O relatório da comissão do serviço público para a comunicação social traz no bojo “uma catástrofe” para as televisões e para os meios de informação em geral que se refletirá em “mais falências e despedimentos” e que será “uma tragédia” para o acesso dos portugueses a uma informação livre, denunciou o eurodeputado Miguel Portas no seu espaço semanal do programa Conselho Superior da Antena Um.
O documento da comissão presidida pelo economista João Duque “não tem pés nem cabeça”, sublinhou o eurodeputado da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleito pelo Bloco de Esquerda enumerando as prováveis malfeitorias que irá provocar no sector, desde o saldo da publicidade num tempo de crise até uma diminuição da quantidade e qualidade da informação, passando pelo aumento das pressões sobre os jornalistas.
Miguel Portas explicou que uma privatização do Canal Um da RTP, para o qual não existem compradores óbvios em Portugal e que pode ir parar “a capitais angolanos ou brasileiros”, aumentará o espaço publicitário em cerca de 20 por cento, o que num contexto de crise será “catastrófico” porque irá fazer “baixar enormemente” o preço da publicidade nas televisões, com efeito de contaminação a rádios, jornais e revistas. O resultado, diz o eurodeputado, resume-se em poucas palavras: “mais falências e mais despedimentos na área de comunicação social”. Espanta, acrescenta Miguel Portas, “que o economista João Duque que dirige o grupo de trabalho não saiba disto”, o que só se justifica por estar “ao serviço de uma agenda ideológica”.
A questão mais grave do relatório, segundo o eurodeputado, é o que poderá passar-se com a informação dentro do contexto defendido por Duque de a colocar “ao serviço da nação”, em parte risonha e otimista titulada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Por detrás do conceito exposto no relatório está, segundo Miguel Portas, a transformação dos jornalistas “em carne para canhão”, pressionados e sem independência, a diminuição global da qualidade e quantidade de informação, a redução da pressão sobre os atuais canais privados para que produzam informação. “Um do pontos fortes da RTP”, salienta Portas, “é, apesar de tudo, o trabalho da informação. No momento em que se tirar à RTP a pressão para um trabalho de informação completo e plural isto só irá agravar o panorama da informação em geral”.
“Mas o que é verdadeiramente a tragédia deste grupo de trabalho”, rematou Miguel Portas, “é que nos tempos que correm pelos vistos só nos saem é duques”.
Artigo publicado no site do Grupo Parlamentar Europeu do Bloco de Esquerda a 21 de novembro de 2011.