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O estado da economia mundial no início da grande recessão do Covid-19

Primeira parte da análise ao estado da economia entre a crise económico-financeira de 2007-2009 e o surgimento da Covid-19, pelo economista François Chesnais.
Economia. Foto de spDucham/Flickr.

Sob os efeitos da extensão da pandemia, a uma velocidade inesperada, especialmente nos Estados Unidos, as estimativas da profundidade da recessão em curso e dos seus diferentes impactos nas diversas partes da economia mundial têm mudado constantemente. Durante várias semanas, a referência relevante foi a crise económico-financeira de 2007-2009 e a recessão que se seguiu. Mas desde a divulgação dos números de desemprego nos Estados Unidos, agora referimo-nos a uma depressão de magnitude que pode se aproximar da Grande Depressão da década de 1930.

Este artigo acrescenta uma terceira referência a essas duas. Ela situa-se em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, e diz respeito à dívida pública de certos Estados, incluindo o Reino Unido e a França. Ela atingiu níveis muito altos, dos quais nos estamos a aproximar hoje.

Este artigo examina, primeiro, o estado da economia mundial nas vésperas da pandemia, com foco nas características do período 2009-2019. Questiona-se, de seguida, a capacidade atual de recuperação, de retomada da acumulação em longo prazo do capitalismo mundial em comparação com aquele que ocorreu nos anos 1930 e durante várias décadas após a Segunda Guerra Mundial.

Vários parâmetros são examinados a esse respeito, incluindo o aumento do custo do componente variável (chamado capital circulante) do capital constante e as características atuais da tecnologia. O artigo termina com a pergunta que será crucial sobre o nível e o peso da dívida pública, mas também da dívida das famílias, a ponto do cancelamento das dívidas se tornar uma reivindicação política que pode, facilmente, ser assumida por um número muito grande de trabalhadores. Na quinta-feira, 9 de abril de 2020, Christine Lagarde posicionou-se vigorosamente contra a ideia.

1. O estado da economia mundial nas vésperas da pandemia

No final de 2019, doze anos após o início da crise económico-financeira global de 2007-2008, ainda não tinha acontecido a saída verdadeira da crise e a retomada da acumulação nos países avançados da OCDE, ao passo que o ritmo de crescimento havia caído na China. Na realidade, a grande recessão iniciada há doze anos nunca terminou. Mesmo que as convenções estatísticas digam que, nos Estados Unidos, a recessão iniciada em dezembro de 2007 tenha terminado em junho de 2009, os economistas de língua inglesa designam pelo nome de Great Depression (grande depressão), o período aberto pela crise mundial, em que a falência, em outubro de 2008, do banco Lehmann Brothers foi o ponto culminante. Esse nome é totalmente justificado pela nitidez da rutura com o período que o precedeu e, mais fundamentalmente, com a fase, bastante longa, de crescimento iniciada no final da década de 1940. O gráfico mostra que o crescimento desacelerou progressivamente, caindo a um ponto muito baixo em 1974-1975 e 1979-1982, mas somente em 2008-2009, ele foi verdadeiramente interrompido.[1]

Figura 1: Taxa de crescimento anual do PIB das economias ricas

[As barras mostram a taxa de crescimento anual e a linha refere-se à taxa média de crescimento de 10 anos]

Na véspera da pandemia, as perspetivas de crescimento da economia mundial para 2020, publicadas pela OCDE, eram de 2,9%. No início de 2020, a produção industrial dos EUA havia caído, pelos cálculos do Fed, em 0,4% em comparação com o nível do mesmo mês do ano anterior. [2] Na Alemanha, a segunda maior economia da OCDE, a produção industrial caiu 1,7%, em outubro de 2019. Dependente das exportações, a indústria alemã sofreu os efeitos da desaceleração endógena do crescimento chinês, do fraco desempenho de países vizinhos da Europa e do impacto do Brexit nos projetos de investimento da UE.[3]

Tabela 1: Previsão de crescimento global da OCDE em novembro de 2019 (taxa de crescimento anual real)

É, portanto, uma economia global em mau estado que a pandemia atingiu, além da alteração de muitos parâmetros em comparação com aqueles do período da crise de 2007-2008. Não se trata, apenas, do enfraquecimento das ferramentas monetárias, da perda de poder das intervenções dos bancos centrais e do nível muito alto de dívidas públicas, mas da capacidade de ação da burguesia mundial.

