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“O Syriza precisa de um mandato claro e forte nas eleições”

Argiris Panagopoulos, jornalista e membro do Syriza, falou ao esquerda.net sobre a situação política grega no momento em que o governo de Samarás ainda tentava eleger o seu candidato presidencial.
Argiris Panagopoulos é jornalista no diário Avgi e membro do Departamento Europeu do Syriza.

A primeira votação do candidato de Samaras falhou. Que cenário podemos esperar nas próximas?

O Governo tem uma maioria limitada de 155 deputados em 300. Para eleger um novo presidente precisa pelo menos de 180 deputados. Temos assistido a uma campanha intimidatória por parte não só do Governo mas também da troika e da Comissão Europeia. Junto com os media, dirigem essa campanha contra os deputados independentes e o povo grego. Mas a verdadeira complicação para Samaras e a Troika é que é cada vez mais curta a possibilidade de encontrar deputados dispostos a votar a completa destruição do seu país.

Apesar dos apelos de Samaras, o Syriza está a ganhar avanço em todas as sondagens. Que efeito poderá ter a dramatização na campanha eleitoral?

A direita, os socialistas, os banqueiros, os especuladores e os mais reacionários que se escondem nas instituições europeias já começaram a campanha para meter medo às pessoas. É uma estratégia de tensão conhecida, já foi aplicada nas eleições de 2012. O problema deles é que agora muita gente sabe que não são os comunistas que lhes vão roubar a casa, são os bancos e a troika...

Não basta ao Syriza que as sondagens dêem a vitória. O Syriza quer a maioria absoluta, não para ser governo mas para aplicar o seu programa sem entraves.

Não basta ao Syriza que as sondagens lhe dêem a vitória. O Syriza quer a maioria absoluta, não para ser governo mas para aplicar o seu programa sem entraves. Sabemos bem as dificuldades que vamos enfrentar após as eleições quando pusermos em marcha verdadeiras reformas para garantir direitos sociais, económicos e democráticos que foram atacados pela crise.

Na região de Ática, que já é governada pelo Syriza, multiplicámos por seis a despesa social e garantimos o acesso à eletricidade às famílias com dificuldades, com um apoio de 360 euros por ano na fatura da luz. E levámos à justiça a questão da privatização costeira e dos bens públicos de Ática que a Troika nos impôs. Também por isto se percebe que o Syriza não seja visto como um partido de promessas mas como um partido de esperança, de luta e de mudanças reais na vida dos cidadãos.

E como foi recebida a mensagem de Bruxelas, que apelou aos deputados gregos para votarem no candidato proposto pelo Governo?

Há quase cinco anos que vivemos com uma contínua ingerência nas nossas vidas. O voto no Syriza será também um voto para reconquistar a nossa soberania nacional e a nossa dignidade. O problema são aqueles que deixaram os de Bruxelas decidirem por nós.

Na Grécia, como aliás em Portugal, o governo diz que as coisas estão a melhorar na economia. Mas isso traduz-se nalguma coisa no dia a dia da população?

Eles batizaram como “success story” as suas melhorias: o salvamento dos bancos em troca da hipoteca das vidas de duas ou três gerações; a garantia dos lucros das grandes empresas; ficarmos com quase um terço da população sem trabalho e a outra parte com salários de miséria; e um terço da população estar agora sem acesso a cuidados de saúde.

Nada melhorou na economia, porque para haver algum progresso positivo seria necessária uma taxa de crescimento acima dos 4 ou 5%. Como podemos ter algo parecido com a austeridade e sem investimento público?

Se a eleição presidencial falhar, em fevereiro há grandes hipóteses de vermos um governo do Syriza a tomar posse. Que condições terá para sobreviver aos ataques que irá sofrer por parte dos media e do poder financeiro?

Essa resposta só as urnas podem dar. O Syriza precisa de um mandato claro e forte. Sabemos quem temos pela frente e lutámos duramente para chegar ao momento de correr com eles. Para governar, o Syriza não precisa apenas do voto. Precisa da participação das pessoas, dos trabalhadores, dos sindicatos, dos partidos de esquerda, da sociedade civil democrática num projeto diferente para o nosso país e a Europa. Por isso precisamos da solidariedade dos povos europeus e em especial da Europa do Sul. Queremos propor uma Conferência Europeia sobre a Dívida porque ela não é um problema nacional.

