Eleições na Holanda: da tolerância à extrema-direita?

A 15 de março têm lugar as eleições parlamentares na Holanda. Todas as sondagens preveem que o partido de extrema-direita de Wilders vença as eleições e que os partidos do atual governo, liberais de direita de Mark Rutte e trabalhistas de Dijsselbloem sejam derrotados. Dossier organizado por Carlos Santos.

05 de fevereiro 2017 - 11:00
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Amsterdam, Holanda - Foto de Hansphoto/flickr
Amsterdam, Holanda - Foto de Hansphoto/flickr

Neste dossier, publicamos artigos sobre as sondagens que apontam derrota dos partidos do governo e subida da extrema-direita, o sistema eleitoral e partidário holandês, o crescimento da extrema-direita e da islamofobia e republicamos o texto Holanda, cínico paraíso fiscal.

A tolerância é a imagem que marca internacionalmente a Holanda. Na origem desta imagem está a tolerância face às religiões, ao longo de séculos, os direitos sociais alcançados e as conquistas marcantes em direitos e liberdades individuais. O sistema eleitoral, bastante democrático, dá igualmente o seu contributo.

Essa imagem tem vindo a alterar-se profundamente, com governos cada vez mais à direita, sobretudo na última década; com o crescimento da extrema-direita, desde 2002; com os cortes em direitos sociais e serviços públicos; com o aumento da repressão de movimentos sociais; com a imposição da política de austeridade. A Holanda é, sobretudo desde 2012, dos países que mais têm defendido a austeridade na Europa e o seu governo destacou-se pelos ataques à Europa do Sul, aos países mais duramente atingidos pela crise. Os trabalhistas holandeses foram os mais acérrimos defensores do austericídio e a sua figura política mais conhecida, o atual ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, desempenhou o papel de lacaio e carrasco de Schäuble.

A Holanda é também um paraíso fiscal, característica de parasitismo económico (The ‘dark side’ of the Netherlands1, como lhe chama a ONG holandesa Somo) que se aprofundou na última década. Aliás, política de austeridade e paraíso fiscal, parecem cara e coroa da mesma política que tem dominado a governação da Holanda.

Durante as primeiras décadas a seguir à segunda guerra mundial, a democracia-cristã (primeiro com vários partidos e depois predominantemente com o partido CDA, em resultado da fusão de três partidos) detinha a hegemonia partilhada com os trabalhistas. Na última década o partido hegemónico tem sido o liberal de direita VVD, que conduziu uma política progressivamente mais neoliberal e mais à direita. Nas eleições de março próximo, parece que a viragem à direita vai prosseguir no país, com novo crescimento da direita, nomeadamente da extrema-direita de Wilders.

A situação da Holanda e a vida da sua população não tem melhorado, pelo contrário. Três contradições dominam a vida política e marcam as diferenças partidárias: o Estado Social ou a austeridade e o neoliberalismo económico; a soberania e os direitos nacionais ou a submissão completa à União Europeia e à Europa do diretório; a defesa da imigração e dos refugiados ou o racismo, a xenofobia e a islamofobia. Por agora, o crescimento da direita prossegue, mas a Holanda tem uma profunda tradição democrática e uma esquerda que pode crescer e vir a constituir alternativa.

Com este dossier pretendemos contribuir para uma maior informação sobre a situação política na Holanda. No esquerda.net existem outros artigos que podem ajudar nessa informação, nomeadamente:

De onde vem esta esquerda radical?

Austeridade e euroceticismo dominam campanha

Bipolarização vence legislativas holandesas

O problema com Dijsselbloem

Presidente do Eurogrupo envolvido em polémica com deduções fiscais à banca

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