Em 2009, o aprofundamento da recessão global e o declínio na produção e no comércio foram interrompidos por enormes investimentos em infraestrutura feitos pela China. Em 2020, ela não está mais em condições de fazê-los. De maneira contraditória, com efeito, ela foi, simultaneamente, o principal local da sobre-acumulação global [4] e um país que foi imediatamente atingido pelas consequências económicas da pandemia. Em termos de relações internacionais, o regime relativamente cooperativo entre os Estados, de 2009, que assistiu a criação do G20, deu lugar a uma intensa rivalidade comercial e a um aumento significativo no protecionismo, que tem os Estados Unidos como o principal responsável. Por fim, doze anos adicionais de exploração de recursos básicos levaram a um aumento nos preços de matérias-primas básicas, sob o efeito do início da escassez de recursos minerais e da degradação do solo, enquanto os impactos do aquecimento global começam a alcançar todos os países.

2. A Grande Recessão não reduziu a sobreacumulação de capital produtivo

A recessão específica da Covid-19 golpeia uma economia global marcada pela acumulação excessiva de capital produtivo em vários graus de importância, dependendo da indústria. A sobre-acumulação atesta a não resolução da “Grande Recessão”, uma vez que a condição sine qua non para uma saída um tanto duradoura de uma grande crise e, a fortiori, de uma depressão é uma forte desvalorização/destruição física de capital produtivo e a reversão do movimento da taxa de lucro provocado por ela.

O que sabemos sobre a desvalorização/destruição física do capital produtivo na década de 2010? (A destruição ou melhor, a não destruição do capital monetário fictício será tratada mais tarde). No caso do setor manufatureiro, temos dois indicadores "aproximativos" (proxies) para identificá-la.

O primeiro indicador é a taxa de utilização da capacidade produtiva. O único país para o qual existem estimativas nacionais são os Estados Unidos, onde o Fed calcula indicadores separados para os setores de manufatura, mineração e serviços, além de um indicador sintético. Em fevereiro de 2020, ela era de 77,0%, uma taxa 2,8 pontos percentuais abaixo da média de longo prazo (1972-2019) [5].

Estimativas globais estão disponíveis para duas importantes indústrias, onde o investimento chinês ocupa um lugar de destaque. O primeiro é o aço. O relatório do Comité de Aço da OCDE de março de 2019 [6] constatou que a produção mundial de aço bruto aumentou 4,8% em 2018, enquanto o crescimento no consumo de aço diminuiu na maior parte das principais economias consumidoras de aço.

A capacidade global de fabricação de aço permaneceu praticamente inalterada em 2018, em 2,234 bilhões de toneladas métricas, após quedas em 2016 e 2017. Estima-se que a diferença entre a capacidade siderúrgica e a produção de aço, como antes, permaneça alta, em 425,5 milhões de toneladas métricas em 2018. Se os projetos anunciados por alguns países se concretizarem, na ausência de fechamentos, a capacidade global de fabricação de aço poderá aumentar de 4 a 5% entre 2019 e 2021.

A segunda é a indústria automobilística, onde encontramos a mesma constatação, desta vez por parte da própria profissão, de uma "capacidade mundial que supera a produção" [7], principalmente para veículos leves. Embora a produção global de veículos leves tenha caído mais de 2% em 2019 e esteja projetada para não aumentar mais de 3% em 2020, 36 novas fábricas serão construídas em 2020 e 16 em 2021, elevando o total para 758 fábricas em escala mundial.

Como resultado desses investimentos, a taxa média de utilização da capacidade cairá para 63% em 2019-2020. A maior parte da nova capacidade está localizada na China, apesar da recente desaceleração do mercado. O ritmo de expansão da capacidade no continente europeu foi mais do que duas vezes mais rápido que o crescimento do mercado. O estudo estima que, embora a capacidade de produção tenha aumentado 6% nos últimos três anos, o mercado contraiu 1% no mesmo período.

O segundo indicador bruto é o gasto com publicidade. Ele não para de aumentar e deve ter ultrapassado 560 mil milhões de dólares em 2019. A sua taxa de crescimento em 2019 foi de 4%, uma taxa superior à do PIB mundial (veja a primeira tabela na parte 1) e ainda mais do que comércio mundial, cujo crescimento foi de apenas 2,6% no mesmo ano.

A América do Norte é a região que mais investe em publicidade, seguida pela Ásia e Europa Ocidental. Os Estados Unidos investiram mais de 229 mil milhões de dólares em publicidade em 2018, enquanto a China, segunda no ranking, investiu metade disso. Em 2017, o grupo de bens de consumo Procter Gamble foi o maior anunciante do mundo, com mais de 10 mil milhões em gastos com publicidade.

