Ao longo das últimas semanas, o Esquerda.net foi acompanhando a escalada de tensão na fronteira da Ucrânia e publicando vários artigos que contextualizavam criticamente o conflito. Depois disso, o presidente russo Putin mandou avançar as suas tropas dando início à guerra, com o Bloco de Esquerda a condenar esta "agressão imperialista do Rússia".
Ainda em Dezembro do ano passado, a investigadora Liana Semchuk explicava como a situação de crise tinha “estado na incubadora” durante 30 anos. Yuliya Yurchenko traçava, um pouco mais tarde, a história de como, depois da queda da URSS, Rússia e Ucrânia fizeram uma transição agressiva para o capitalismo que criou as classes oligárquicas agora dominantes e a injustiça social.
Neste quadro, olhámos ainda para a forma como os EUA aproveitaram a situação complicado do seu rival geoestratégico e como expandiram a Nato para países que eram considerados parte da sua “esfera de influência”. Chomsky criticou tanto este alargamento agressivo quanto as contradições dos governos norte-americanos sobre este tema do “respeito pela soberania” de outros estados” e das “esferas de influência”. E Gustavo Buster fez o mesmo analisando a necessidade de rever o conceito de “segurança coletiva” ao nível internacional.
Claro que, para perceber o que se estava a passar, foi preciso olhar também para a forma como o regime de Putin via a sua relação com a Ucrânia. Foi o que fizemos com Miguel Vázquez Liñán que refletiu sobre a propaganda militarista e políticas reacionários do presidente russo.
Depois do deflagrar da guerra, Gilbert Achcar fazia a comparação entre a atuação de Putin na Ucrânia e a de Saddam Hussein.
Momento decisivo para compreender tudo o que se está a viver foi a revolta da praça Maidan em 2014. Esta tem sido envolta em duas narrativas opostas: de um lado conta-se a história de um revolução liberal inspiradora, para o outro tratou-se de um golpe de estado de extrema-direita. Branko Marcetic, por sua vez, vê nela uma combinação de “disputas dos poderosos, da ira justa contra um status quo corrupto e de oportunistas de extrema-direita” que resultou no derrube do governo ucraniano.
No mesmo ano desses acontecimentos, o Esquerda.net publicou o dossier “A Ucrânia esmagada pelas potências”. Dele recuperamos o relato de um militante de esquerda, Gabriel Levy, que participou dos protestos na praça Maidan e que explicava então que “a ala direita e os fascistas são numericamente uma pequena minoria num amplo movimento popular” mas com uma “presença ameaçadora”.
A queda do governo de Yanukovich na sequência do processo chamado “Revolução da Dignidade” transformou-se depois numa guerra civil na região de Donbass. É outro ponto fulcral do conflito. O jornalista Alberto Sicilia esclarece o que se passou numa guerra que, durante oito anos, se continuou a travar, com cessar-fogos pelo meio, mas que ficou esquecida pelo Ocidente. E o especialista Gerard Toal que tem conduzido inquéritos à população da região dos dois lados da guerra mostrava um quadro complexo no que diz respeito à sua identidade e forma como o aspeto económico influencia.
Com a extrema-direita a ser usada como argumento para a guerra e a usar-se da guerra, esta foi outra dimensão que fomos explorando. Mostrámos a influência de Putin na extrema-direita europeia e também olhámos para como este espaço político escolheu o lado do presidente russo no conflito. E, com Adrien Nonjon, analisámos a extrema-direita ucraniana.
Ao longo deste tempo fizemos também questão de dar voz a militantes de esquerda russos e ucranianos. Demos conta da posição do Movimento Socialista Russo contra o imperialismo do seu país, publicámos uma entrevista ao sociólogo ucraniano Volodymyr Ishchenko e da carta aberta que o historiador Taras Bilous escreveu à esquerda ocidental criticando o seu “campismo”, a forma como “exagera a influência da extrema-direita na Ucrânia mas não presta atenção à extrema-direita nas “Repúblicas Populares” e evitar criticar as políticas conservadoras, nacionalistas e autoritárias de Putin”.