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Negocionismo III: nas ruas, o caso britânico e o alemão

Nem só nas redes sociais o negacionismo da Covid vive. Em alguns países ocupou as ruas, explorando frustrações e problemas económicos causados pelos confinamentos. Na Alemanha, chamaram-se “pensadores laterais”. No Reino Unido, há vários teóricos da conspiração à mistura. Com a extrema-direita sempre por perto.
Manifestação anti-confinamento em Londres. Setembro de 2020. Foto de Steve Eason/Flickr.
Manifestação anti-confinamento em Londres. Setembro de 2020. Foto de Steve Eason/Flickr.

Em alguns pontos da Europa o negacionismo da Covid não passou de uma excentricidade. Dezenas ou poucas centenas de pessoas que saíam às ruas e proferiam discursos vistos pela maioria como aberrantes. Noutros lados poderá até ter começado assim mas foi em crescendo, até chegar a ser um movimento de massa com dezenas de milhares de pessoas nas manifestações contra o confinamento. Olhamos aqui para dois casos europeus: o Reino Unido e a Alemanha.

As manifestações: além do anti-confinamento, o negacionismo sai à rua

No Reino Unido, os protestos anti-confinamento começaram em abril de 2020 com apenas algumas dezenas de pessoas, desde logo marcados não apenas por apelos à “liberdade” de não usar máscara ou de violar as regras sanitárias mas também por discursos que colocavam em causa a existência da pandemia ou a sua gravidade.

Quem visse esses primeiros momentos, talvez não apostasse que, no final de agosto, já seriam centenas os manifestantes em Londres. E em meados de outubro as notícias davam conta de milhares nas ruas. Ao longo destes protestos foram ocorrendo dezenas de detenções.

A passagem de ano, que em Portugal foi tranquilamente diferente do habitual, em Londres foi diferente por outras razões: houve protestos anti-confinamento e um grupo de manifestantes reuniu-se à porta do hospital de Saint Thomas a cantar “a Covid é uma farsa”. Por essa altura, negacionistas britânicos em várias cidades tentavam forçar a entrada em hospitais em busca de provas de que estes afinal estariam vazios.

2021 trouxe os maiores protestos: em março cerca de 30.000 pessoas saíram às ruas de Londres; em 24 de abril terão sido à volta de 10.000.

Um ritmo desigual e combinado com o que se vinha passando mais intensamente na Alemanha mas sobretudo com as vagas de confinamento decretadas pelos governos. Desde março do ano passado que grupos de manifestantes começaram a protestar também contra as restrições mas na Alemanha até mais explicitamente a favor de teorias da conspiração e com mais casos de violência. Em ambos os casos, notava-se a presença de elementos da extrema-direita nas manifestações.

A 28 de março, um dos primeiros protestos acontece em Berlim sob o lema “defender direitos básicos, dizer não à ditadura”. Com protestos marcados para os sábados, em 25 de abril já são mil pessoas nas ruas de Berlim e acontecem cem detenções. Em maio são três mil em Munique.

A um de agosto, em Berlim, o número de manifestantes dispara para 30.000, números da polícia. Números idênticos aos do final do mês, altura em que ocorreram 316 prisões. A 18 de novembro, em Berlim, há 10.000 pessoas nas ruas, são disparados canhões de água e acontecem mais 365 detenções.

Noutros pontos também foram ocorrendo manifestações de grandes dimensões. Em Munique, em 12 de setembro foram 10.000. Em Konstanz, a três de outubro foram 11.000. Em Leipzig, a sete de novembro foram 20.000. Outras menores também foram ocorrendo: a 21 de novembro 500 pessoas em Leipzig, a 29 1.000 em Frankfur, a seis de dezembro 1.500 em Düsseldorf.
As manifestações são retomadas em força em março em várias zonas. Em Kassel, no dia 20, foram 20.000. Já no dia três de abril, em Estugarda, são 10.000.

Com estas manifestações, e com o ativismo online, surgiram mais destacadamente figuras até então mais ou menos obscuras. Tentemos perceber quem está por detrás destes números e o que ganha com a mobilização.

O caso britânico

Uma investigação de Sanya Burgess e Victoria Elms da SkyNews, olhava, em fevereiro deste ano, para os meandros do negacionismo da Covid, das teorias da conspiração à sua volta e dos movimentos anti-vacinas centrando-se em três grupos britânicos, o Stand Up X, o Stop New Normal e o Save Our Rights UK.

