Os pouco mais de 2000 trabalhadores que a empresa tem neste momento só fazem sentido, e todo o sentido, numa ótica de prestação de serviço público, não só na rádio e na televisão, mas também em áreas frequentemente esquecidas como o arquivo ou a multimedia.
Nessa ótica até faria todo o sentido aproveitar a introdução da Televisão Digital Terrestre (TDT) para criar novos canais em sinal aberto. Vários que hoje existem como canais temáticos, apenas acessíveis nos pacotes pagos da televisão por cabo, poderiam tornar-se acessíveis, gratuitamente, à generalidade do público. Esse tem sido o caminho no resto da Europa e com esse caminho cada público passaria a ter muito mais possibilidades de ver no écran o que lhe interessa. A diversidade dos públicos deixaria de ser um quebra-cabeças insolúvel para quem faz as grelhas. E, nesse florescimento do panorama audio-visual, haveria muito que fazer – bastante para quantos hoje trabalham no sector e para quantos nele querem vir a trabalhar. Ninguém seria supérfluo.
Se o objetivo for, pelo contrário, colocar em lugar da televisão pública uma estação comercial altamente lucrativa, então a política mais rentável será a de ficar com a tal frequência que está à venda e comprar fora quase todos os conteúdos a emitir. Para captar audiências com enlatados e para vender espaços publicitários, basta um video-clube com muito poucos postos de trabalho. E um canal público residual terá muito menos trabalhadores do que a atual RTP.
Temos então uma primeira resposta para a pergunta deste título: sim, os trabalhadores da RTP são supérfluos para uma rádio e para uma televisão fixadas no máximo de faturação com o mínimo de custos. E, por esse motivo, o processo de privatização que o Governo teimosamente pretende concluir até ao fim deste ano é algo que só pode ser enfrentado pelos trabalhadores da RTP numa luta de tudo ou nada.
Mas este projeto de privatização não vai beneficiar ninguém, se não os futuros donos da empresa. Nem falamos já dos trabalhadores, pelo motivo que acima ficou enunciado. Falamos do público, falamos do contribuinte, falamos até do Estado.
O público ficará com uma escolha muito mais limitada. O Estado terá de pagar uma guerra cara e levar a cabo a razia que qualquer comprador lhe exige como condição prévia à compra do canal. O dinheiro que receber na venda mal lhe servirá para pagar os custos dessa guerra. Não venham, portanto, contar-nos a história do muito que vale a RTP no mercado e do muito que ela pode trazer aos cofres do Estado. Ela só valerá alguma coisa quando se livrarem de nós, dos e das supérfluas.
E nós vamos fazê-los pagar pela nossa pele, pela nossa vida, pelo nosso futuro, tão caro quanto pudermos. Tudo faremos para que o ministro Relvas e os seus comparsas, quando acabarem connosco, se conseguirem, estejam politicamente feridos de morte. Com isso teremos, ao menos, contribuído para a higiene da vida política. Teremos prestado um serviço público.