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Carta dos portugueses exilados na Checoslováquia sobre a invasão soviética
Seis comunistas portugueses exilados na Checoslováquia acompanharam com angústia a invasão soviética. "Sem esperar as decisões de dirigentes de qualquer escalão", relata Flausino Torres, "declarando-nos imediatamente pelo lado da justiça, cumprindo um dever à luz dos princípios." A carta seria seguida por uma segunda, datada de 16 de Setembro, que já reage à "decisão vergonhosa da Direcção do Partido Comunista Português".
QUERIDOS CAMARADAS
Em virtude de não termos podido obter qualquer informação sobre a posição do Partido Comunista Português no que respeita à trágica ocupação militar da Checoslováquia pelo exército das Repúblicas Populares da Alemanha Democrática, Bulgária, Hungria, Polónia e URSS, nós, Portugueses, exilados políticos, residentes na República Socialista da Checoslováquia, queremos declarar-vos:
- Toda a nossa solidariedade com o Partido Comunista da Checoslováquia, com o seu povo, assim como com os seus órgãos representativos democraticamente eleitos;
- Esperamos que esta ocupação militar termine o mais cedo possível, no interesse do movimento comunista internaciona1;
- Pensamos que esta nossa opinião, de completo desacordo com um erro político dramático, não dê aso a confusões com qualquer acto de anti-socialismo, pois nunca esquecemos as acções do Povo Soviético em prol da libertação dos outros povos, em 1945, da coexistência pacífica, do socialismo
e do progresso;
- Reafirmamos nesta nossa declaração as posições por nós assumidas nos primeiros dias da invasão - documentos entregues às Embaixadas dos países ocupantes, assim como aos dirigentes legais do Partido Comunista e do Povo Checoslovaco. Os dias decorridos entre o 1.º documento e este mais cimentaram as nossas opiniões acerca da injustiça dum tal acto que só ajudou as forças capitalietas e a reacção internacional;
- Expressamente, saudamos a calma, a dignidade, a inteligência, do Povo Checoslovaco e dos seus Dirigentes, desejando o completo restabelecimento do processo de democratização e o desenvolvimento do socialismo na liberdade - que tantas esperanças estava dando aqueles que, tanto nos países socialistas como no mundo capitalista, lutam por um socialismo humano e renovador.
Praga, 16 de Setembro de 1968
Apêndice
l.º Tomámos, apenas nesta noite de 17 de Setembro, conhecimento da decisão vergonhosa da Direcção do Partido Comunista Português e não nos solidarizamos com ela;
2' . Com a responsabilidade de militantes que demos todos os nossos esforços à luta contra o fascismo português, queremos declarar expressamente que consideramos esta resolução - comprometendo somente o Secretariado do Partido Comunista Português - como renegando e traindo toda a Linha do Partido Comunista Português, aprovada nos seus Congressos, não só no que respeita à política nacional, mas também à política de Paz, de Fraternidade Socialista, de Coexistência Pacífica, no que concerne ao Movimento Comunista Internacional.
Extraído do livro "Flausino Torres, Documentos e fragmentos biográficos de um intelectual antifascista", de Paulo Torres Bento, editado pela Afrontamento
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