O grande desafio é o de saber o que fazemos com esta Europa. Nós propomos reconstrui-la das ruínas do neoliberalismo, não há outra solução. Nas próximas eleições gregas a escolha será entre os bárbaros e as nossas vidas enquanto seres livres e dignos.


Entrevista de Luís Branco para o esquerda.net

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Neste dossier:

O que fará um Governo Syriza?

A três semanas das eleições gregas, o esquerda.net publica as linhas gerais do programa eleitoral e as opiniões de economistas e dirigentes do Syriza sobre os caminhos da mudança política no país e na Europa. Com a dívida e o memorando da troika no centro do debate, apresentamos também alguns relatos dos efeitos da austeridade na vida da população e como a solidariedade tem servido de antídoto à pulverização da resistência. Dossier organizado por Luís Branco.

Tsipras: Em 26 de janeiro, o governo da maioria das pessoas!

A direção do Syriza aprovou por larga maioria as bases do programa de Governo para discussão a Conferência Permanente da coligação. Leia aqui os principais pontos. Artigo do diário Avgi.

“A ameaça a um governo Syriza não virá dos mercados, mas de Berlim e Bruxelas”

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“A economia grega encontra-se numa armadilha da dívida”

Yorgos Stathakis é apontado como possível ministro das Finanças de um governo Syriza. Defensor de uma viragem keynesiana e de um New Deal europeu, quer renegociar a dívida e sair do memorando para dar resposta à crise humanitária na Grécia. Publicado no jornal La Vanguardia.

33 razões por que Atenas (e a Grécia) ainda está em depressão profunda

Neste artigo publicado no blogue Histologion, Mihalis Panagiotakis apresenta os dados concretos dos efeitos da austeridade na vida do povo grego, que se refletiram na capital do país.

Depois dos Merkozy... os Tsiglesias?

Káki Balí, editora de economia do diário Avgi, analisa as reações da imprensa económica internacional ante o cenário de uma vitória da esquerda na Grécia.

Política, mentiras e vídeo

Um homem ligado aos negócios e à política tentou subornar um deputado na recente eleição para presidente. Nada lhe aconteceu, o que mostra bem o estado da corrosão da austeridade nas instituições gregas. Artigo de Nikos Smyrnaios.

O fim político da Primavera Política

Aqui há uns anos, a Nova Democracia escolhia o novo líder que iria suceder a Kostas Karamanlís. Os candidatos eram a filha de Mitsotákis (o fundador do Partido Liberal) e Antónis Samarás vindo do partido Primavera Política. O resultado é conhecido. Artigo de Rias Kalfakákou.

A esperança vencerá o medo

O governo e o primeiro-ministro tanto exploram a arma do medo, que acabam por conseguir o efeito contrário. Ninguém pode aceitar a lógica absolutamente egoísta do "ou eu ou o caos" ou considerar o direito de voto como uma insignificância. Artigo de Kalyvis Alékos.

"A vitória do Syriza servirá como locomotiva para a esquerda radical na Europa"

O professor de filosofia política e membro do Comité Central do Syriza Stathis Kouvélakis, que afirma acreditar que o partido liderado por Alexis Tsipras vencerá as eleições de forma contundente, defendeu que o velho sistema político bipartidário "entrou em colapso”.

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Manifesto alemão contra a “campanha do medo” na Grécia

Declaração subscrita por personalidades do meio sindical, cultural e político da Alemanha contra a ingerência de Berlim e Bruxelas nas eleições gregas.

Austeridade arrasou sistema público de saúde na Grécia

Num país onde faltam profissionais, medicamentos e material médico e hospitalar, 3 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados médicos. Para encher os cofres dos seus credores - aos quais pagou 63 mil milhões de euros em 2013 - o governo grego promoveu um verdadeiro saque fiscal e cortou drasticamente nas áreas sociais, como a Saúde e a Educação.

Solidariedade contra a austeridade: o exemplo da saúde na Grécia

A Clínica Comunitária Metropolitana de Helliniko é um exemplo de resposta cidadã e mobilização social pelo direito à saúde. Relato de uma visita efetuada no verão de 2014.

Documentário: "Que ninguém fique só no meio da crise"

Filmado em julho de 2013 na região de Atenas, este mini-documentário dá a conhecer algumas das redes de solidariedade e ajuda mútua erguidas pelas vítimas da austeridade e pela esquerda grega. Realizado por Jorge Costa e Bruno Cabral.