Outros anunciantes importantes incluem Unilever, L'Oréal e Volkswagen. Essas despesas, das quais as principais plataformas foram os instrumentos e os principais beneficiários,[8] não impediram a queda da produção industrial, nos Estados Unidos e na Alemanha, e, mais globalmente, a produção industrial e o comércio mundial caíram, a partir dos últimos meses de 2019.

Figura 2: Movimento da produção industrial e do comércio mundial do início de 2016 ao final de 2019 (Título do gráfico: Numa paralisação: ao longo do último ano houve uma significativa desaceleração na produção industrial e no comércio global)

A recessão que está a começar verá, pelo menos inicialmente, uma acentuação da centralização/concentração do capital produtivo, mas não a sua destruição, dadas as medidas que os governos estão tomando naturalmente para apoiar as empresas e evitar sua falência.

3. A queda tendencial da taxa de lucros

A teoria marxista da tendência de queda na taxa de lucro e dos fatores que a neutralizam (ou, vice-versa, que a agravam) constitui uma estrutura indispensável para a análise. Isso nos permite entender os fatores por trás de tal declínio e as consequências que resultam dele, mas com a condição de situá-los historicamente. Ao escrever isto, gostaria de evitar a narrativa redutora que Michael Roberts, que é de certa forma o papa da teoria da queda na taxa de lucro, às vezes faz dela. Num curso recente em Londres[9], ele convidou uma audiência de jovens pesquisadores para apreender as três leis de Marx.

Eu cito: "1° A lei do valor: somente o trabalho cria valor. 2° A lei da acumulação: os meios de produção aumentam para fazer crescer a produtividade do trabalho e dominar o trabalho. 3 ° A lei da lucratividade: as duas primeiras leis criam uma contradição entre o aumento da produtividade do trabalho e a queda na lucratividade do capital. Isso só pode ser superado por crises recorrentes de produção e investimento; e, a longo prazo, substituindo-se o capitalismo. A massa de lucro pode e crescerá à medida que a taxa de lucro diminui, garantindo a continuidade do investimento e produção capitalistas. Mas, à medida que a taxa de lucro continua a cair, o crescimento da massa de lucro cairá ao ponto de ‘sobreacumulação absoluta’, o ponto de inflexão das crises".

Vimos acima que, após um breve recuo, a acumulação global de capital produtivo manufatureiro continuou apesar da grande recessão, em particular devido à sua acumulação na China, onde os investimentos não estão intimamente sujeitos à exigência de rentabilidade.[10]

Roberts considera a que sua defesa da lei da tendência de queda da taxa de lucro tem poucos adeptos e encontra em Alan Freeman um aliado para dizer que "essa lei continua sendo o único concorrente credível na competição para explicar o que há de errado com o capitalismo". O problema é não dar uma formulação a-histórica. Isso assume duas formas para Roberts. A primeira é enunciar a lei em termos que transcendem as sucessivas fases do desenvolvimento (capitalismo de livre concorrência, capitalismo monopolista, capitalismo financeirizado) que foram identificados pelos marxistas (Hilferding, Lenin, teóricos da financeirização) que Roberts faz pouco caso. Desta maneira, em seu longo livro A Longa Depressão, o nome de Lenine não aparece.

A outra forma tem uma aparência histórica, mas ignora a história. Ela consiste em desenhar um movimento secular de queda na taxa de lucro intercalada com fases de aumento. Um slide da apresentação em PowerPoint da conferência de fevereiro de Roberts apresenta a versão mais recente de uma figura que mostra o movimento da taxa de lucro ao longo de 150 anos, do qual ele forneceu versões anteriores em 2012 e 2015 (veja o blog dele)

Figura 3: A taxa mundial de lucro 1869-2007

Fonte: Michael Roberts (2020)

A solidez dos fundamentos estatísticos da curva não é evidente. No seu artigo de 2015 [11], Roberts pede ajuda para os primeiros oitenta anos ao trabalho do argentino Esteban Maito, autor de pesquisas que mostram uma queda na taxa mundial desde 1869. Ele coloca um texto de Maito online em inglês. [12] Em A Longa Depressão, ele escreve que "a maneira pela qual a taxa de lucro é medida não importa, todas as medidas usadas (as de Duménil e Lévy, Simon Mohun, Li Minqi, Anwar Shaikh e uma dezena de outras), para os Estados Unidos desde a década de 1940 mostram um declínio secular.” [13] Os cálculos feitos pelo próprio Roberts dão isso.

