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Haiti: o terramoto e a herança colonial da pobreza

Um terramoto como o que atingiu a capital do Haiti teria causado enormes danos em qualquer cidade do mundo. Mas a amplitude da catástrofe resultou de uma herança directa do mais brutal sistema de exploração colonial da história.
Uma cidade de tendas. Foto de Foto de Edyta.Materka

No dia 12 de Janeiro de 2010, um terramoto registado às 16h 53m 10s locais devastou catastroficamente o Haiti, e principalmente a sua capital, Porto Príncipe, onde nem o Palácio Presidencial, o edifício do Parlamento, a Catedral de Notre-Dame de Port-au-Prince ou a principal prisão do país foram poupados. O balanço de vítimas realizado em 3 de Fevereiro apontava para

230.000 mortos confirmados, 4 mil amputações, e 1 milhão de desalojados.

“Um terramoto com a intensidade daquele que atingiu a capital do Haiti teria causado enormes danos em qualquer cidade do mundo. Não é contudo por acaso que uma parte tão considerável de Port-au-Prince pareça agora uma zona de guerra”, apontou na época, Peter Hallward, num artigo que fez parte do dossier “O holocausto haitiano”, publicado no Esquerda.net. Para o filósofo e ensaísta, ficou muito claro que a amplitude da catástrofe resultou de uma ainda mais longa história de empobrecimento deliberado e perda de poder, “herança directa daquele que talvez tenha sido o mais brutal sistema de exploração colonial da história mundial, combinado com décadas de opressão pós-colonial sistemática.”

Muitos países responderam aos apelos pela ajuda humanitária, prometendo fundos, expedições de resgate, equipes médicas e engenheiros. Mas a ajuda real que chegou ao terreno foi escassa, e os atrasos na sua distribuição levaram a apelos desesperados de trabalhadores humanitários e sobreviventes.

Nove meses depois do tremor de terra, mais de um milhão de pessoas continuava sem casa no Haiti.

Era como se o terramoto tivesse acontecido um mês antes. A Associated Press dizia que apenas 2 por cento do entulho fora removido, só 13 mil abrigos temporários tinham sido construídos. Nem um cêntimo da ajuda prometida pelos EUA para a reconstrução, chegara ao Haiti. Só 15 por cento da ajuda mundial prometida por diversos países e organizações chegara até àquele momento ao país.

Em Novembro, as péssimas condições sanitárias e a crise de falta de água provocaram um surto de cólera que, em 22/11, já matara mais de 900 pessoas.

Em 28 de Novembro, realizaram-se as eleições presidenciais que provocaram uma onda de protestos. As autoridades eleitorais anunciaram que o candidato do partido do governo, Jude Celestin, disputará o segundo turno da eleição presidencial com a ex-primeira-dama Mirlande Manigat. Segundo os dados oficiais, Manigat teve 31% dos votos e Celestin teve 22%. O cantor pop Michel Martelly ficou com 21%, com apenas menos 6.800 votos que Celestin, ficando fora do segundo turno.

Muitos observadores estrangeiros afirmaram ter havido irregularidades na votação do dia 28 de Novembro. Doze dos 18 candidatos, incluindo Manigat e Martelly, acusaram o presidente René Préval de favorecer o seu candidato, Celestin. O 2º turno disputa-se em 20 de Janeiro de 2011.

(...)

Neste dossier:

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Em época de balanço do ano, relembramos aqui alguns dos factos que marcaram o mundo em 2010. Começando pela catástrofe que arrasou o Haiti em Janeiro, e concluindo com a primeira grande derrota eleitoral de Barack Obama.

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