O semanário Expresso revelou esta quinta-feira que o terceiro detido nos distúrbios da extrema-direita no 25 de Abril junto na baixa lisboeta é João Vaz, o guarda prisional condenado em 2022 a seis meses de prisão com pena suspensa no chamado processo dos hammerskins.
Foi precisamente João Vaz que involuntariamente deu início a essa investigação da Polícia Judiciária, na sequência das agressões a poucos metros do local onde foi agora preso e que provocaram lesões cerebrais graves a um militante do PCP à saída de um comício no Coliseu dos Recreios em 2015. O guarda prisional deixou cair a carteira com os documentos na fuga do grupo da extrema-direita, onde se encontrava o cartão de guarda prisional. Mas o testemunho da vítima em tribunal afastou a sua participação na agressões, acabando este por lhe aplicar a pena mais leve entre os 22 condenados, por detenção de arma proibida. O caso levou a julgamento 27 arguidos por crimes de ódio racial e sexual, ofensas corporais, incitamento à violência, tentativa de homicídio, tráfico de droga e posse de arma proibida. Entre eles estavam dois condenados por participação nas agressões que levaram à morte de Alcindo Monteiro em 1995.
Na altura dos factos e da posterior condenação, o atual militante do Ergue-te nem sequer foi suspenso pela Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e segundo a SIC está agora ao serviço na prisão da Carregueira. Desta vez, a instituição disse à agência Lusa que já corre um processo disciplinar na sequência da comunicação da sua detenção, “uma vez que perfilhar uma determinada ideologia, fora do contexto profissional, não constitui só por si matéria suscetível de procedimento disciplinar”. João Vaz viu a sua primeira audiência junto do juiz ser adiada por causa do apagão, mas ficará suspenso do serviço preventivamente durante 90 dias. Desta vez foi detido antes do início das agressões do grupo neonazi, ao tentar impedir a detenção do líder do Ergue-te por desobedecer à ordem policial de dispersão da concentração inicialmente convocada para o Martim Moniz.
MP abre inquérito às agressões
O diário Público noticia esta quarta-feira que o Ministério Público abriu um inquérito às agressões do grupo neonazi no Largo de São Domingos e que as polícias estão a passar a pente fino as imagens recolhidas pelas próprias polícias e pelos órgãos de comunicação social que estavam em reportagem no local. O objetivo será identificar os agressores, mas também as vítimas das agressões.
A polícia já terá identificado alguns dos agressores, entre os quais um adolescente com 13 anos, mas também o homem que as imagens mostraram ter iniciado a violência, infiltrando-se no grupo antifascista e atacando pelas costas várias pessoas. Trata-se de Jorge Bento, membro do grupo 1143 liderado por Mário Machado. Este também foi detido, mas isso não o obriga a começar a cumprir a pena de prisão a que foi condenado por discriminação e incitamento ao ódio nas redes sociais, pois os crimes agora em causa têm moldura penal inferior a cinco anos. O prazo para se entregar na cadeia ainda decorre, mas a única certeza é de que caso vá para o Estabelecimento Prisional da Carregueira não irá receber as boas-vindas do guarda prisional hammerskin agora suspenso de funções.