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Guerra na Ucrânia

A agressão militar desencadeada por Putin foi o passo mais recente de um conflito antigo. Reunimos aqui artigos de análise da situação e a perspetiva da esquerda russa e ucraniana. Dossier organizado por Carlos Carujo.

Ao longo das últimas semanas, o Esquerda.net foi acompanhando a escalada de tensão na fronteira da Ucrânia e publicando vários artigos que contextualizavam criticamente o conflito. Depois disso, o presidente russo Putin mandou avançar as suas tropas dando início à guerra, com o Bloco de Esquerda a condenar esta "agressão imperialista do Rússia".

Ainda em Dezembro do ano passado, a investigadora Liana Semchuk explicava como a situação de crise tinha “estado na incubadora” durante 30 anos. Yuliya Yurchenko traçava, um pouco mais tarde, a história de como, depois da queda da URSS, Rússia e Ucrânia fizeram uma transição agressiva para o capitalismo que criou as classes oligárquicas agora dominantes e a injustiça social.

Neste quadro, olhámos ainda para a forma como os EUA aproveitaram a situação complicado do seu rival geoestratégico e como expandiram a Nato para países que eram considerados parte da sua “esfera de influência”. Chomsky criticou tanto este alargamento agressivo quanto as contradições dos governos norte-americanos sobre este tema do “respeito pela soberania” de outros estados” e das “esferas de influência”. E Gustavo Buster fez o mesmo analisando a necessidade de rever o conceito de “segurança coletiva” ao nível internacional.

Claro que, para perceber o que se estava a passar, foi preciso olhar também para a forma como o regime de Putin via a sua relação com a Ucrânia. Foi o que fizemos com Miguel Vázquez Liñán que refletiu sobre a propaganda militarista e políticas reacionários do presidente russo.

Depois do deflagrar da guerra, Gilbert Achcar fazia a comparação entre a atuação de Putin na Ucrânia e a de Saddam Hussein.

Momento decisivo para compreender tudo o que se está a viver foi a revolta da praça Maidan em 2014. Esta tem sido envolta em duas narrativas opostas: de um lado conta-se a história de um revolução liberal inspiradora, para o outro tratou-se de um golpe de estado de extrema-direita. Branko Marcetic, por sua vez, nela uma combinação de “disputas dos poderosos, da ira justa contra um status quo corrupto e de oportunistas de extrema-direita” que resultou no derrube do governo ucraniano.

No mesmo ano desses acontecimentos, o Esquerda.net publicou o dossier “A Ucrânia esmagada pelas potências”. Dele recuperamos o relato de um militante de esquerda, Gabriel Levy, que participou dos protestos na praça Maidan e que explicava então que “a ala direita e os fascistas são numericamente uma pequena minoria num amplo movimento popular” mas com uma “presença ameaçadora”.

A queda do governo de Yanukovich na sequência do processo chamado “Revolução da Dignidade” transformou-se depois numa guerra civil na região de Donbass. É outro ponto fulcral do conflito. O jornalista Alberto Sicilia esclarece o que se passou numa guerra que, durante oito anos, se continuou a travar, com cessar-fogos pelo meio, mas que ficou esquecida pelo Ocidente. E o especialista Gerard Toal que tem conduzido inquéritos à população da região dos dois lados da guerra mostrava um quadro complexo no que diz respeito à sua identidade e forma como o aspeto económico influencia.

Com a extrema-direita a ser usada como argumento para a guerra e a usar-se da guerra, esta foi outra dimensão que fomos explorando. Mostrámos a influência de Putin na extrema-direita europeia e também olhámos para como este espaço político escolheu o lado do presidente russo no conflito. E, com Adrien Nonjon, analisámos a extrema-direita ucraniana.

