós uma nova aliança”. Querem com isso dizer uma aliança entre o grego Syriza e o espanhol Podemos, a que presidem Alexis Tsipras e Pablo Iglesias, respectivamente. “Tsiglesias”, então, pode ser a “nova moda” na Eurozona em 2015, uma vez que também a Espanha tem eleições já no Outono e o Podemos “já se bate nas sondagens com os grandes partidos”. Além disso, “tal como o Syriza, também o Podemos se opõe vigorosamente ao rumo traçado pela Eurozona”.


Publicado no diário Avgi de 1 de janeiro de 2015. Tradução de Carlos Leite para o esquerda.net.

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Neste dossier:

O que fará um Governo Syriza?

A três semanas das eleições gregas, o esquerda.net publica as linhas gerais do programa eleitoral e as opiniões de economistas e dirigentes do Syriza sobre os caminhos da mudança política no país e na Europa. Com a dívida e o memorando da troika no centro do debate, apresentamos também alguns relatos dos efeitos da austeridade na vida da população e como a solidariedade tem servido de antídoto à pulverização da resistência. Dossier organizado por Luís Branco.

Tsipras: Em 26 de janeiro, o governo da maioria das pessoas!

A direção do Syriza aprovou por larga maioria as bases do programa de Governo para discussão a Conferência Permanente da coligação. Leia aqui os principais pontos. Artigo do diário Avgi.

“A ameaça a um governo Syriza não virá dos mercados, mas de Berlim e Bruxelas”

O economista Yanis Varoufakis, conselheiro económico do Syriza, defende nesta entrevista que a recuperação grega nunca aconteceu para além da propaganda e que a saída do euro não fará parte da estratégia negocial de um governo liderado por Alexis Tsipras. Publicado em L'Antidiplomatico.

“A economia grega encontra-se numa armadilha da dívida”

Yorgos Stathakis é apontado como possível ministro das Finanças de um governo Syriza. Defensor de uma viragem keynesiana e de um New Deal europeu, quer renegociar a dívida e sair do memorando para dar resposta à crise humanitária na Grécia. Publicado no jornal La Vanguardia.

33 razões por que Atenas (e a Grécia) ainda está em depressão profunda

Neste artigo publicado no blogue Histologion, Mihalis Panagiotakis apresenta os dados concretos dos efeitos da austeridade na vida do povo grego, que se refletiram na capital do país.

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Política, mentiras e vídeo

Um homem ligado aos negócios e à política tentou subornar um deputado na recente eleição para presidente. Nada lhe aconteceu, o que mostra bem o estado da corrosão da austeridade nas instituições gregas. Artigo de Nikos Smyrnaios.

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Aqui há uns anos, a Nova Democracia escolhia o novo líder que iria suceder a Kostas Karamanlís. Os candidatos eram a filha de Mitsotákis (o fundador do Partido Liberal) e Antónis Samarás vindo do partido Primavera Política. O resultado é conhecido. Artigo de Rias Kalfakákou.

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O governo e o primeiro-ministro tanto exploram a arma do medo, que acabam por conseguir o efeito contrário. Ninguém pode aceitar a lógica absolutamente egoísta do "ou eu ou o caos" ou considerar o direito de voto como uma insignificância. Artigo de Kalyvis Alékos.

"A vitória do Syriza servirá como locomotiva para a esquerda radical na Europa"

O professor de filosofia política e membro do Comité Central do Syriza Stathis Kouvélakis, que afirma acreditar que o partido liderado por Alexis Tsipras vencerá as eleições de forma contundente, defendeu que o velho sistema político bipartidário "entrou em colapso”.

“O Syriza precisa de um mandato claro e forte nas eleições”

Argiris Panagopoulos, jornalista e membro do Syriza, falou ao esquerda.net sobre a situação política grega no momento em que o governo de Samarás ainda tentava eleger o seu candidato presidencial.

Manifesto alemão contra a “campanha do medo” na Grécia

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Austeridade arrasou sistema público de saúde na Grécia

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Solidariedade contra a austeridade: o exemplo da saúde na Grécia

A Clínica Comunitária Metropolitana de Helliniko é um exemplo de resposta cidadã e mobilização social pelo direito à saúde. Relato de uma visita efetuada no verão de 2014.

Documentário: "Que ninguém fique só no meio da crise"

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