Mariana Mortágua

Deputada. Coordenadora do Bloco de Esquerda. Economista.

Canais seguros de entrada, regularização, reagrupamento de famílias é o único caminho da decência. Sei que não é popular, neste tempo em que líderes políticos fantasiam com imigrantes que se alimentam de animais domésticos. Mas é aqui que reside a defesa da decência, do direito internacional, da democracia e da economia.

Hoje, ter orgulho da lei do aborto, como do processo político que a permitiu, é dizer que chegou o tempo de a rever.  Como sempre, para não recuar é preciso avançar.

O que têm em comum duas leis separadas por 16 anos, uma feita pelo governo de Sócrates e a outra pelo de Luís Montenegro?

Quem aprovará o próximo orçamento? A troco de quê? Da direita a parte da esquerda, todos querem estar na fotografia: ensaia-se um suspense “praticamente impossível” sobre o voto para mostrar “disponibilidade negocial”.

Em vez de resolver os problemas administrativos que impediam a regularização de imigrantes, Luís Montenegro preferiu quebrar a regra de humanidade elementar que sustinha a lei portuguesa: quem cá vive e trabalha deve ser incluído na comunidade.

Os imigrantes fazem de Portugal um país melhor. E Portugal será um país melhor se houver menos burocracia e mais regularização. Menos entraves e mais integração. Menos conversa sobre “portugueses de bem” e mais trabalho a ensinar bem o português.
 

O Portugal do passinho-menor-que-a-perna ficará sempre atrasado, porque as condições de crescimento não passam no garrote da contenção orçamental.

O conceito de “nómada digital” está carregado de simbolismo ideológico e conta com o entusiasmo parolo de quem, ansioso por dar prova de cosmopolitismo, é presa fácil para histórias de unicórnios e carochinhas.

Com o sacrifício dos salários e do investimento estruturante, ressoam no debate orçamental ecos de outros tempos.

Esta é a minha última crónica. Na semana passada, o Jornal de Notícias comunicou-me que deixará de ter titulares de cargos públicos como colunistas regulares. Assim, termina hoje a minha presença nesta página, onde escrevi com dedicação quase todas as semanas ao longo dos últimos sete anos.