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Derrota dos democratas nas eleições dos EUA

Republicanos obtêm a maior vitória de um só partido desde 1948 na Câmara de Representantes. Democratas mantêm maioria no Senado e viram à direita depois das eleições, dando assim razão ao Tea Party.
Manifestação do Tea Party. Foto de Fibonnaci Blue, FlickR

No dia 2 de Novembro realizaram-se nos Estados Unidos as eleições de meio de mandato. Estavam em disputa todas as 435 vagas da Câmara dos Representantes, 37 dos 100 senadores, 37 governos estaduais e territoriais, 46 legislaturas de estado, quatro territoriais e várias locais.

As eleições foram marcadas por uma pesada derrota dos democratas, particularmente na Câmara dos Representantes, onde os Republicanos recuperam a maioria e obtiveram a maior vitória de um só partido desde 1948, conquistando 239 deputados (+60), contra 188 (-68) dos democratas. No Senado, o partido de Obama manteve a maioria, com 51 senadores.

Nas eleições para os governos dos Estados, os democratas também perderam terreno. Apesar de conseguirem tirar cinco governadores aos republicanos (Califórnia, Connecticut, Hawai, Minnesota, e Vermont), perderam 11 para eles (Iowa, Kansas, Ohio, Oklahoma, Maine, Michigan, Novo Mexico, Pensilvânia, Tennessee, Wisconsin e Wyoming). Um independente venceu o governo de Rhode Island, que era republicano, mas estes venceram na Flórida, que era governada por um independente. Contas feita, os republicanos voltaram a controlar a maioria dos governos, que tinham perdido em 2006.

As eleições foram também marcadas pelo surgimento do Tea Party, a ala extrema dos republicanos, que nalguns casos conseguiram canalizar os votos de protesto contra a situação de crise económica e de desemprego.

“As eleições intercalares nos EUA registaram um nível de raiva, medo e desilusão no país como não me lembro em toda a minha vida. Desde que estão no poder, os democratas carregam o peso da revolta contra a nossa actual situação socioeconómica e política”, analisou Noam Chomsky, para quem os cidadãos querem justamente respostas e não as estão a obter, excepto de vozes de “irracionalidade e mentira”, como as do Tea Party. O linguista e activista alerta, porém, que “ridicularizar o Tea Party é um erro grave. É muito mais útil perceber o que está por trás da atracção popular pelo movimento e perguntarmo-nos por que é que são precisamente as pessoas enraivecidas que estão a ser mobilizadas pela extrema-direita e não pelo tipo de activismo construtivo que cresceu durante a Depressão, como o CIO (Congresso das Organizações Industriais).”

Para Chomsky, “os democratas não se podem queixar das políticas que conduziram ao desastre. O presidente Ronald Reagan e os seus sucessores republicanos podem ter sido os maiores responsáveis, mas essas políticas começaram com o presidente Jimmy Carter e prosperaram sob a presidência de Bill Clinton. Durante a eleição presidencial, a base de apoio eleitoral de Barack Obama eram as instituições financeiras, que adquiriram notável supremacia sobre a economia na geração anterior”, recordou.

“Não é o 'centrismo' de Obama que explica o facto de os eleitores se terem voltado contra ele”, analisou Immanuel Wallerstein. “Obama tornou-se impopular porque as coisas parecem estar a correr mal.” Para o sociólogo, “não poderia haver uma comprovação mais clara da tese de Carville: 'É a economia, estúpido'".

Depois da derrota, os democratas viraram à direita: concluíram que estavam com uma agenda "muito progressista" enquanto estavam no poder, e que deveria ser corrigida pelo maior deslocamento para a direita, concordando assim com a análise do Tea Party acerca da administração Obama.

O próprio presidente disse ter "perdido contacto" com o povo americano, significando isto que tinha agido de forma demasiado progressista. Para compensar, moveu-se para a direita:

"Eu tenho de assumir a responsabilidade de deixar claro para a comunidade empresarial [Wall Street e empresas dos EUA], bem como para o país, que a coisa mais importante que podemos fazer é reforçar e incentivar o nosso sector empresarial..."

Obama também prometeu negociar com os republicanos sobre os cortes de impostos, políticas de energia e educação de Bush.

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