STCP: Política de destruição favorece interesses privados

As viagens perdidas por falta de pessoal tripulante correspondem a 2 dias de greve por mês! Se a STCP neste momento não assegura o serviço de excelência a que os trabalhadores e os utentes se habituaram, tal apenas acontece devido à gestão protagonizada por este Conselho de Administração e pelo Governo. Artigo de Isaque Palmas.

17 de abril 2015 - 20:21
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Tenho vindo a acompanhar as declarações e acções do Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, as quais me fazem questionar se este governante conhece a realidade do que se passa na STCP ou se será mero incompetente.

O que tem demonstrado parece girar em torno de interesses privados estabelecidos e de acordo com uma política de destruição, neste caso, de mais uma empresa pública.

A STCP é uma empresa com mais de 140 anos de existência e os seus trabalhadores sempre prestaram um serviço de excelência, sendo o mesmo reconhecido internacionalmente.

Em 2011, a STCP era uma empresa equilibrada do ponto de vista operacional mas, em 4 anos de medidas impostas à empresa por este governo, perdeu quase 30% dos seus passageiros e os preços aumentaram em média mais 20% em termos acumulados. Assim se preparam os cidadãos para aceitarem a entrada de privados num setor público que funciona: com menos e pior serviço a preços mais elevados.

A STCP tem condições, como teve até 2011, para assegurar o serviço a que está obrigada e apenas por falta de trabalhadores não está a cumprir. Isto só acontece porque a Administração da STCP e este Governo não autorizam a contratação de novos motoristas.

A STCP tem condições, como teve até 2011, para assegurar o serviço a que está obrigada e apenas por falta de trabalhadores não está a cumprir. Isto só acontece porque a Administração da STCP e este Governo não autorizam a contratação de novos motoristas.

A cegueira de uma gestão meramente vocacionada para preparar o processo de subconcessão de modo a que este dê o máximo lucro a privados, tem vindo a ignorar intencionalmente o martírio diário da população, que desespera à espera nas paragens por autocarros previstos em horário que não aparecem. Para as pessoas, estas falhas traduzem-se em consultas perdidas, descontos nos salários por entradas atrasadas ao serviço, faltas dos estudantes às primeiras aulas e a exames, demorar mais uma hora para chegar a casa ao fim do dia, e numa redução da qualidade de vida.

E isto não é culpa dos trabalhadores da STCP que conhecem os clientes, ouvem as suas queixas e sentem as suas dificuldades, e com enorme esforço, sentido de responsabilidade e dedicação, trabalham incansavelmente para minimizar os impactos desta gestão em todos os aspectos do serviço.

Os motoristas da STCP trabalham mais do que a generalidade das empresas de transporte urbano de passageiros. Em 2013, cada motorista conduziu em média mais de 26.000 km. Desafio o Governo a apresentar outra empresa de transporte urbano de passageiros com este nível de produtividade do seu pessoal tripulante na União Europeia.

Mais chocado fico quando somos acusados pelo Secretário de Estado e pela própria Administração desta empresa de um grave problema de assiduidade por parte dos trabalhadores, quando, na realidade, estamos ao nível das melhores empresas públicas ou privadas neste parâmetro em termos europeus, mesmo comparados com empresas que praticam horários semanais de 35 horas.

Os motoristas da STCP são empenhados e produtivos, realizando a prestação de um serviço digno, ainda que neste momento se encontrem exaustos, devido à sobrecarga de horas extra e por verificarem que o seu esforço e empenho são inglórios.

Os motoristas da STCP são empenhados e produtivos, realizando a prestação de um serviço digno, ainda que neste momento se encontrem exaustos, devido à sobrecarga de horas extra e por verificarem que o seu esforço e empenho são inglórios.

Mas, neste ponto, não se pode deixar sobretudo de alertar para o perigo que constituem tais condições de trabalho. O Governo e a Administração da STCP devem ser responsabilizados por qualquer acidente que se venha a verificar devido à fadiga do pessoal tripulante desta empresa, sujeito a jornadas de trabalho sucessivas de 14 horas diárias de condução, contra todas as regras de segurança.