O Stand Up X é um dos grupos que organiza as marchas anti-confinamento no Reino Unido. São anti-máscaras, anti-confinamento, anti-vacina da Covid e anti-5G. No Facebook chegaram a ter 40.000 membros, antes do grupo ser apagado em setembro de 2020. No Instagram, conseguiram reunir mais de 23.000 seguidores na sua conta principal, sem contar portanto com pelo menos mais 30 contas regionais. Marcam presença também no Telegram com pelo menos 44 grupos e canais, o maior dos quais com 4.700 seguidores.

Figuras pouco conhecidas e apresentadas apenas pelo primeiro nome, como Nacho e Kelly, dão a cara nos vídeos deste movimento. Às jornalistas um dos organizadores do grupo explica que “não há jogadores principais” num grupo que luta “pelas liberdades básicas dadas por Deus”. Procuram obter dinheiro através da sua página, que tem uma ligação ao Paypal, e da venda de merchandising com uma loja online onde se vendem t-shirts e camisolas.

Pelo contrário, o Stop New Normal tem um nome sonante à frente, embora por associação, Piers Corbyn. O irmão do ex-líder dos trabalhistas que passou da militância no negacionismo das alterações climáticas para a do negacionismo da Covid, também consegue recolher dezenas de milhares de libras em donativos.

Piers Corbyn diz que o SARS-CoV-2 é afinal uma mera gripe provocada pelo vírus influenza e que não há pandemia. Por isso, viola frequentemente as regras sanitárias e foi preso nove vezes. As multas que lhe foram passadas tornaram-se um expediente para lucrar. Só numa das recolhas de fundos no sistema de crowdfunding conseguiu arrecadar 13.200 libras para pagar uma multa de 10.000. 640 pessoas contribuíram. Noutra, pedia 5.000 mil libras para pagar custas legais da sua defesa. Obteve 31.250.

Isto já para não falar nas recolhas de fundo em nome do movimento. Uma delas num canal de previsão do tempo que se dedica a espalhar desinformação sobre as alterações climáticas. Apesar da projeção nacional devido ao movimento anti-confinamento, recentemente a sua candidatura nas eleições regionais de Londres não obteve nenhuma projeção.

O Save Our Rights também tem uma ligação aos trabalhistas mas por outra via. A sua fundadora, Louise Creffield, trabalhou para o deputado do Labour, Lloyd Cameron Russell-Moyle. Tem 11.000 seguidores no Instagram, 60.000 no Facebook e apresenta-se como “organização de direitos humanos” mas as suas publicações partilham as mais famosas teorias da conspiração sobre a Covid-19. E Creffield diz que a pandemia não é mortal, que não é preciso confinamento. Esta organização também recorre a donativos e lançou até numa nova rede social própria chamada Autarki que cobra 20 libras por ano a cada aderente.

A lista dos movimentos feita por este órgão de comunicação social deveria ser completada por algumas outras “estrelas” dos movimentos negacionistas que têm brilhado nas manifestações e cujas palavras são seguidas por uma multidão de fieis nas redes sociais.

Nos palcos destas manifestações, a ex-enfermeira Kate Shemirani é uma presença assídua. Difusora de teorias da conspiração sobre o 5G, sobre a vacina ser uma arma para mudar o DNA, sobre a máscara causar doenças, sobre o confinamento ser um plano de genocídio, acabou por perder o seu palco principal, o das redes sociais onde só no Facebook tinha 54.000 seguidores. É ainda autora de várias declarações anti-semitas e de outras de apoio ao Qanon, nomeadamente acusando pedófilos satânicos de perseguição aos cristãos.

Nas lides das teorias da conspiração, David Icke, ex-futebolista e comentador desportivo, é bem mais veterano mas no negacionismo da Covid-19 é igualmente apaixonado. Mobiliza da mesma forma o antisemitismo mas é bem mais eclético e excêntrico nas teorias da conspiração que promove, um mundo que inclui “reptílianos”, “illuminati”, a “Nova Ordem Mundial”, o negacionismo das alterações climáticas e agora, o 5G e a Covid-19. Das franjas desse conspiracionismo delirante que tem sido o seu ganha-pão ao longo dos últimos anos, saltou também ele para o palco da manifestação anti-confinamento de Londres de 29 de agosto.