Ao longo deste tempo fizemos também questão de dar voz a militantes de esquerda russos e ucranianos. Demos conta da posição do Movimento Socialista Russo contra o imperialismo do seu país, publicámos uma entrevista ao sociólogo ucraniano Volodymyr Ishchenko e da carta aberta que o historiador Taras Bilous escreveu à esquerda ocidental criticando o seu “campismo”, a forma como “exagera a influência da extrema-direita na Ucrânia mas não presta atenção à extrema-direita nas “Repúblicas Populares” e evitar criticar as políticas conservadoras, nacionalistas e autoritárias de Putin”.

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Neste dossier:

Guerra na Ucrânia

A agressão militar desencadeada por Putin foi o passo mais recente de um conflito antigo. Reunimos aqui artigos de análise da situação e a perspetiva da esquerda russa e ucraniana. Dossier organizado por Carlos Carujo.

Steve Bannon, uma das figuras mais influentes da extrema-direita norte-americana. Foto de Gage Skidmore/Flickr.

Ucrânia: a extrema-direita americana escolheu Putin

Na Europa, a extrema-direita dividia-se tradicionalmente entre o apoio aos seus congéneres ucranianos e o apoio ao regime de Putin. A força do dinheiro desempatava no caso de grandes partidos como os de Le Pen e de Salvini. Nos EUA, depois da invasão a balança passou a pender mais claramente para a admiração pelo presidente russo.

Manifestantes do grupo de esquerda "Movimento Social" manifestam-se contra a guerra. Foto do Facebook desta organização.

Uma carta à esquerda ocidental a partir de Kiev

Com a capital ucraniana a ser bombardeada, o historiador de esquerda Taras Bilous decidiu escrever uma carta à esquerda que “exagera a influência da extrema-direita na Ucrânia mas não presta atenção à extrema-direita nas “Repúblicas Populares” e evitar criticar as políticas conservadoras, nacionalistas e autoritárias de Putin”.

Manifestação de apoiantes do Azov em 2019 em Kiev. Foto de Goo3/Wikimedia Commons.

Os dois rostos da extrema-direita ucraniana

A propaganda de Putin mostra a Ucrânia como um estado fascista. A ocidente a extrema-direita ucraniana costuma ser negligenciada. Adrien Nonjon faz aqui o retrato realista de um fenómeno que apesar de continuar a ser “marginal”, tenta ser “o novo ponto de convergência e de partida para uma revolução nacional pan-europeia”.

Putin foto de Antonio Marín Segovia/Flickr.

A guerra de Putin na Ucrânia: nas pegadas de Saddam Hussein

Há um paralelo impressionante entre o comportamento de Vladimir Putin na Ucrânia e o comportamento de Saddam Hussein no passado. Os dois homens recorreram à força, acompanhados de reivindicações notavelmente semelhantes, para alcançar ambições expansionistas. Por Gilbert Achcar.

Barricada dos independentistas em Luhanksem 2014. Foto de Qypchak/Wikimedia Commons.

“Há sentimentos muito contraditórios na população de Donbass”

O investigador Gerard Toal tem feito inquéritos às populações do sudeste da Ucrânia e em Donbass em particular. Defende que a identidade desta região não é etno-nacionalista mas marcada sobretudo pelo orgulho na sua potência industrial da era soviética. E fala ainda das raízes do conflito e da agenda do governo de Putin.

Putin, o czar da extrema direita russa e europeia

Os principais aliados políticos de Vladimir Putin na Europa são partidos da extrema-direita. Por entre acordos de cooperação com o partido Rússia Unida e denúncias de financiamento ilegal a partir de Moscovo, as formações lideradas por Salvini, Marine Le Pen e Viktor Orbán integram a órbita europeia do chefe do Kremlin.

Bloco condena "agressão imperialista da Rússia" e defende "Ucrânia integral e neutral"

A Comissão Política do Bloco de Esquerda defende que Portugal deve "condenar a aventura militar de Putin e demarcar-se dos posicionamentos de apoio aos EUA e à expansão da NATO". Leia aqui o comunicado.

