Foi numa reunião na Biblioteca Nacional, então dirigida por Jaime Cortesão, que germinou a ideia de uma revista de doutrina e crítica que, por inspiração de dois dos seus fundadores, Aquilino Ribeiro e Câmara Reis, viria a chamar-se Seara Nova. O seu primeiro número foi publicado a 15 de outubro de 1921.
Em Seara Nova: A consciência crítica da República, Luís Farinha explica como esta revista se afirmou, desde o início, “como a face visível de um projeto cultural e político que balizava a sua ação pela construção de um pensamento crítico, inspirador para as elites que governavam o país e escola de civismo para a nação republicana”.
Álvaro Arranja transporta-nos, por sua vez, para um período específico da história da Seara Nova, quando, entre novembro de 1924 e fevereiro de 1925, esta “inclui uma das suas figuras, Ezequiel de Campos, no único governo nitidamente de esquerda da 1ª República, o Governo da Esquerda Democrática de José Domingues dos Santos”.
No artigo A Seara Nova e a questão colonial, relembramos contributos da historiadora Cláudia Castelo, que afirma que “o programa que une os republicanos em torno da defesa do Império, das colónias como uma condição de sobrevivência da própria nação”, é “um discurso que se encontra na Seara Nova abundantemente”. Mas também assinala uma viragem em 1959.
Os cem anos da Seara Nova são, conforme assinala Helena Neves, “marcados por vivências históricas e ideológicas diversas, mas, com exceção do primeiro período de publicação e o período aberto com o 25 de Abril de 1974, todas emergindo na oposição à ditadura, abrindo para um tempo pelo qual os seareiros tanto lutaram”. Hoje celebramos “um passado que se não encerra e antes, pelo contrário, urge abrir para o futuro”. Para um “futuro de mais Seara e mais Nova”.
De facto, a atualidade dos princípios fundadores da Seara Nova perpassa todo o dossier. Comemorar os cem anos da Seara Nova não pretende ser, evidentemente, um qualquer exercício saudosista. Tal como tão bem enfatiza Diana Andringa, realizadora do documentário “Há 100 anos, a Seara Nova”, que partilhamos neste dossier, “se muito daquilo por que os seareiros lutaram se realizou (tristemente após a morte dos seus fundadores), muito está ainda por realizar e parece por vezes voltar a estar em perigo”.
No podcast Convocar a História Fernando Rosas e Luís Trindade falam com o historiador António Rafael Amaro sobre a Seara Nova e a intervenção intelectual em tempos sombrios, as suas ambiguidades e contradições.
Incluímos ainda neste dossier um artigo sobre o primeiro número da revista e uma agenda das iniciativas de comemoração do centenário da revista.