Que é feito da "empresária" Isabel dos Santos?

Uma "grande empresária", assim foi tratada Isabel dos Santos desde que aqui começou a investir a fortuna do petróleo angolano.

21 de janeiro 2020 - 17:29
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Proença de Carvalho, advogado de negócios e pivot da articulação dos capitais luso-angolanos, assegurava em 2013 que "não é por ser filha do presidente que [Isabel dos Santos] teve o sucesso que está a ter" (RTP, 28.8.2013). Proença de Carvalho foi, como tantos outros advogados, gestores e políticos portugueses, administrador de empresas controladas por capitais angolanos associados à esfera da cleptocracia dirigida por José Eduardo dos Santos. O agora seu sócio, Jorge Brito Pereira, é chairman da Nos e presidente da Assembleia-Geral da Efacec e dos bancos BIC e BFA, onde Isabel dos Santos detém participações. Brito Pereira controla ainda a Matter Business Solutions, uma empresa-fachada de Isabel dos Santos criada para desviar fundos da Sonangol, petrolífera estatal angolana, para o Dubai.

Com a saída de José Eduardo dos Santos da presidência, a "empresária" caiu em desgraça, e não tardará a surgir quem se apresente surpreendido com o escândalo. Mas há décadas que a família dos Santos, os seus amigos e generais pilham o povo angolano e usam Portugal para reciclar as fortunas da corrupção com a complacência de todos os governos e quase todos os partidos políticos, do PCP ao CDS. A exceção foi o Bloco de Esquerda que, ao longo de 20 anos, denunciou este conluio e os seus protagonistas. Eles estavam no BES, através do BESA e da ESCOM; estavam no BIC gerido por Mira Amaral (PSD) e Teixeira dos Santos (PS), na Finertec, por onde passaram Miguel Relvas (PSD) e Marcos Perestrello (PS); no Finibanco Angola e no obscuro BNI Europa, envolvidos no escândalo Montepio; no BPI e no Millenium Angola, que abrigou o ex-presidente do PSD Fernando Nogueira e também Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do PSD que há dois anos pedia "bom senso" e "recato" na condução do processo contra o vice-presidente de Eduardo dos Santos, Manuel Vicente.

Isabel dos Santos é o expoente da burguesia angolana formada na drenagem da riqueza do país sob o regime comandado pelo seu pai. E a relação dessa burguesia com Portugal mantém uma forte marca na nossa economia, da Banca à indústria, passando pela Comunicação Social, e das famílias políticas aos negócios de família, como os dos grupos Amorim, Mello e Sonae.

Agora, espera-se que o "bom senso" leve a justiça portuguesa a julgar os crimes económicos desta elite e que os estados português e angolano definam soluções justas que protejam o futuro das empresas portuguesas de que Isabel dos Santos se apropriou à custa do povo angolano.

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 21 de janeiro de 2020

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