Banco Nacional da Ucrânia. Foto de Max/Wikimedia Commons.

A Ucrânia e o Império do Capital

A transição voraz do país para uma economia de mercado dirigida pelo bloco cleptocrático dominante tornou a Ucrânia numa vítima do implacável crescimento do império do capital vulnerável à colisão entre os imperialismos capitalistas russo e ocidental. Por Yuliya Yurchenko.

Manifestantes do Movimento Socialista Russo em 12 de fevereiro. Foto do Facebook do grupo.

Movimento Socialista Russo toma posição contra “imperialismo russo”

Putin culpou Lenine pela existência da Ucrânia e ameaçou mostrar a Kiev “o que significa descomunização”. O MSR apela à retirada imediata de tropas russas e ao direito dos cidadãos ucranianos a decidir o destino do seu país "sem os imperialistas do ocidente ou do oriente".

Jardim de infância bombardeado esta quinta-feira. Foto de EPA/JOINT FORCES OPERATION PRESS SERVICE/Lusa.

Perguntas e respostas sobre a guerra que estava esquecida em Donbass

A atenção mediática mundial virou-se para o bombardeamento de um jardim de infância no leste da Ucrânia. Mas a região está em guerra há oito anos. Alberto Sicilia esclarece o que está em disputa neste conflito.

Manifestantes na praça Maidan a atirar cocktails molotov. Foto de Mstyslav Chernov/Wikimedia Commons.

Como uma insurreição de extrema-direita apoiada pelos EUA nos trouxe à beira da guerra

Em 2014, as disputas dos poderosos, a ira justa contra um status quo corrupto e oportunistas de extrema-direita derrubaram o governo ucraniano. A crise de hoje não pode ser compreendida sem entender as revoltas de Maidan – e o apoio de Washington. Por Branko Marcetic.

Praça Maidan em Kiev que se tornou o centro da revolta de 2014.

“Alemanha é o alvo principal da campanha mediática da invasão iminente”

Nesta entrevista, o sociólogo ucraniano Volodymyr Ishchenko explica as origens da atual crise e as ficções que se construíram acerca dela.

Biden passa revista a militares recém-formados. Foto de West Point/Flickr.

Chomsky: Abordagem dos EUA à Ucrânia e Rússia “deixou de ser racional”

Nesta entrevista ao Truthout, o intelectual norte-americano analisa as contradições dos EUA sobre “esferas de influência” e sobre “respeito à soberania” dos países, ao mesmo tempo que recorda a história do alargamento da Nato a Leste.

Destruição causada pela guerra em Sloviansk. Foto de Wojciech Zmudzinski/Flickr.

A “segurança coletiva” e o conflito na Ucrânia

O princípio da soberania absoluta de segurança e militar da Ucrânia tornou-se numa desculpa para manter a funcionalidade da NATO e colocá-la no seu contexto regional europeu sob a hegemonia dos EUA, após o seu fracasso no Afeganistão. Artigo de Gustavo Buster.

Restos de material de guerra do conflito em Debaltseve. Foto Unicef Ucrânia.

A Ucrânia, segundo o Kremlin

Ainda que seja inegável que há um confronto geo-estratégico entre NATO e Rússia, quem olhe para este conflito a partir da esquerda não deve fazer um duplo mortal com pirueta e acabar a apoiar o reacionário e contra-revolucionário Putin, cujas políticas fariam as delícias dos militantes do VOX. Por Miguel Vázquez Liñán.

Tanque T-90-S russo. Foto de Dmitry Terekhov/Flickr.

Ucrânia: Crise entre a Rússia e o ocidente tem estado na incubadora há 30 anos

Por um lado, a Rússia pretende opor-se à expansão da NATO para leste. Por outro, esta teme que a acumulação de meios militares na Bielorrússia e na fronteira com a Ucrânia possa ser o prenúncio de uma invasão deste país. Tensões que vêm desde a dissolução da União Soviética. Por Liana Semchuk.