Mark Steele é outra das figuras que se destaca no conspiracionismo negacionista. Diz-se perito em armas e daí a sua especialidade no movimento ser a alegação de que 5G e WiFi são sistemas de armas. O primeiro terá já matado 400 pessoas, defende, e é “um genocídio” que está a ser implementado pelo “Estado profundo”.

Em setembro, o Times dava conta das desavenças entre estes quatro cavaleiros britânicos do negacionismo. Com Icke e Corbyn a ficarem de um lado e Steele e Shemirani do outro.

O caso alemão

Nas concorridas manifestações alemãs, lado a lado, saem à rua teóricos de várias conspirações que partilham o universo mental dos referidos autores britânicos e dos seus parceiros norte-americanos, elementos da extrema-direita assumida e adeptos do esoterismo e de curas alternativas que se identificam como a “resistência” e clamam por “liberdade”. O que faz com que se possam encontrar no mesmo espaço, sem distanciamento social ou político, bandeiras imperiais alemãs, utilizadas pela extrema-direita já que a simbologia nazi é proibida, arco-íris LGBTI e estrelas de David costurada nas roupas de quem, simbolizando um suposto “fascismo das vacinas”, se identifica com os judeus perseguidos pelos nazis.

A Deutsche Welle apresenta alguns dos pioneiros deste movimento. O jornalista e dramaturgo Anselm Lenz foi um dos primeiros a apelar às “manifestações da higiene” em Berlim. Vem da esquerda e era um agitador cultural por causas mais performativas do que reais como a greve geral ilimitada, criou também um movimento de “recusa das carreiras” e uma peça sobre um “tribunal do capitalismo”. Agora escreve um jornal distribuído nas manifestações, a Resistência Democrática, onde defende que há um “exagero fanático sobre o perigo do vírus”, que as máscaras são “completamente inúteis e até prejudiciais” e que a pandemia serve para estabelecer um Estado autoritário liderado pelo cartel farmacêutico. Afirmações do mesmo teor também as publica no site Rubikon de que Jens Wernicke é o proprietário, editor e editor-chefe e que tem sido uma referência para o movimento contra o confinamento.

Este último tem afinidades com outro dos protagonistas que se juntaram a Lenz nas convocatórias de manifestações, Ken Jebsen. Os textos de Wernicke são distribuídos amplamente pelo KenFM, site e canal de Youtube seguido por quase 500 mil pessoas e outro instrumento importante de propaganda da causa. Este site foi a forma deste autor de rádio demitido em 2011 por declarar que o Holocausto tinha sido um esquema de Relações Públicas se manter ativo.

Attila Hildmann, cozinheiro e autor de livros de culinária vegan, também se juntou quase de início às manifestações. Bloqueado pelo Instagram, mudou-se para o telegram, onde é seguido por 80.000 pessoas. Heiko Schrang é outra das estrelas da companhia que faz vídeos no YouTube e livros. As suas posições eram potenciadas pela página de Facebook chamada Corona Rebellen.

Mas o principal grupo que aí marca presença, para além destas individualidades é o Querdenken 711, nome que junta a referência a um “pensamento lateral” com o prefixo telefónico de Estugarda onde foi criado. Este jura fidelidade à Constituição e apego à liberdade mas as suas ligações com a extrema-direita e a violência nas manifestações colocaram-no sob vigilância das autoridades alemãs.

Contornando as limitações impostas pelas redes sociais e outros mensageiros, o Querdenken instalou-se no Telegram onde o seu canal oficial tem perto de 70.000 seguidores, sem contar com mais de 1.200 outros canais e grupos.

Michael Ballweg, empresário de software e entusiasta da meditação, é aqui o nome a fixar por ser o fundador do movimento. Em janeiro, uma reportagem do Business Insider dava conta de que, após várias notícias saídas na imprensa alemã em que os seus negócios com o movimento eram questionados, pedia aos apoiantes para fazerem “uma pausa” nas manifestações.

Estas notícias davam conta que o dinheiro de doações e do merchandising vendido pelo Querdenken ia direto para a conta pessoal de Ballweg. Também cobrava, por exemplo, para aparecer em público ou em fotos com apoiantes.

Mais recentemente, uma investigação do Open Democracy acrescentava nomes e factos a esta galeria. Como o de Tamara Kirschbaum que se tornou conhecida a 29 de agosto quando cerca de 400 manifestantes atacaram o Parlamento alemão. A “naturopata” adepta da teoria da conspiração norte-americana QAnon fez nessa ocasião um discurso incendiário em que afirmava que Trump estava nesse momento em Berlim, pronto para libertar o país. Seguiu-se uma tentativa de invasão do Bundestag que foi várias vezes comparada à tentativa de invasão do Capitólio meses depois.