As agressões a motoristas multiplicam-se. O descontentamento dos utentes é crescente e justificado, mas a situação está próxima de se tornar incontrolável. Já se verificaram manifestações de utentes e são diárias as invasões das instalações da STCP por quem se vê privado de transporte, com ameaças e agressões aos responsáveis da empresa, que se escondem confortavelmente no seu gabinete de administração ou em Lisboa.

Quem faz greve é o Governo e a Administração da STCP. As viagens perdidas por falta de pessoal tripulante correspondem a 2 dias de greve por mês! Se a STCP neste momento não assegura o serviço de excelência a que os trabalhadores e os utentes se habituaram, tal apenas acontece devido à gestão protagonizada por este Conselho de Administração e pelo Governo.

Durante o ano de 2014, as falhas de serviço da STCP corresponderam a 14 dias de greve. Destes 14, 12 dias foram originados pela má gestão do Conselho de Administração da STCP e do Governo de Portugal ao não contratarem novos motoristas. Atualmente, durante um mês, mais de 50% dos passageiros da STCP são afetados por faltas de viagem.

Mas não é só no número de viagens que a vertigem destruidora se está a fazer sentir. A gestão da STCP limita-se praticamente à aprovação anual do Relatório e Contas e pouco mais.

Existem departamentos sem direção há vários meses, com acumulação de funções e sobrecarga generalizada de trabalho por parte dos trabalhadores de suporte e manutenção, que procuram manter a empresa em funcionamento, mau grado a confusão criada pela falta de decisões superiores ou pela confusão propositadamente instalada. Não obstante este esforço, apenas são asseguradas as atividades essenciais ao funcionamento mínimo da empresa.

Neste momento, existe mesmo a preparação da entrega de algumas linhas a operadores privados tendo a STCP que pagar mais por este serviço ao quilómetro do que pagaria se contratasse novos motoristas desde já, que são necessários o mais depressa possível ao serviço, quer haja ou não concessão. Preferem, contudo, mais uma vez, ir ao bolso dos contribuintes do que criar as condições para um bom serviço.

Como tem sido marca deste governo, as trapalhadas jurídicas também passaram a fazer parte do dia a dia da STCP. A quantidade de processos em que a empresa é arguida subiu muito, envolvendo desde despedimentos sem justa causa a concursos públicos mal efectuados e deficiente legalização de linhas.

Quando ouço o Secretário de Estado dos Transportes e o Ministro da Economia a anunciarem que a empresa espanhola que vai operar a rede da STCP vai trazer 300 novos autocarros, pergunto se estes senhores leram o Caderno de Encargos que eles próprios elaboraram, no qual se prevê que o operador poderá comprar viaturas com 10 anos. Será isto uma nova forma de modernização e ajudar o Ambiente?! Vamos falar sério e parar de tentar enganar os portugueses!

Acreditamos que esta Administração constituirá apenas uma memória de um período traumático de uma organização que já existia antes de estes senhores nascerem.

Apesar de a Administração da STCP ser destruidora e incompetente, os seus trabalhadores estão motivados para devolver a STCP aos seus utentes e voltar a fazer da mesma uma empresa de referência no sector.

Apesar de a Administração da STCP ser destruidora e incompetente, os seus trabalhadores estão motivados para devolver a STCP aos seus utentes e voltar a fazer da mesma uma empresa de referência no sector.

A gestão destruidora desta empresa durante os últimos 3 anos acaba por se virar contra si própria, pois no intuito de concessionar à pressa e a qualquer preço, acabou por conseguir apenas uma proposta de um operador estrangeiro, que está prestes a abandonar o “autocarro” perante tal panorama.

O Senhor Secretário de Estado parece agora um noivo abandonado no altar... Para quem sabe tudo e ouve tão pouco, é sem dúvida uma ironia.

* Isaque Palmas, membro da Comissão de Trabalhadores da STCP

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