Figura 4: Taxa de lucro nos EUA (economia como um todo) 1946-2017

Fonte: Michael Roberts

A maneira pela qual um modo de produção marcou, de acordo com a Figura 2, ao longo de um século e meio de declínio da lucratividade, estendeu seu reinado sobre o planeta e impôs em todo lugar as relações de produção baseadas na propriedade privada de meios de produção e assalariados exigiria explicações. Lembremos do que Roberts disse aos ouvintes: "As duas primeiras leis criam uma contradição entre o aumento da produtividade do trabalho e o declínio da lucratividade do capital. Isso só pode ser reconciliado por crises recorrentes de produção e investimento; e, a longo prazo, substituindo-se o capitalismo ".

Colocando no final de seu livro de 2016 a questão de saber se o capitalismo atingiu seu "prazo de validade", título do último capítulo, Roberts responde que a depressão poderia terminar em 2018 como resultado de outra grande recessão. Ele termina especialmente dizendo "que, na ausência de uma nova e devastadora guerra mundial (portanto, reconheceu o papel que ela desempenhou duas vezes no século 20), o capitalismo acabará se recuperando".[14]

Essa não é a posição de Maito da quem Roberts toma emprestados os seus números que pende para a teoria da derrocada: “as crises periódicas permitem, com o tempo, uma recuperação parcial da lucratividade. Essa capacidade de regeneração é um aspeto característico do capital e da natureza cíclica da economia capitalista. Mas a natureza periódica dessas crises não impediu a tendência de queda na taxa de lucro a longo prazo. De sorte que, em relação a esses discursos sobre a inesgotável capacidade do capital de restaurar a taxa de lucro e de manifestar sua vitalidade (...), é necessário, à luz das evidências empíricas, afirmar o seu inevitável caráter histórico efémero”.

E Maito, para citar Henryk Grossman, "à medida que as contra-tendências enfraquecem, os antagonismos do capitalismo mundial se avivam gradualmente e a tendência ao colapso se torna cada vez mais próxima de sua forma final de uma derrocada absoluta".[15 ]

4. As mudanças na importância relativa dos elementos do capital constante

Então, aqui estamos na "nova grande recessão" de que Roberts falava em 2016. No início de seu livro, Roberts escreve: "É a expansão resultante da lucratividade que gera endogenamente (sublinhada no texto) a contração. Esta, por sua vez, gera por si só a nova fase expansionista.” [16] A grande recessão em que entramos não resulta de causas endógenas, mas de um evento exógeno inesperado e verdadeiramente global [17], cujo epicentro não está localizado, como em 2008, nos Estados Unidos. Ela se coloca dentro do prolongamento da depressão não superada após 2008. É em relação a isso que devemos examinar o que permanece da hipótese de Roberts da "eventual recuperação endógena".

A minha posição é que ela não se verificará, por razões relacionadas, primeiro, aos impactos económicos do "meio ambiente" (para ser breve) e, por outro lado, às características macro-económicas das tecnologias que, gradualmente, assumiram a hegemonia nos últimos vinte anos. Vou começar pelos cálculos que Roberts fez sobre a composição orgânica do capital. O fato marcante, que precisa ser explicado, é o seu aumento após 1997, à medida que a taxa de investimento diminui.

Figura 5: Composição orgânica do capital (OCC), taxa de mais-valor (ROSV) e taxa de lucro (ROP) nos Estados Unidos (1945-2017) - Fonte: Michael Roberts

Lembremos que a composição orgânica é uma razão entre o capital investido pelas empresas na produção, que é "trabalho morto" [18] e não pode criar valor, mas apenas transmiti-lo – que é chamado pelo capital constante de Marx – e o que ele chama de capital variável, ou seja, a força de trabalho comprada por empresas que cria valor, cujo montante depende de sua produtividade.

Essa razão é o denominador na determinação da taxa de lucro: quando ela aumenta, a taxa de lucro diminui. A questão é o que classificamos como capital constante. Na sua apresentação de fevereiro, Roberts privilegia máquinas e fábricas explicando que:

“A lei da acumulação diz que quando os capitalistas dedicam uma parcela crescente de seus lucros aos meios de produção, a relação entre o valor dos meios de produção e o valor do trabalho empregado tenderá a aumentar. É uma lei na expansão económica capitalista que essa proporção, denominada composição orgânica do capital, aumente. A tendência (a lei como tal) verá o crescimento da composição orgânica do capital ser maior do que qualquer aumento na taxa de exploração e mais-valor. Em contrapartida, às vezes, o aumento da taxa de mais-valor excederá o aumento da composição orgânica do capital, mas não indefinidamente. Às vezes, o menor custo das novas tecnologias diminui a composição orgânica do capital (a composição em valor diminui), mas esse não é o caso na maioria das vezes.”

