Esta dominação faz-se sempre acompanhar da violência, seja ela física, moral ou psíquica e reveste as mais diversas formas, identificando-se, entre outras, a mutilação genital, o tráfico para exploração sexual e laboral, os casamentos forçados, as violações, ou a violência nas relações de intimidade.
Aliás, esta última tem sido, sob a designação de violência doméstica, é uma das formas de violência que se tem tornado mais visível, devido ao aumento de denúncias também facilitado pelo facto de se ter tornado crime público.
Segundo alguns académicos e académicas, entre as quais Walker, a mentora da teoria do Ciclo, a violência conjugal exerce-se por fases ou ciclos e nem sempre com a mesma forma, duração e intensidade.
Esta teoria impôs-se como contributo significativo para explicar a manutenção nas relações abusivas e identifica nestas o seguinte padrão cíclico: fase do acumular de tensão, fase de ocorrência da agressão e fase de lua de mel.
A fase do aumento de tensão implica violência psicológica. Consiste numa rotina carregada de insultos e humilhações que proporcionam um sentimento de inferioridade e uma perda da autoestima da mulher. Os pretextos do agressor para este rebaixamento estão frequentemente relacionados com ciúmes e com situações do quotidiano, como pela mulher ter cozinhado com mais pimenta, ou ter saído de casa sem o avisar. Desta forma vai-se criando um ambiente cada vez mais tenso e unidirecional.
A fase do ataque violento implica violência física e psicológica. Este ataque pode ser de grande intensidade, podendo a mulher precisar de cuidados de saúde, aos quais o agressor nem sempre permite um acesso imediato.
Na fase da “lua de mel” o agressor mostra-se arrependido e manifesta que não vai voltar a ser violento, que foi a última vez. Caracteriza-se frequentemente por uma saída de casa - o casal passa um dia ou um fim de semana fora - o agressor costuma oferecer flores, dar prendas e tentar seduzir a mulher pedindo desculpas com delicadeza. A mulher vive esta fase numa mistura entre medo, esperança e amor.
Este ciclo pode repetir-se durante meses ou anos e pode ter fases mais longas no tempo do que outras. O homicídio é o seu exponente máximo.
Entender o porquê de serem as mulheres as principais vítimas da violência, quer seja no espaço privado, quer no espaço público, exige uma compreensão sobre a forma como as sociedades se organizam ao nível económico, político, social, cultural, sendo que aqui, a análise dos discursos e as representações sociais (mitos e crenças) sobre as mulheres assumem expressão determinante.
Por exemplo, quando o Ministro da Economia diz que: “Se as mulheres tiverem a mesma produtividade que os homens até podem ganhar o mesmo salário” está a exercer a sua violência patriarcal sobre as mulheres, mediante a humilhação e usando uma falácia. A de que as mulheres produzem menos.
Hoje em dia as mulheres estão no mercado de trabalho quase na mesma proporção do que os homens, mas recebem menos, muitas vezes pelo mesmo trabalho e com a mesma produção. Outras vezes são relegadas a trabalhos menos qualificados e pior pagos. Exercem largas horas de trabalho doméstico, que não só não é pago como é desvalorizado. Este trabalho doméstico é produção e, ao mesmo tempo, é essencial para a produção.
Se se tiver em conta o trabalho profissional remunerado e o trabalho doméstico das mulheres, ver-se-á que elas produzem mais em relação aos homens.
As relações de dominação acompanham-se com frequência dum discurso que mascara as desigualdades sociais de factores naturais, assumindo as desigualdades como algo inevitável.
Sem denúncia e desconstrução este tipo de discursos, como o de Álvaro Santos Pereira, e outros, podem ser facilmente interiorizados.
A violência contra as mulheres é um filme de terror que não acabou. Ela existe e é preciso que se denuncie. Por isso, vamos Marchar no dia 25 de Novembro às 17h no Largo de Camões, em Lisboa.
Estamos atentas e vigilantes!