Se quer combater com bravura a agenda da extrema-direita, a esquerda não pode cair nas armadilhas do punitivismo nem da securitização. Tem de se bater pela excecionalidade da pena de prisão no sistema de execução de penas e pela transformação das prisões em unidades de reinserção social efetiva.
Um olhar atento sobre os factos mostra como governos que se inflamam na defesa retórica da ordem internacional fundada em regras frequentemente violam as regras mais elementares dessa ordem.
Para que serve o Direito Internacional – desde a Carta das Nações Unidas às resoluções do Conselho de Segurança – diante da brutalidade incontida de um agressor apostado na punição coletiva de um povo e na sua subjugação colonial?
Segundo Galtung, estudar a paz não se faz na distância assética entre o investigador e a realidade, é sim a produção de um conhecimento comprometido com a transformação da realidade das violências.
Numa democracia não capturada pelos poderosos, a ação política é a imposição de regras iguais para todos e isso é o contrário dos regimes de favor que beneficiam os mesmos de sempre.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa tecem hinos e louvores à organização de um campeonato do mundo de futebol que envolve um Estado (Marrocos) que ocupa ilegalmente o território do Sara Ocidental.
O apoio do Governo português ao plano marroquino, como “proposta realista, séria e credível”, sem mencionar a autodeterminação do povo sarauí, é um gesto de abdicação e profunda incoerência.
É por causa da emancipação que a esquerda se bate pela paz e não por um imperativo moral de que qualquer paz é sempre superior a qualquer guerra. O desafio atual é o de resgatar esse sentido emancipatório e de crítica radical num grande movimento internacionalista pela paz.
Onde se exigia arrependimento pelo pecado coletivo, houve retórica de advogado de defesa; onde se exigia coerência com a crítica ao relativismo, houve relativismo acrítico.