Neste dossier, Luís Fazenda questiona BRICS, anti quê?, salienta que o grupo de países, “não questiona o sistema capitalista, sequer o imperialismo” e não se pode apresentar como “progressista”. Lembrando que “a aceleração do processo BRICS deve muito à imposição das sanções económicas à Rússia”, o texto considera que “a vocação financeira dos BRICS no sistema internacional parece limitada”.
Em “Os BRICS+ saem de Joanesburgo rebaixados a sub- (e não anti- ou inter-) imperialistas”, Patrick Bond critica o que considera as “ambições sub-imperiais” do grupo, salientando a “obediência contínua dos BRICS às instituições neoliberais ocidentais”, fazendo diversas citações a propósito e referindo que, na última década, “Os BRICS não fizeram qualquer esforço para contestar coletivamente a direção-geral do FMI”. O autor, denuncia também o ponto 63 da declaração de Joanesburgo de agosto de 2023, que considera uma versão do “negacionismo climático” e, sobre as relações monetárias e cambiais, cita o ministro sul-africano das finanças que afirmou: "Não temos intenção de substituir o dólar. No artigo, é afirmado também que o bloco não conseguiu “nada de substancial” (especialmente em relação à “geopolítica”), “nem sequer uma desdolarização rudimentar.
Ana Garcia, em A expansão dos BRICS, salienta que o bloco pode ser analisado em “três dimensões”. Numa “visão de cima”, em que “procuram acumular capacidades” contra as “potências tradicionais”. Numa perspetiva “horizontal” pela análise das relações intra-bloco, em que destaca o falhanço da cooperação no combate à pandemia e sublinha a “preponderância económica da China”. Na perspetiva das relações com outros países e regiões em desenvolvimento, a autora destaca que a atuação das grandes empresas do bloco “ reproduzem práticas de exploração de matérias-primas, trabalho e recursos naturais”.
Em “BRICS a 11 representa + de 40% da extração mundial de petróleo”, analisa-se o alargamento realizado e o que se altera ou acentua no bloco. Na nova composição é acentuado o peso da extração de petróleo, passando o agrupamento a produzir 42 a 45% da produção mundial atual. Outro traço chave neste alargamento é o aumento de ditaduras e de países fortemente repressivos contra os direitos humanos, nomeadamente contra os direitos das mulheres e aos direitos às pessoas LGBTQIA+.
Em “As posições do Sul global em relação à Ucrânia são mais complexas do que se pensa”, Michael Karadjis analisa em que medida as posições de neutralidade face à guerra da Rússia contra a Ucrânia representa os interesses das populações do Sul global, concluindo que aquelas posições “representam os interesses das próprias elites poderosas emergentes e não os dos milhares de milhões de pessoas do Sul global”. O autor considera, nomeadamente, que as abstenções da Índia na ONU “representam uma combinação de vínculos tradicionais com a Rússia e o posicionamento global de uma elite subimperial dos BRICS” e salienta que Modi “encabeça um regime profundamente chauvinista num país onde o número de multimilionários está a aumentar tão rapidamente como o maior número de pessoas absolutamente pobres da Terra”.
No artigo “Estratégias da China no estrangeiro” aborda-se os caminhos seguidos pela China para afirmar o seu poder económico, analisando as “novas rotas da seda” e os laços económicos com os BRICS. O texto considera que os BRICS não constituem “uma alternativa viável ao neoliberalismo e ao imperialismo ocidental”.
Por fim, republicamos o artigo “Os BRICS e a fábrica de mitos”, do falecido economista mexicano Alejandro Nadal, que num texto de 2014 afirma que “o modelo neoliberal baseado na necessidade de manter salários competitivos continua a ser a espinha dorsal das diretrizes da política económica nos BRICS”. “A globalização neoliberal não será desafiada por um grupo de líderes de países nos quais o neoliberalismo se mantém triunfante”, afirmava ainda o autor.
Na cimeira de agosto passado, os BRICS não responderam aos maiores desafios do mundo no tempo atual: a emergência climática, a desigualdade social, os direitos humanos e a democracia. Pelo contrário, o alargamento dos BRICS acentuou o peso dos combustíveis fósseis no bloco e aumentou o número de países que violam os direitos nos países que o compõem.