À luz da ciência, sabemos hoje que existem animais não-humanos sencientes, que sentem dor, prazer, stress, felicidade, tristeza, frio, fome e são capazes de desenvolver depressões quando são mal tratados.
No entanto, sabemos também que esses mesmos animais continuam a sofrer e a ser explorados pelas indústrias, quer seja em pseudo-espectáculos, como as touradas e os circos, em comércio, como as lojas de animais, em vestuário e acessórios (como o calçado, malas, cintos, carteiras), em experiências, que servem a indústria dos cosméticos e de todos os produtos de higiene, e para a alimentação, que tornou a produção massiva de animais para consumo uma das cinco indústrias mais poluidoras do planeta.
A questão que aqui se coloca é a de que posição é que devemos assumir perante estes animais. E esta é uma questão crucial na modernização ética da sociedade humana.
Na nossa lei, os animais são tratados como “coisas”. Isto é, são “coisas” que são propriedade de alguém e que servem os seus interesses. E se são propriedade de alguém, se são “coisas” de alguém”, nunca vão poder ter direitos, vai-lhes sempre ser negada a sua individualidade enquanto indivíduos de uma sociedade.
E é por isso que a reformulação da lei da protecção dos animais deve ser o primeiro passo nesta luta. Porque esta é uma luta que tem de ser construída gradualmente. É uma luta de mudança de mentalidades, uma luta por um mundo mais evoluído, mais justo e respeitador de princípios éticos.
E é por isso que é preciso consciencializar as pessoas, é preciso promover o debate político entre vários públicos sobre o assunto. É preciso contrariar o discurso de que há assuntos mais importantes para pensar, questões mais urgentes para resolver. Porque esse discurso geralmente vem acompanhado do desinteresse, do conformismo e da renúncia à construção social, acrescido da negação em reconhecer aos animais capacidades de sentir e de sofrer.
Assim, é urgente fazer um apelo às pessoas para que não deixem de lutar, não deixem de acreditar que é possível, não se deixem levar pelo discurso de que “isso nunca vai mudar, nunca vai acabar”, porque nenhuma forma de protesto é fácil. Mas para isso acontecer, não pode haver uma demissão da nossa parte das nossas competências sociais e políticas. É importante reivindicarmos por aquilo em que acreditamos. É importante o nosso envolvimento em estruturas formais como movimentos, organizações, associações, porque são ferramentas úteis na organização do próprio sistema.
A forma de mudarmos esses problemas é nós fazermos da nossa existência social, uma participação social. E a mudança começa em cada um de nós, em cada escolha que tomamos nas nossas vidas.