Levará o negócio da desinformação alemã à pista russa?

A investigação do Open Democracy olha ainda para outra personagem, Claus Köhnlein celebrizado por entrevistas ao satélite alemão canal estatal russo, Russia Today DE, nas quais acusa a OMS de conduzir experiências letais em doentes, aumentando assim as taxas de mortalidade do vírus, ou declarando que não há pandemia. Só no Youtube, uma destas entrevistas alcançou 1,5 milhões de visualizações. Serve de exemplo para várias figuras que têm tido os seus momentos de fama como comentadores negacionistas e que ganharam voz em canais filiados ao governo russo, como a agência Sputnik, agora SNA, e o Pravda, que também fazem coberturas extensas das manifestações, republicadas pelos seus apoiantes.

Outro canal informativo que está no topo das visualizações negacionistas é o Epoch Times, página associada com o movimento religioso Falun Gong que publica mais de 50 artigos por dia em alemão e dezenas de vídeos no YouTube, apenas alguns são classificados pelo Open Democracy como desinformação, nomeadamente os de apoio a Trump. Ou notícia falsa de centenas de pessoas nos EUA tinham ido parar às urgências depois de tomarem a vacina contra a Covid.

A professora de jornalismo Katharina Bader considera que estes sites estrangeiros vieram preencher um vazio no “negócio da desinformação” de língua alemã que “não era muito profissional”. Mas a pista russa em que o Open Democracy insiste vai além da questão da exploração de um mercado.

O portal informativo independente britânico, financiado por George Soros, a Fundação Ford e o fundo Rockefeller entre muitos outros, liga alguns dos sites dos nossos protagonistas alemães a interesses russos. Lembra-se que o canal de Telegram da KenFM afirma ser “potenciado” pela Strategic Culture Foundation que o governo norte-americano acusa de ser uma fachada do governo russo. E que o Rubikon tem vários jornalistas do grupo de comunicação russo RT no seu conselho consultivo, ambos partilham autores e o RT alemão tem partilhado conteúdos desta proveniência.

O Open Democracy liga ainda outro meio de comunicação social ao governo russo, o jornal Compact, próximo do partido de extrema-direita AfD. E com isto chega-se a uma outra figura desta e de outras histórias, o seu editor-chefe, Jürgen Elsässe. Sobre ele se diz que organizava eventos com o Instituto para a Democracia e Cooperação, um think-tank russo sediado em Paris, que foi descrito pelo Die Zeit como um propagandista ao serviço do Kremlin e se salienta que apoiou Putin explicitamente no confronto com a Ucrânia em 2014.

Elsässe lidera um jornal em que os temas habituais da extrema-direita são presença constante, como as peças anti-imigração e contra os muçulmanos, defendendo as teorias da invasão e da “grande substituição” e onde também têm lugar artigos conspiracionistas. Por isso em março do ano passado, segundo o Der Tagesspiegel foi colocado sob vigilância pelo Gabinete Federal para a Proteção da Constituição por utilizar "motivos revisionistas, teorias da conspiração e também xenófobos".

E não é só na Alemanha que está sob escrutínio: em agosto de 2020 foram apagadas as suas contas no Facebook e Instagram, justificando a empresa que proíbe “organizações e indivíduos de usar os nossos serviços se sistematicamente atacarem pessoas baseados em características como a origem, género ou nacionalidade”.

Elsässer é agora mais um dos que afirma que está em marcha “uma ditadura” por causa da pandemia. Ligado ou não a interesses russos, é certo que o Compact tem estado apostado forte no movimento negacionista. E que a AfD, que começou por num primeiro momento exigir medidas restritivas mais fortes, também dele tem procurado beneficiar. Assim como vários outros grupos de extrema-direita que procuram ganhar protagonismo nas mobilizações.

Os líderes dos “pensadores laterais”, esses, dizem-se não só apartidários como apolíticos, como muitos dos seus apoiantes. E muitos outros no movimento parecem também bem mais interessados na auto-promoção ou na venda descarada de produtos e serviços do que na disputa política. Mas saia o negacionismo à rua mais por negócio ou por convicção, não há como negar que a extrema-direita está à espreita.

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