Manicómio: a Arte no combate à estigmatização

Criado em 2019, o Manicómio é um espaço de criação e galeria de Arte Bruta que promove trabalhos desenvolvidos por artistas com doenças mentais. Facilitar “o caminho da inclusão” e incentivar a empregabilidade são alguns dos seus objetivos.

29 de novembro 2020 - 20:29
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Foto da página de facebook de Manicómio.

O projeto Manicómio nasceu no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e foi idealizado por Sandro Resende e José Azevedo, fundadores da Associação de Desenvolvimento Criativo e Artístico P28, onde se dedicam a dar aulas de artes plásticas a doentes do Hospital Júlio de Matos.

"Isto não é terapia, é arte", explicou Sandro Resende. “Eu nunca vi uma ficha clínica, o que me interessa é a pessoa e o que ela quer fazer”, frisou. O cofundador do Manicómio, localizado na Rua do Grilo, no Beato, acredita que a liberdade que os artistas têm no âmbito deste processo potencia a responsabilidade: “Os horários são as próprias pessoas que os fazem e quando vêm trabalhar chegam com muita vontade de fazer coisas bem e o resultado vê-se tanto no trabalho, como também na autoestima”.

O combate à estigmatização é feito também pela via da autonomização de cada artista, a quem é atrbuída uma bolsa, que inclui refeições, transportes e uma remuneração, além de 70% do montante arrecadado com as vendas das obras de arte e 90% das verbas dos workshops que promovem.

“O mais problemático disto tudo é a lista de espera”, assinalou Sandro. No primeiro trimestre de 2020, já existiam “mais de 80 pessoas em lista de espera para os próximos espaços”. “Este espaço desperta um grande interesse e por isso acho que existe grande viabilidade nesse salto para novos espaços, fora da capital”, defende.

Com o evoluir da crise pandémica, o espaço do Manicómio no Beato encerrou a visitas externas e consultas. Mas os artistas continuam ativos e a trabalhar em casa. Para marcações futuras basta enviar e-mail para [email protected].

Nos próximos tempos, este projeto, tal como acontece em todos os setores, continuará a enfrentar desafios no que respeita à adaptação da sua atividade em contexto pandémico. Mas o projeto está aí, já deu provas do seu valor, e o seu potencial no combate à estigmatização, pela autonomização e inserção social e laboral dos artistas com doenças mentais merece um olhar atento por parte de todas nós e, concretamente, das entidades públicas e privadas que com ele possam estabelecer parcerias.

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