Maria J. Paixão

Maria J. Paixão

Assistente Convidada na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e Investigadora na área do Direito do Clima. Ativista pela Justiça Climática junto de vários movimentos sociais

Não deixa de ser curioso que, enquanto se discutem medidas de contenção do uso dos telemóveis nas escolas, se planeie a digitalização extensiva do ensino.

A Constituição aprovada a 2 de abril de 1976 constitui, como, aliás, todas as suas congéneres, um pacto social. O texto da Lei Fundamental é produto das tensões entre as forças político-sociais que se afirmaram no período de dois anos que mediou entre a Revolução de Abril e o término dos trabalhos da Assembleia Constituinte.

Desde outubro de 2023, foram assassinadas mais de 17.000 crianças palestinianas, mais do que o número de crianças mortas em todo o mundo noutros conflitos durante 4 anos. Este número agonizante traduz-se na morte de uma criança a cada 45 minutos.

A comunidade científica tem alertado, há décadas, para o passo acelerado a que nos encaminhamos para o colapso do sistema climático e para os respetivos impactos sobre as sociedades humanas.

A resistência à raiva destrutiva e ao ímpeto autoritário da extrema-direita só pode nascer, portanto, do resgate daquele Sonho perdido.

O Estado de Direito e a democracia liberal sucumbem por todo o lado numa Europa que continua alegremente a afogar-se na sua própria ilusão.

A invasão da Ucrânia gerou a onda de choque que gerou precisamente porque rompeu com a ordem estabelecida, assente na recusa das disputas territoriais diretas entre Estados do mundo "desenvolvido". Poderá inclusive dizer-se que o colonialismo puro e duro nunca desapareceu por completo.

Pese embora tudo o que lhe devemos, também a Escola Pública, a par do Sistema Nacional de Saúde, se encontra sob ameaça existencial. A mais recente manifestação desta ameaça reside no processo de digitalização estouvada do ensino.

Além da re-militarização do continente, a Comissão Europeia desencadeou também um processo obscuro de reversão da legislação climático-ambiental vigente.

Há uma ironia preocupante na forma como o aprofundamento da guerra fria tecnológica culminou numa inversão dos dados do problema: a IA, que começou por suscitar receios generalizados, é hoje propagandeada como bala de prata para todos os problemas da Humanidade.