Está aqui

Os trabalhadores da RTP são supérfluos?

O Governo anunciou que pretende privatizar até ao fim de 2012 um dos canais da RTP. O anúncio é uma espada de Dâmocles sobre a cabeça dos trabalhadores da rádio e da televisão públicas. Embora oficialmente apenas se tenha falado até aqui em “rescisões amigáveis”, a verdade é que um canal da RTP só seria privatizável mediante um massacre dos postos de trabalho. Por António Louçã, da Comissão de Trabalhadores da RTP.
Um canal público residual terá muito menos trabalhadores do que a atual RTP. Foto Paulete Matos

Os pouco mais de 2000 trabalhadores que a empresa tem neste momento só fazem sentido, e todo o sentido, numa ótica de prestação de serviço público, não só na rádio e na televisão, mas também em áreas frequentemente esquecidas como o arquivo ou a multimedia.

Nessa ótica até faria todo o sentido aproveitar a introdução da Televisão Digital Terrestre (TDT) para criar novos canais em sinal aberto. Vários que hoje existem como canais temáticos, apenas acessíveis nos pacotes pagos da televisão por cabo, poderiam tornar-se acessíveis, gratuitamente, à generalidade do público. Esse tem sido o caminho no resto da Europa e com esse caminho cada público passaria a ter muito mais possibilidades de ver no écran o que lhe interessa. A diversidade dos públicos deixaria de ser um quebra-cabeças insolúvel para quem faz as grelhas. E, nesse florescimento do panorama audio-visual, haveria muito que fazer – bastante para quantos hoje trabalham no sector e para quantos nele querem vir a trabalhar. Ninguém seria supérfluo.

Se o objetivo for, pelo contrário, colocar em lugar da televisão pública uma estação comercial altamente lucrativa, então a política mais rentável será a de ficar com a tal frequência que está à venda e comprar fora quase todos os conteúdos a emitir. Para captar audiências com enlatados e para vender espaços publicitários, basta um video-clube com muito poucos postos de trabalho. E um canal público residual terá muito menos trabalhadores do que a atual RTP.

Temos então uma primeira resposta para a pergunta deste título: sim, os trabalhadores da RTP são supérfluos para uma rádio e para uma televisão fixadas no máximo de faturação com o mínimo de custos. E, por esse motivo, o processo de privatização que o Governo teimosamente pretende concluir até ao fim deste ano é algo que só pode ser enfrentado pelos trabalhadores da RTP numa luta de tudo ou nada.

Mas este projeto de privatização não vai beneficiar ninguém, se não os futuros donos da empresa. Nem falamos já dos trabalhadores, pelo motivo que acima ficou enunciado. Falamos do público, falamos do contribuinte, falamos até do Estado.

O público ficará com uma escolha muito mais limitada. O Estado terá de pagar uma guerra cara e levar a cabo a razia que qualquer comprador lhe exige como condição prévia à compra do canal. O dinheiro que receber na venda mal lhe servirá para pagar os custos dessa guerra. Não venham, portanto, contar-nos a história do muito que vale a RTP no mercado e do muito que ela pode trazer aos cofres do Estado. Ela só valerá alguma coisa quando se livrarem de nós, dos e das supérfluas.

E nós vamos fazê-los pagar pela nossa pele, pela nossa vida, pelo nosso futuro, tão caro quanto pudermos. Tudo faremos para que o ministro Relvas e os seus comparsas, quando acabarem connosco, se conseguirem, estejam politicamente feridos de morte. Com isso teremos, ao menos, contribuído para a higiene da vida política. Teremos prestado um serviço público.
 

(...)

Neste dossier:

Serviço público de televisão sob ameaça

O negócio da venda da RTP1 a privados tem ainda muito por explicar. A começar pela identidade do comprador, à falta de grupos nacionais com dinheiro ou interesse para investir agora num canal de tv. Mas não há grandes dúvidas sobre o efeito negativo duma possível venda para a qualidade da informação e programação televisiva.
Dossier coordenado por Luís Branco.

