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“Tempo de mudança real”, Labour lança manifesto eleitoral radical

Jeremy Corbyn quer um “blitz de investimento público” financiado através do aumento dos impostos dos mais ricos e combate às alterações climáticas pago pelas empresas de combustíveis fósseis. Nacionalizações, banda larga grátis, um milhão de casas a custos controlados e de empregos climáticos são outras propostas.
"É tempo de mudança real". Manifesto do Labour para as eleições britânicas. Novembro de 2019.
"É tempo de mudança real". Manifesto do Labour para as eleições britânicas. Novembro de 2019.

“O mais radical, esperançoso, focado no povo, completamente financiado plano dos tempos modernos.” Não se pode dizer que o manifesto eleitoral do Labour se apresente de forma modesta. Mas a ousadia conseguiu já captar atenções e polarizar o debate.

“É tempo de mudança real” é um manifesto que afirma querer “reescrever as regras da economia de forma a que trabalhe para todos – não apenas para os bilionários” ao mesmo tempo que procura colocar no centro das atenções o enfrentar da emergência climática.

E a ousadia não é apenas das fórmulas. É também das propostas. O Labour promete renacionalizar a ferrovia, os correios, a água e a energia, criar um milhão de casas “a preços genuinamente acessíveis” e um milhão de empregos climáticos. Para o partido, o aumento do investimento público deverá ser financiado por um aumento de impostos para as grandes empresas e indivíduos mais ricos.

O aumento do investimento no Serviço Nacional de Saúde, a revogação do aumento da idade da reforma da função pública e a introdução de reformas antecipadas para trabalhos mais duros, a criação de um salário real mínimo de 10 libras por hora (11,66 euros) e o aumento salarial de 5% na função pública, o restabelecimento das três mil carreiras de autocarro cortadas no país, banda larga livre para todos, um plano de educação de adultos, a diminuição do número de alunos por turma, o aumento do prazo de pagamento de licença de maternidade para um ano, um sistema de cuidados pessoais ao domicílio para pessoas carenciadas com mais de 65 anos, acabar com as propinas e a redução da idade legal para votar para os 16 anos são outras medidas simbólicas propostas.

As metas da “transformação verde” preconizada pelo partido são igualmente ambiciosas: quer-se um país que atinja zero emissões de carbono nos anos 2030. Para o fazer pretende-se criar “um fundo de transição justa” pago pelas grandes empresas poluidoras que permita que os custos sociais das mudanças necessárias não recaiam sobre os trabalhadores.

No texto, o Labour também apresenta as suas propostas sobre o Brexit. Pretende-se renegociar o acordo, incorporar nele uma relação próxima com a União Europeia e depois submetê-lo a um referendo “vinculativo legalmente”. Já sobre a independência da Escócia o manifesto é menos claro limitando-se a dizer que um governo trabalhista não iria conceder permissão a um referendo nos seus “anos iniciais”.

O “custo de Corbyn”

As propostas do Labour deslocaram o debate político para a questão do seu financiamento.

Antecipando as críticas, o partido trabalhista publicou um “livro cinzento”, como separata do seu manifesto eleitoral. Aí, faz as contas aos custos de cada uma das suas propostas programáticas e justifica as fontes de financiamento. Para além dos impostos sobre os mais ricos e sobre as empresas poluidoras, o partido de Corbyn propõe um imposto sobre transações financeiras como a venda de ações e sobre os lucros.

Do lado contrário, os conservadores acusam o Labour de prometer tudo sem garantir verbas suficientes. Para isso, procuram popularizar na internet a hastag #CostOfCorbyn, o custo de Corbyn.

A ação na internet dos Tories tem sido alvo de críticas. Para o debate televisivo entre os dois líderes dos partidos britânicos mais votados, os conservadores transformaram uma das suas contas no Twitter para parecer que era um serviço de “factchecking”, gerando acusações de estarem a tentar iludir as pessoas.

Agora, depois do lançamento do programa eleitoral trabalhista, uma nova iniciativa polémica se seguiu: o partido lançou um site para atacar as propostas de Corbyn mascarado a partir do nome Labourmanifesto.co.uk, ou seja de um site a que as pessoas poderiam estar a aceder pensando ser o oficial.

O site que usa até a cor vermelha típica dos trabalhistas foi apenas registado há três dias e serve afinal para passar mensagens como “nenhum plano para o Brexit. Impostos mais altos. Mais dois referendos.”

Segundo o jornal Guardian, os conservadores foram ao ponto de pagar um anúncio à Google para que a sua página surgisse acima nas pesquisas que tivessem as palavras Labour ou manifesto.

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