Ora, vimos um aumento na composição orgânica à medida que a taxa de investimento caiu.

Figura 6: Investimento privado líquido nos Estados Unidos como porcentagem do PIB (1980-2016)

Fonte: Bureau of Economic Analysis

O movimento estado-unidense faz parte de um movimento mundial que envolve todos os países, como observou o FMI.

Figura 7: Evolução do investimento em máquinas e despesas com bens duráveis (início de 2016 até final de 2019)

A consequência desse "falha" da lei, para usar o termo empregado por Roberts, nos obriga a olhar mais de perto o capital constante e decompô-lo em "capital fixo" e "capital circulante", em máquinas de um lado e matérias-primas e energia do outro.[19]

O custo de matérias-primas e energia deve ser colocado em primeiro lugar entre os fatores que afetam o nível de composição orgânica e verificar também se é possível quantificar os impactos das mudanças climáticas na acumulação de capital produtivo. Portanto, é necessário começar a procurar indicadores que sirvam de aproximação (proxies).

François Chesnais é economista. Foi professor associado da Universidade de Paris 13. Faz parte do Conselho Científico da Attac.

Artigo publicado originalmente em 'A l’encontre'. Tradução de César Locatelli para o Carta Maior. Adaptação para português de Portugal pelo Esquerda.net.

Notas:

[1] Ver meu artigo de 2010, Crise de superacumulação mundial que se abre sobre uma crise da civilização em http://www.inprecor.fr/inprecor?numero=556-557 , assim como meu livro Finance Capital Today. Corporations and Banks in the Lasting Global Slump, Brill/Haymarkepooks, 2016.

[2] https://www.federalreserve.gov/releases/g17/current/default.htm

[3] https://www.capital.fr/entreprises-marches/croissance-plongeon-surprise-...

[4] Ver os livros sobre a China de Michel Aglietta com Yves Landry (2007) et Guo Bai (2012), assim como Mylène Gaulard, «Les limites de la croissance chinoise», Revue Tiers Monde, n°200, janeiro de 2009.

[5] https://www.federalreserve.gov/releases/g17/current/default.htm

[6] http://www.oecd.org/sti/ind/86-oecd-steel-chair-statement.htm

[7] https://lmc-auto.com/news-and-insights/global-capacity/

[8] https://alencontre.org/economie/les-algorithmes-et-les-rapports-sociaux-...

[9] Michael Roberts, a lei da rentabilidade de Marx, Palestra na série de seminários sobre economia política marxista, organizada pelo Departamento de Estudos de Desenvolvimento da Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS). Ele observa com satisfação óbvia que "não surpreende que a equipe do SOAS pareça pensar que estou" obcecado "pela lei da taxa de lucro". Michael Roberts Blog, 27 de fevereiro de 2020. O texto da conferência é acompanhado por um longo PowerPoint.

[10] Mylène Gaulard, Os limites do crescimento chinês, op.cit.

[11] https://thenextrecession.files.wordpress.com/2017/09/revisiting-a-world-rate-of-profit-june-2015.pdf.

[12] https://thenextrecession.files.wordpress.com/2014/04/maito-esteban-the-h...

[13] The Long Depression, páginas 274-275 (anexo sobre o cálculo da taxa de lucro).

[14] Ibidem, p.270.

[15] https://thenextrecession.files.wordpress.com/2014/04/maito-esteban-the-h...

[16] Michael Roberts, A Longa Depressão, p.18.

[17] Eu sei que isso é uma simplificação e que a origem da pandemia, como todas as epidemias deste século, pode ser encontrada nas relações específicas do capitalismo com a natureza (novamente para resumir). Mas estamos lidando com uma endogeneidade de um tipo completamente diferente das grandes guerras.

[18] Marx, "Capital é trabalho morto, que, como um vampiro, só ganha vida sugando trabalho vivo", Capital, Livro 1, capítulo 10.

[19] No seu livro de 2016, Roberts lista em dois lugares (páginas 15 e 16) os elementos que fazem parte dele - fábricas (às quais adicionaremos escritórios, armazéns e instalações comerciais), máquinas (lato sensu, incluindo software), matérias-primas e tecnologia que ele não define.

(...)

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