"A venda de um canal da RTP está mal estudada"

Paquete de Oliveira foi o primeiro Provedor do Telespectador da RTP e conhece bem o serviço público de televisão que se faz em Portugal. Nesta entrevista ao esquerda.net, critica a intenção do Governo de vender um canal sem acautelar o interesse da população, do Estado e da própria empresa.

Serviço público é alternativa à monotonia das TV's

Quando se cumprem vinte anos sobre a abertura dos canais privados, as únicas exceções à monotonia do panorama televisivo dos canais de sinal aberto vêm dos canais públicos, RTP1 e RTP2. Privatizar um deles é um erro. Por Diana Andringa, do Conselho de Opinião da RTP.

O que é que luta pela RTP tem a ver com a democracia? Tudo.

Abrir um canal televisivo em sinal aberto tem profundas implicações no funcionamento do sistema democrático; fazê-lo através da alienação de um canal de serviço público é perverter tanto o serviço público como as regras de licenciamento de novos serviços de programas.

Os trabalhadores da RTP são supérfluos?

O Governo anunciou que pretende privatizar até ao fim de 2012 um dos canais da RTP. O anúncio é uma espada de Dâmocles sobre a cabeça dos trabalhadores da rádio e da televisão públicas. Embora oficialmente apenas se tenha falado até aqui em “rescisões amigáveis”, a verdade é que um canal da RTP só seria privatizável mediante um massacre dos postos de trabalho. Por António Louçã, da Comissão de Trabalhadores da RTP.

Newshold: o silêncio é a arma do negócio?

Há uns anos, o ex-deputado laranja Agostinho Branquinho perguntou numa comissão parlamentar o que era a Ongoing. Poucos meses depois, trocava São Bento por um cargo na empresa que dizia desconhecer. Com a Newshold, detida por uma sociedade offshore no Panamá e ligada a capitais do regime angolano, a pergunta é outra: o Governo mandou calar na rádio e na agência de notícias pública uma voz crítica de Eduardo dos Santos para agradar a Luanda, aparentemente interessada na RTP1?

"Uma RTP com 3% de audiência não é serviço público"

No debate parlamentar de 11 de janeiro, por iniciativa do Bloco de Esquerda, Catarina Martins acusou o PSD e o CDS de quererem manter a RTP num estado vegetativo até concretizarem "um negócio já decidido antes das eleições, uma promessa por cumprir a alguém que não os eleitores". Ao contrário de todos os países europeus, o governo português pretende diminuir o serviço público em vez de aproveitar a entrada do digital para aumentá-lo.

Afinal, quanto nos custa a RTP?

O Observatório Europeu do Audiovisual comparou em 2010 os custos e as receitas das televisões públicas nos 27 países da União Europeia. E chegou à conclusão que o serviço público de tv em Portugal custa por ano a cada habitante 21,29 euros, somando a dotação orçamental e a taxa de audiovisual. Ou seja, menos de metade do que pagam cipriotas, holandeses ou eslovenos e menos de um terço dos alemães, ingleses e finlandeses.

João Duque, “A Bem da Nação”

O uso da fórmula salazarista pelo conselheiro de Passos Coelho terá sido um deslize freudiano?

Miguel Portas: "Só nos saem duques!"

"Só nos saem duques!", desabafou Miguel Portas no programa Conselho Superior da Antena Um sobre o relatório da comissão do serviço público para a comunicação social, que traz no bojo “uma catástrofe” para as televisões e para os meios de informação em geral.

Telespectadores espanhóis pedem regresso moderado da publicidade à TVE

A Associação de Usuários de Comunicação exige um modelo sustentável que garanta a qualidade, a independência e o pluralismo da RTVE. Os telespectadores contestam os cortes anunciados pelo Governo de Mariano Rajoy e querem rever a medida de Zapatero, que retirou a publicidade ao canal público de TV.